O protagonista do debate entre os dez principais candidatos à indicação presidencial do Partido Democrata, nesta quinta-feira (12), não estava no palco. Barack Obama e o modelo de assistência médica que implantou durante sua Presidência dominaram a discussão realizada em Houston, no Texas. E, como era de se esperar, o legado do ex-mandatário americano foi amplamente defendido.
Vice de Obama durante os dois mandatos do democrata, Joe Biden, favorito na disputa até aqui, disse que vai se basear no programa de saúde Obamacare em oposição ao Medicare para Todos, modelo defendido por Elizabeth Warren e Bernie Sanders.
Segundo a proposta, o programa seria administrado pelo governo e extinguiria alternativas privadas.
Biden procurou se vincular a Obama diversas vezes, protegendo o Obamacare, e atacou o plano de financiamento do projeto adversário. "Como pagaríamos por isso? Eu quero ouvir isso hoje à noite."
Ainda que Warren, principal adversária de Biden, tenha elogiado os esforços de Obama na área da saúde, a senadora de Massachusetts defende que o Medicare para Todos tributaria mais os mais ricos e menos a classe média.
Ao responder, Biden disse que seu plano daria aos americanos mais opções, incluindo permanecer com seus planos de saúde -caso queiram. "Nunca conheci alguém que goste de companhias de seguros de saúde", retrucou a candidata.
Analistas estimam que o plano defendido por Warren e Sanders custaria US$ 32 trilhões (R$ 130 trilhões) em uma década. Segundo a Bloomberg, o governo americano gastou, apenas em 2017, US$ 3,5 trilhões (R$ 14,2 trilhões) em cuidados de saúde e deve gastar US$ 47 trilhões (R$ 190 trilhões) de 2018 a 2027.
Líder nas pesquisas, Biden era a vidraça do debate que, pela primeira vez, colocou-o frente a frente com Warren, segunda colocada nos levantamentos.
Julián Castro, ex-secretário de habitação e desenvolvimento urbano de Obama, foi um dos participantes mais incisivos ao criticar o ex-vice-presidente.
Castro acusou Biden de se ligar ao ex-presidente quando era conveniente e de se afastar quando não.
"Ele [Barack Obama] queria que todas as pessoas deste país fossem cobertas [pelo programa de saúde]. Meu plano faria isso, o seu plano, não", disse Castro, outro defensor do Medicare para Todos.
Em determinado momento, Castro, 44, acusou Biden, 76, de "esquecer o que ele acabara de dizer há dois minutos". O comentário, aparentemente destinado à idade de Biden, provocou risos na plateia e levou o candidato Pete Buttigieg a pedir civilidade.
"É por isso que os debates presidenciais estão se tornando desagradáveis", disse Buttigieg. "Eles lembram a todos do que eles não suportam sobre Washington. Marcar pontos em cima do outro, cutucar um ao outro".
Castro desprezou o comentário. "Isso se chama eleição. É por isso que estamos aqui, é uma eleição", disse.
Embora os candidatos tenham tido uma discussão acalorada sobre cuidados de saúde nos primeiros 40 minutos do debate, muitos deles enfatizaram a importância de permanecerem juntos como democratas, dizendo que lutar um contra o outro seria facilitar para Trump.
Uma das frases mais expressivas do debate veio do empresário e candidato Beto O'Rourke quando perguntado sobre a política para armas de fogo nos EUA.
O'Rourke defende que proprietários de armas sejam obrigados a vendê-las ao Estado, em contraponto a sugestões para que a ação seja voluntária ou que nem chegue a existir.
"Nós vamos pegar seu AR-15 e seu AK-47. Não vamos mais permitir que sejam usados contra nossos companheiros americanos", disse.
"Se a arma foi projetada para matar pessoas em um campo de batalha, se o alto impacto, a alta velocidade, quando atingem seu corpo, destroem tudo dentro dele porque ela foi projetada para que você sangre até a morte em um campo de batalha e não seja capaz de se levantar e matar um de nossos soldados", disse ao justificar o apoio a uma política mais dura.
Duas horas antes do início do evento, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apostou que Biden será o candidato democrata nas próximas eleições presidenciais.
"Acredito que Biden chegará lá se não cometer qualquer erro grave", disse a jornalistas.