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Terça, 26 de agosto de 2025

China de Xi assume seu lado União Soviética em desfile inédito

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A China de Xi Jinping viveu seu dia de União Soviética nesta terça (1º), quando promoveu o mais vistoso desfile militar de sua história para celebrar os 70 anos da fundação do moderno Estado comunista.

Após anos apostando em "soft power" e no poderio de sua economia, que deixou um estágio quase medieval nos anos 1940 para chegar ao posto de segunda maior potência do mundo,  a ditadura desta vez resolveu fazer um show de militarismo enquanto a crise com os protestos em Hong Kong recrudescia.

Desfiles semelhantes anteriores sempre tiveram esse caráter, mas duas coisas diferenciaram o show desta terça: o escopo e o tipo das armas demonstradas. O Exército de Libertação Popular, como as Forças Armadas chinesas são chamadas, colocou mais de 160 aeronaves e 580 armamentos diferentes nas ruas de Pequim.

Nada menos que um terço de sua força de mísseis balísticos intercontinentais foi colocada em parada, segundo observadores militares, e um novo modelo destinado a assustar os rivais em Washington fez sua estreia pública: o DF-41.

É um tipo de míssil que só a Rússia, entre os adversários dos EUA, tinha até aqui. É lançado de bases móveis, dificultando sua detecção e anulação em caso de ataque retaliatório, e pode ter um alcance estimado em até 15 mil quilômetros. Com isso, pode atingir qualquer alvo nos EUA, e não apenas a costa oeste do país, como as armas atuais permitem.

Com dez ogivas nucleares independentes, triplica a capacidade de alvos possíveis do atual DF-31. Junto ao DF-41 estava o DF-17, um planador hipersônico que integra o que se convencionou chamar de armas do futuro.

Trata-se de um veículo lançado por um míssil balístico normal, mas que se desprende a altitudes menores do que as ogivas nucleares convencionais. Mais que isso, ele pode manobrar a velocidades 20 vezes mais rápidas que o som, tornando sua interceptação quase impossível.

É o tipo de arma que a Rússia de Vladimir Putin tem propagandeado à exaustão nos dois últimos anos, e é consenso que os EUA estão atrás nesta corrida específica ante os rivais.

Naturalmente, nada disso faz a China uma potência militar mais capaz que os EUA, que de longe são o único país capaz de projetar seu poder mundo afora. Mesmo na área nuclear, Pequim tem estimadas 300 ogivas, ante 1.750 ativas e 3.800 estocadas pelos americanos. Russos têm 1.600 ativas e 4.330 em estoque, segundo a Federação dos Cientistas Americanos.

Mas indica uma nova postura. Na área naval, os chineses estão construindo três porta-aviões e desenvolvendo drones supersônicos, estes exibidos nesta terça em Pequim. As aeronaves não tripuladas servem para ajudar a localizar alvos no Pacífico, à distância, facilitando a vida de armas como o DF-17.

O oceano é apontado por analistas como o palco onde, talvez num futuro não tão distante, EUA e China se enfrentem de fato -há quem tema uma aliança hoje embrionária entre Moscou e Pequim nesse embate. Os chineses estão militarizando ilhotas no mar do Sul da China, área que clama para si, e os americanos contestam isso.

A "sovietização", por assim dizer, do estilo Xi não ficou só nas ruas. O líder completou o movimento de 2017, quando ganhou o direito à reeleição sem limites e teve sua doutrina de afirmação nacional incrustada na Constituição chinesa, dando um caráter personalista ao regime que havia sido diluído pelo revolucionário Deng Xiaoping (1904-97), o pai do modelo chinês de capitalismo em uma ditadura comunista.

Simbolicamente, na abertura do desfile, Xi abandonou o tradicional uso de ternos ao estilo ocidental e envergou uma túnica ao estilo dos líderes chineses da era do pai da nação, Mao Tsé-Tung. Tudo completo com uma enorme foto sua levada em parada durante o desfile, no melhor estilo Josef Stálin (ditador soviético morto em 1953). (Igor Gielow/FolhaPress SNG)