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'Se tivéssemos clareza de que Trump não cometeu crime, teríamos dito', afirma procurador

Robert Mueller liderou as apurações finalizadas neste ano

REUTERS/Kevin Lamarque -
Robert Mueller, diretor do FBI
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O procurador especial Robert Mueller anunciou nesta quarta-feira (29) sua aposentadoria do Departamento de Justiça dos EUA em meio a fortes declarações sobre a possível obstrução de Justiça do presidente Donald Trump durante investigações da influência russa nas eleições americanas.

Mueller, que liderou as apurações finalizadas neste ano, disse não ter clareza de que Trump não cometeu crimes, mas afirmou não poder processar o presidente pois a lei no país não permite que isso seja feito com o líder no exercício do cargo. Ele sugeriu, porém, que a Constituição prevê outro procedimento neste caso -uma referência à eventual abertura de um processo de impeachment pelo Congresso.

O procurador disse ainda que não dará mais informações sobre as apurações aos parlamentares, pois nada que fale irá além de seu relatório de mais de 400 páginas, o qual chamou de "meu testemunho".

"Se nós tivéssemos confiança de que o presidente claramente não cometeu um crime, nós teríamos dito isso", afirmou Mueller diante de jornalistas nesta quarta.

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Robert Mueller, diretor do FBI (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

Esse foi o primeiro pronunciamento público do procurador especial desde que começaram as investigações, há mais de dois anos, e abre um novo capítulo sobre qual será o papel do Congresso diante da crise política que se instalou sobre a Casa Branca.

Integrantes do Partido Democrata, de oposição a Trump, discutem a possível abertura do processo de impeachment, mas a presidente da Câmara, Nancy Peloci, e outros líderes importantes do partido resistem em apoiar a ideia, pelo menos por enquanto.

Mueller é o centro de uma disputa entre o governo e os democratas, que pressionavam o procurador a depor sobre as apurações, além de divulgar a íntegra de seu relatório -uma versão editada do documento foi entregue a parlamentares em abril pelo secretário de Justiça dos EUA, William Barr, mas não agradou a Mueller.

Diante das investidas dos democratas, Trump disse que barraria todas as intimações da Câmara -de maioria oposicionista.

Indicado ao cargo pelo presidente, Barr afirmou em abril que discordava de teorias jurídicas usadas por Mueller ao analisar se o presidente obstruiu ou não a Justiça durante as investigações.

A equipe do procurador, por sua vez, avalia que a versão do relatório divulgada pelo secretário não traduz fielmente a interpretação de Mueller sobre os acontecimentos dos últimos anos, numa tentativa de aliviar a pressão sobre Trump às vésperas da corrida presidencial de 2020.

O presidente já postou em suas redes sociais nesta quarta uma resposta a Mueller dizendo que nada mudou e que o caso está encerrado.

Durante entrevista coletiva no mês passado, Barr afirmou que o procurador especial listou em seu relatório dez episódios que mostram autoridades policiais americanas lutando para fazer avançar as apurações contra Trump e seus aliados mas, segundo o secretário, esses fatos não constituíram obstrução "por uma questão de lei".

Desde então, o Partido Democrata trabalha para explorar principalmente as evidências de que Trump teria cometido obstrução de Justiça durante as investigações.

A equipe de Mueller concluiu que não houve conspiração da parte do presidente e de integrantes de sua campanha com a Rússia para interferir na disputa de três anos atrás -o que foi confirmado pelo procurador na coletiva desta quarta.

A questão de obstrução de Justiça, porém, causou discussões. Mueller indicou que a investigação não concluiu que o presidente cometeu crime, mas também não o isentou. Ele delegou a Barr a decisão final sobre o assunto e o secretário afirmou que realmente não era possível concluir que o presidente havia obstruído a Justiça.

2017

- Maio

Trump demite o diretor do FBI James Comey, menos de dois meses depois de ele anunciar uma investigação da agência federal sobre os laços entre a Rússia e a campanha presidencial do republicano. Robert Mueller é apontado como procurador especial, responsável por tocar a investigação

2018

- Novembro

Donald Trump demite o secretário de Justiça Jeff Sessions, que comandava o departamento responsável por cuidar da investigação

- Fevereiro

Robert Mueller indicia o ex-chefe da campanha de Trump, Paul Manafort. Ele viria a ser preso

2019

- Maio

Robert Mueller fala pela primeira vez publicamente sobre o relatório

- Abril

Versão editada do documento entregue ao Congresso afirma que não houve conspiração da campanha de Donald Trump com o Kremlin

- Março

Robert Mueller entrega ao secretário de Justiça, William Barr, relatório final sobre possível interferência russa

MARINA DIAS

Tags:

eua | justiça | Trump