A União Europeia (UE) decidiu nesta quarta-feira (10) que o Reino Unido pode permanecer no bloco até 31 de outubro deste ano, extensão que será reavaliada em junho, segundo a agência Reuters.
É a segunda vez que o consórcio de 27 países concede ao (ainda) 28º membro um adiamento do brexit, a saída britânica do consórcio.
Originalmente programada para 29 de março passado, ela havia sido postergada duas semanas atrás para 12 de abril, na pior das hipóteses.
Como essa nova data se aproximava sem o vislumbre de uma aprovação, pelo Parlamento britânico, do acordo de separação firmado entre a primeira-ministra Theresa May e a UE, a líder conservadora se viu obrigada a pedir uma nova prorrogação.
A chefe de governo mirava o dia 30 de junho como prazo-limite, o que pouparia Londres da obrigação de enviar deputados a Bruxelas para a nova legislatura do Parlamento Europeu, que começa em 1º de julho.
A eleição continental propriamente dita acontece entre 23 e 26 de maio (o dia exato varia segundo o país). Se o impasse entre Executivo e Legislativo britânicos não se resolver até lá e o Reino Unido ainda integrar a UE a essa altura, o país terá de realizar o pleito.
Justamente para que a crise londrina não contaminasse o processo eleitoral do bloco, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, havia sugerido na sexta (5) uma extensão de até um ano da filiação britânica.
Nesse cenário, May ou seu(sua) eventual substituto(a) poderia encerrar o vínculo assim que seus compatriotas dessem sinal verde ao acordo de "divórcio". As duas maiores forças da UE divergiram na reação à proposta de Tusk. A chanceler alemã, Angela Merkel, que prometeu nas últimas semanas trabalhar "até o último minuto" para evitar um brexit litigioso, sem acordo, indicou simpatia pela ideia de uma prorrogação longa. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou ceticismo em relação ao plano, argumentando que o Reino Unido poderia usar o tempo suplementar para sabotar internamente as instituições e projetos do bloco.
Segundo fontes diplomáticas citadas nas imprensas francesa e inglesa, Paris queria garantias de que Londres não usaria seu poder de veto em debates sobre o orçamento plurianual da UE, por exemplo.
O campo macronista também pretendia impor "testes de boa-fé" (ou "cooperação sincera") periódicos ao país vizinho.
Nos últimos dias, deputados britânicos partidários de uma ruptura a seco (o "no deal") disseram que, se Londres fosse forçada a aceitar uma prorrogação longa, deveria atuar no âmbito europeu como um cavalo de Troia, de alto poder desagregador. A discordância ficou clara no tom adotado por Merkel e Macron ao chegarem à sede do Conselho Europeu, em Bruxelas, para a cúpula de quarta.
"Devemos estar abertos ao pedido da primeira-ministra por uma extensão e recebê-lo de modo construtivo", afirmou a líder alemã. "Uma saída ordenada da Grã-Bretanha também é do interesse da UE."
Já o chefe de Estado francês disse que "nada estava decidido" de antemão, deixando em aberto a possibilidade de um rompimento duro entre as partes. "Temos um renascimento europeu para tocar, não quero que o brexit atravanque isso. Ouvirei Theresa May com muita impaciência."