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Nada pode abalar a China, afirma Xi Jinping no 70º aniversário do regime

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Milhares de soldados marcharam em Pequim, capital da China, nesta terça feira (1º), em comemoração aos 70 anos da revolução que deu origem ao atual regime chinês.

Após desfilar em carro aberto em revista às tropas, o dirigente chinês, Xi Jinping, discursou na porta da praça da Paz Celestial, mesmo local onde Mao Tsé-Tung (1893-1976) proclamou a fundação da República Popular da China, em 1º de outubro de 1949.

"Nada pode fazer com que os pilares da nossa grande nação sejam abalados. Nada pode impedir que a nação e o povo chineses avancem", declarou, em mensagem sutil aos Estados Unidos, com quem o país trava guerra comercial.

Além do pronunciamento, houve uma marcha protagonizada por 100 mil pessoas, 70 mil pombos e 70 mil balões —em alusão ao número de anos do regime.

A atração principal foi a parada militar com cerca de 15 mil homens, 160 aviões e dezenas de mísseis balísticos, uma forma de exibir ao mundo a China como superpotência global.

O evento ainda serviu para Pequim apresentar o melhor de seus mísseis balísticos intercontinentais: o DF-41 ("Vento do Leste-41"), que pode ser carregado com dez ogivas nucleares independentes e tem alcance de até 15 mil quilômetros.

Na costa sul do país, em Hong Kong, a China continental também reforçou a presença militar, mas temendo protestos pró-democracia que ofuscassem a monumental comemoração em Pequim.

Em seu discurso, assistido por milhares de pessoas, Xi havia colocado panos quentes na crise com a ex-colônia britânica.

“Avançando para o futuro, precisamos manter nosso compromisso com a promessa de reunificação pacífica e de ‘um país, dois sistemas’”, disse, referindo-se ao acordo firmado com o Reino Unido à época da devolução do território à China.

O arranjo garante liberdade de expressão, acesso sem restrições à internet e independência judicial a Hong Kong—direitos que não são compartilhados com os cidadãos da China continental.

Parte dos honcongueses parece discordar, no entanto, da ideia de que o regime tem respeitado esse princípio. Desde que chegou ao poder, em 2013, Xi vem gradualmente aumentando a repressão do regime sobre minorias e minando a independência de Hong Kong.

Enquanto Pequim celebrava o aniversário do regime, Hong Kong teve um dos dias mais violentos desde que os protestos pró-democracia ganharam fôlego —a cidade virou um cenário de batalha.

Manifestantes fizeram barricadas nas ruas, atearam fogo em pilhas de papelão, atiraram tijolos e coquetéis molotov contra os agentes e queimaram a bandeira chinesa, além de zombarem dos policiais. Também foram espalhados feijões no asfalto, para dificultar o avanço das forças de segurança.

Os guardas responderam com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água. Houve prisões e ao menos 51 feridos foram hospitalizados. Dois deles estão em estado grave.

As manifestações e a crise começaram em junho, quando o governo local propôs um projeto de lei, apoiado por Pequim, que autorizava a extradição de suspeitos para serem julgados pelos tribunais controlados pelo Partido Comunista na China continental.

A violenta repressão da polícia acabou por inflamar as manifestações, que continuaram mesmo após a chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, retirar a proposta no início de setembro —a decisão foi vista como o maior recuo do governo de Xi.

Nos últimos meses, o movimento adotou uma ampla agenda pró-democracia, incluindo a realização de uma reforma política que implantaria eleições diretas no território, a investigação de abusos por parte da polícia e a libertação de manifestantes presos.

Em uma tentativa de controlar a narrativa sobre a crise em Hong Kong, o Partido Comunista tem adotado o discurso oficial de que os manifestantes são terroristas.

A orientação dada à mídia chinesa pelo Partido Comunista é que sejam divulgados conteúdos que priorizem a “energia positiva” das comemorações em detrimento de notícias negativas —incluindo acidentes e desastres naturais.

Em Pequim, como parte de uma investida “paz e amor”, imagens e mensagens patrióticas que elogiam o Partido Comunista têm sido projetadas nos arranha-céus da cidade.

A praça da Paz Celestial, onde ocorrem as festividades, foi palco do maior movimento de insurgência contra o regime. A repressão de estudantes que lideravam protestos a favor da democracia e contra a corrupção em 4 de junho de 1989 deixou centenas ou até milhares de vítimas, que se manifestavam havia semanas. A China nunca divulgou um número oficial de mortos.(FolhaPress SNG)

A CHINA COMUNISTA

1945

Japão se rende e desocupa a China. Guerra civil entre nacionalistas e comunistas é retomada

1º.out.1949

Líder comunista Mao Tsé-Tung proclama a República Popular da China. Nacionalistas fogem para Taiwan

1958

Mao lança o Grande Salto Para a Frente, para industrializar o país. O plano falha e mais de 20 milhões morrem de fome

1966

Mao cria a Revolução Cultural, para tentar apagar o passado chinês. Há forte perseguição a opositores

1972

Richard Nixon visita a China para marcar a retomada das relações com os EUA

1976

Morre Mao, aos 82 anos

1978

Deng Xiaoping assume o comando e inicia reformas econômicas, que liberam investimentos estrangeiros e práticas capitalistas em algumas regiões

1989

Protestos pró-democracia são duramente sufocados, e momento fica conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial

1993

Morre Xiaoping. Jiang Zemin (1993-2003) e Hu Jintao (2003-2012) foram os dirigentes seguintes

2011

China se torna a 2ª maior economia do mundo

2012

Xi Jinping é escolhido dirigente. Em 2018, limite de mandatos é abolido, e ele poderá ficar no cargo indefinidamente