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Em promessa eleitoral, Netanyahu diz que anexará parte da Cisjordânia

reprodução redes sociais -
Netanyahu
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Em anúncio com tom de propaganda eleitoral, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta terça (10) que pretende anexar o vale do rio Jordão, na Cisjordânia, a Israel, caso vença as próximas eleições, marcadas para terça (17).

A proposta daria ao país "fronteiras permanentes e seguras" pela primeira vez na história, segundo o premiê, mas também poderia causar problemas com vizinhos árabes, já que reduziria o território palestino a um enclave cercado por terras israelenses.

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Netanyahu (Foto: reprodução redes sociais)

"Hoje, declaro minha intenção, após a formação de um novo governo, de aplicar a soberania israelense ao vale do rio Jordão e à região ao norte do mar Morto", disse Bibi, como é conhecido, em um discurso transmitido pela TV.

As áreas que seriam incorporadas já são ocupadas por assentamentos israelenses.

Essas colônias judaicas, situadas em território disputado com os palestinos, fazem parte de uma política de Estado para expandir as fronteiras de Israel --e constituem um dos pontos mais polêmicos das negociações de paz.

A proposta foi vista internamente como uma tentativa de Netanyahu de ganhar o apoio de partidos mais à direita no pleito, o segundo neste ano, cujas pesquisas mostram o Likud, legenda do primeiro-ministro, na disputa da liderança com o centrista Azul e Branco, liderado pelo ex-chefe do Exército Benny Gantz.

Após vencer a última eleição, em abril, Netanyahu negociou com outras siglas a formação de um governo. As conversas, porém, fracassaram, e ele foi obrigado a convocar uma nova votação.

Durante a campanha eleitoral anterior, Bibi já havia prometido anexar parte dos territórios onde ficam as colônias israelenses na Cisjordânia. O premiê então repete a estratégia que deu a sua legenda a vitória meses atrás: mudar o foco da eleição das denúncias de corrupção contra ele para a área de segurança nacional.

Desta vez, porém, a proposta englobaria uma área maior. Netanyahu afirmou que o plano de paz elaborado pela gestão do presidente dos EUA, Donald Trump, para a região forneceria "oportunidade histórica" para a anexação da Cisjordânia e de outras áreas.

O presidente americano promete, desde que assumiu o cargo, apresentar um plano para resolver o conflito israelense-palestino. Segundo o premiê, o documento será divulgado dias após a conclusão do pleito em Israel.

Já a anexação, de acordo com Bibi, ocorreria depois do anúncio da proposta americana e de consultas com Trump.

Em sua apresentação, Netanyahu exibiu um mapa com marcações de como ficaria o território. Segundo o jornal britânico The Guardian, Israel tomaria quase todo o vale, o equivalente a um terço de todo o território palestino.

"Este mapa define nossa fronteira oriental. Não temos esse tipo de oportunidade desde a Guerra dos Seis Dias [em 1967], e podemos não tê-la novamente por mais 50 anos."

O vale do rio Jordão vai do Mar Morto até a cidade israelense de Beit Shean. Os palestinos defendem que a margem do rio seja oficializada como fronteira, caso um acordo de paz que permita a eles criar um Estado seja alcançado.

Já Israel diz que, mesmo em caso de um acordo, militares permanecerão no território.

A região foi tomada por Israel durante o conflito em 1967, mas a maior parte da comunidade internacional considera a presença israelense ilegal.

O anúncio despertou reação imediata. O primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina, Mohammad Shtayyeh, afirmou, em comunicado, que Netanyahu é "o primeiro destruidor do processo de paz".

Um dos principais negociadores palestinos, Saeb Erekat também criticou a proposta e disse que o plano "queimaria todas as chances de paz entre palestinos e israelenses".

A Liga Árabe também condenou a proposta e disse em comunicado que ela acaba com as chances de paz. Segundo a agência de notícias Reuters, cerca de 65 mil palestinos e 11 mil colonos israelenses vivem na região que Netanyahu quer anexar.

As tensões entre Israel e Líbano, vizinho ao norte, também se acirraram nas últimas semanas. Na segunda (9), o Hizbullah anunciou a derrubada de drone israelense que entrou no espaço aéreo libanês. A milícia libanesa disse que quer respeitar a trégua nas hostilidades com Israel, estabelecida pela ONU após uma guerra devastadora em 2006, mas que responderá "adequadamente" aos ataques que sofrer, segundo o líder Hassan Nasrallah.

"Para que ninguém se preocupe, tenha medo ou se questione (...) o Líbano respeita a 1.701 [resolução da ONU sobre a cessação das hostilidades], e o Hizbullah faz parte do governo libanês", disse Nasrallah.

"Mas será diferente se Israel atacar o Líbano, bombardear ou enviar drones explosivos", alertou em discurso transmitido em telões gigantes a milhares de apoiadores reunidos no sul de Beirute, durante a comemoração religiosa Ashura.

A escalada da violência nas últimas semanas com Israel começou quando dois membros do Hizbullah foram mortos em um bombardeio israelense em 24 de agosto.

Um dia depois, houve um ataque com drones na periferia sul de Beirute, reduto do Hizbullah, atribuído a Israel, e o movimento xiita ameaçou abater todos os drones israelenses que entrassem no território libanês.

Posteriormente, em 1º de setembro, houve uma troca de tiros entre forças do Hizbullah e de Israel na fronteira.

Importante ator da política libanesa, o Hizbullah é considerado um grupo terrorista por Israel e pelos EUA. Militarmente, é aliado do Irã e do regime de Damasco na Síria, onde suas posições são alvos de ataques israelenses.

"Rejeitamos qualquer projeto de guerra contra a República Islâmica do Irã, porque essa guerra irá inflamar a região e destruir países e povos", disse Nasrallah nesta terça.

Israel e Hizbullah se enfrentaram pela última vez em 2006, em uma guerra que devastou o Líbano e deixou mais de 1.200 mortos do lado libanês, a maioria deles civis, e 160 em Israel, principalmente militares.