A primeira-ministra britânica, Theresa May, lançou nesta segunda-feira (8) uma ofensiva diplomática para convencer seus sócios europeus a lhe darem mais tempo, enquanto busca outra forma de desfazer o impasse do Brexit em negociações com a oposição, que não parecem avançar.
Enquanto continuam em Londres os contatos entre Downing Street e o Partido Trabalhista da oposição, May viajará na terça-feira a Berlim e Paris para falar com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, na véspera de mais uma cúpula europeia dedicada ao Brexit.
Para May "é importante esclarecer as razões para o pedido (de uma nova prorrogação) tão amplamente quanto possível antes do Conselho Europeu", disse um porta-voz da primeira-ministra, afirmando que ela conversará por telefone com outros líderes do bloco.
Uma fonte do governo disse que a cúpula anterior, em 21 de março, foi "difícil" e que a governante britânica agora quer falar antecipadamente com o maior número possível de líderes.
O Reino Unido deveria ter deixado o bloco em 29 de março. Mas, diante da recusa do Parlamento britânico em aprovar o Tratado de Retirada, assinado por May em 27 de novembro, a UE adiou essa data até 12 de abril.
Líderes europeus se reúnem nesta quarta-feira em Bruxelas, e May busca obter uma segunda prorrogação até 30 de junho, embora funcionários da União Europeia tenham proposto um longo adiamento com a possibilidade de o país sair antes caso aprove um acordo.
Se não deixar a UE, o Reino Unido terá que participar das eleições para o Parlamento Europeu, quase três anos após o referendo em que 52% dos britânicos votaram pelo Brexit.
Assim, o governo britânico tomou na segunda-feira as disposições legais necessárias para realizar as eleições europeias, fixando a data da votação em 23 de maio.
A Europa, que mostra cada vez mais sua insatisfação com o caos político britânico, advertiu que a concessão de uma nova extensão deve ser acompanhada de condições para garantir que, com um pé dentro e outro fora, o Reino Unido não atrapalhe o funcionamento da UE.
Londres deve dar "garantias de leal cooperação", tuitou o primeiro-ministro holandês Mark Rutte. Também "é crucial saber quando e sobre que base o Reino Unido ratificará o acordo de saída".
Em uma tentativa de acabar com meses de crise política, May iniciou na semana passada negociações com o Partido Trabalhista.
No entanto, depois de vários dias de contatos, eles reclamaram na sexta-feira que a equipe do governo permaneceu inflexível.
Apesar da aparente falta de avanço no fim de semana, o ministro da Cultura, Jeremy Wright, ressaltou nesta segunda-feira, na rádio BBC, a necessidade de "avançar" na negociação.
"Devemos nos certificar de que estamos todos preparados para fazer concessões", disse ele.
May, muitas vezes acusada de ser inflexível, admitiu no domingo em um vídeo incomum divulgado nas redes sociais que chegar a um consenso exigirá "compromissos" de ambos os lados.
Os contatos com o Partido Trabalhista oscilam principalmente em torno da possibilidade de uma união aduaneira com a UE após o Brexit, o que permitiria manter de forma fluida o importante comércio entre as duas partes.
"O problema é que o governo parece não mover seus limites", disse o líder da oposição, Jeremy Corbyn, ao canal Sky News nesta segunda-feira.
Os contatos, no entanto, continuarão na terça-feira.
Decididos a assumir o controle, os deputados britânicos aprovaram em primeira leitura na semana passada uma lei que obriga o governo a solicitar um adiamento para evitar um Brexit sem acordo.
Depois de passar pela Câmara alta, a lei deve ser finalmente aprovada na noite de segunda-feira, o que obrigará o governo a consultar o Parlamento na terça-feira sobre a duração da extensão desejada, complicando ainda mais a situação.
Se a UE não der mais tempo aos britânicos e eles não conseguirem encontrar uma maneira de aprovar rapidamente o acordo Brexit, o país será forçado a partir de sexta-feira a uma saída brutal - que teria sérias consequências para sua economia, mas também para a dos seus vizinhos.
Na linha de frente está a República da Irlanda, que depois do Brexit terá a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a UE.
Os 27 sempre mostraram solidariedade com a preocupação de Dublin. Para reforçar isso, o negociador europeu Michel Barnier disse nesta segunda-feira que, aconteça o que acontecer, "apoiaremos plenamente a Irlanda" contra o Reino Unido, durante uma audiência com o primeiro-ministro Leo Varadkar na capital irlandesa.