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Ao Congresso, Mueller não revela detalhes da investigação sobre interferência russa

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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Sob pressão de democratas e republicanos, o ex-procurador especial Robert Mueller foi ao Congresso nesta quarta-feira (24) responder pela primeira vez a perguntas sobre a investigação da interferência russa nas eleições americanas de 2016, mas não foi além do que já havia sido divulgado no seu relatório de 448 páginas.

Aposentado de seu cargo no governo dos EUA há pouco mais de um mês, Mueller voltou a dizer que não inocentou Donald Trump de ter cometido obstrução de Justiça, mas que não poderia acusar o presidente enquanto ele ainda estivesse no cargo -acrescentando, porém, que o faria quando Trump deixasse a Casa Branca.

"As conclusões indicam que o presidente não foi inocentado pelos atos que supostamente cometeu", afirmou o ex-procurador durante sessão de quase quatro horas na Comissão de Justiça da Câmara.

Questionado pelo deputado republicano Ken Buck, do Colorado, se acreditava que Trump cometera crime e se poderia acusá-lo de obstrução de Justiça após o presidente deixar o posto, Mueller respondeu que sim.

A estratégia aparentemente falha do republicano acabou servindo aos democratas, que buscavam elementos para alimentar o desgaste contra Trump.

Divulgado em abril, o relatório de Mueller concluiu que não houve conspiração do presidente e de integrantes de sua campanha com a Rússia para interferir na eleição americana, mas não isentou Trump de ter cometido obstrução de Justiça. 

Desde então, democratas tentam, sem sucesso, avançar sobre os detalhes do possível crime cometido pelo presidente, enquanto Trump ecoa que foi totalmente inocentado por Mueller.

Durante toda a manhã desta quarta, o presidente postava mensagens em suas redes sociais reforçando o discurso de que não houve conspiração, nem obstrução da sua parte -mesmo com as declarações do ex-procurador de que ele não havia sido inocentado.

Após o depoimento à Comissão de Justiça, que focou o debate sobre a eventual obstrução, Mueller seguiu para a Comissão de Inteligência, que se debruçou nas questões relativas à interferência russa na eleição.

Nervoso no início da primeira audiência, Mueller classificou seu depoimento ao Congresso como desnecessário, disse que era incomum um procurador ser interrogado sobre suas apurações e, sob juramento, disse mais uma vez que se manteria dentro dos limites de seu relatório.

"O relatório é meu testemunho e vou me ater a ele."

O aviso era esperado pelos parlamentares, mas frustrou planos tanto de democratas como de republicanos.

A oposição a Trump tentava fazer com que Mueller fosse mais assertivo sobre o presidente ter cometido o crime de obstrução de Justiça, em uma tentativa de dar fôlego à possível abertura de um processo de impeachment contra ele. Já republicanos queriam mostrar que as investigações do procurador estava contaminadas contra Trump.

O ex-procurador, por sua vez, tentava responder diversos questionamentos apenas com "sim" ou "não" e disse que não comentaria o tema quando foi perguntado diretamente sobre a possibilidade de o Congresso dar encaminhamento ao impeachment.

Em maio, o ex-procurador deu sua primeira declaração púbica, porém sem responder a perguntas sobre as investigações. 

Na ocasião, disse que não poderia processar Trump, porque a lei americana proíbe que isso seja feito enquanto o presidente estiver no cargo, e que a Constituição previa outro tipo de procedimento neste caso -o que foi encarado como uma referência à eventual abertura de um processo de impeachment pelo Congresso.

Os democratas se dividem sobre como dar andamento no assunto. Enquanto a ala mais progressista pede o impeachment, lideranças importantes e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, são mais reticentes e avaliam que o custo eleitoral para o partido pode ser muito grande.

Desde o início da semana, não havia expectativa em Washington de que Mueller fizesse novas revelações sobre a investigação, e o Departamento de Justiça orientou o ex-funcionário, via carta, a não responder a uma grande quantidade de perguntas, justamente para não ir além da versão pública de seu relatório.

Segundo o Departamento de Justiça, o texto foi uma resposta a um pedido do próprio Mueller por instruções. A carta dizia que o ex-procurador não deveria comentar informações que foram editadas de seu relatório por conterem, por exemplo, dados que ainda estão sendo utilizados em outros processos em curso, o que foi cumprido por ele.

Na terça-feira (23), Mueller fez ainda um pedido incomum e reivindicou que seu braço-direito, Aaron Zebley, estivesse ao seu lado para auxiliá-lo diante das perguntas dos congressistas. 

Era uma estratégia para dividir atenções -e o tempo de resposta- durante as audiências, mas os parlamentares aprovaram somente que o assessor o orientasse quando necessário, sem responder a qualquer questionamento.

Aliados lembravam ainda que o ex-procurador havia dito no fim de maio que o relatório era seu testemunho e que o trabalho "falava por si só."

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