SAN JUAN, PORTO RICO, E MIAMI, EUA (FOLHAPRESS) - Centenas de milhares de pessoas marcharam nesta segunda-feira (22) para pedir a renúncia do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló, no décimo dia de protestos pelo escândalo chamado "chatgate".
No domingo, Rosselló anunciou que desistiria de buscar a reeleição nas eleições de 2020 e que deixaria a liderança de seu partido, mas se recusou a deixar o cargo.
Os manifestantes ocuparam desde a manhã a via expressa Las Américas -principal avenida de San Juan-, na maior manifestação contra Rosselló desde que começaram os protestos, há dez dias.
"Não é suficiente. Deve entregar o poder a novos líderes", afirmou Isham Rodríguez, 46, batendo em uma panela durante a passeata.
O presidente americano, Donald Trump, aproveitou a oportunidade de criticar o governador, com quem já tinha se enfrentado verbalmente porque questionava a gestão dos recursos federais disponibilizados por Washington para a recuperação do furacão María, em 2017.
"Eu sou o melhor que ocorreu a Porto Rico porque fizemos um grande trabalho", disse Trump na Casa Branca. "É um governador terrível."
Vários artistas porto-riquenhos participaram do ato nesta segunda, como os cantores Ricky Martin, Benito Martínez (Bad Bunny) e René Pérez (Residente). Martin agitava uma bandeira do movimento do orgulho gay.
Os protestos tiveram início após a divulgação de mensagens enviadas por Rosselló em chats privados nas quais fez críticas e piadas preconceituosas.
Nas conversas, feitas em um grupo fechado de 12 homens no aplicativo Telegram, ele ataca outros políticos, jornalistas e artistas do país, como Ricky Martin e Bad Bunny.
Os diálogos foram revelados no dia 13 pelo CPI (Centro de Jornalismo Investigativo) de Porto Rico, que teve acesso a 889 páginas de chat, nas quais políticos compartilham memes, piadas e xingamentos sexuais.
Em uma das mensagens, Rosselló se refere a um jornalista citando uma cena de sexo oral. Há também frases depreciando mulheres e obesos.
O governador também é criticado pela falta de ação durante a passagem do furacão María, que deixou mais de 4.000 mortos no território controlado pelos EUA, em 2017. Em uma mensagem vazada, ele faz piada sobre os cadáveres que se amontoavam nos necrotérios.
Rosselló é acusado ainda de desviar US$ 15 milhões (R$ 56 milhões) de fundos federais americanos destinados à recuperação da ilha após o furacão.
"Estou consciente da insatisfação e do mal-estar que sentem [em relação às mensagens]", disse Rosselló no domingo. "Cometi erros e sou um homem de bem que tem um grande amor pela ilha. Mas reconheço que desculpar-me não é suficiente."