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Aumenta número de mortos em Bogotá, e pressão sobre o presidente Iván Duque cresce

Daniel Munoz/AFP -
Homenagens foram prestadas em frente à Escola de Cadetes de Bogotá, onde atentado deixou 21 mortos; país está em luto oficial
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Bogotá - Aumentou para 21 o número de mortos em atentado ocorrido na tarde da quinta-feira na capital da Colômbia. O ato terrorista foi condenado em todo país e aumentou a pressão sobre o presidente Iván Duque por um maior comprometimento com os acordos de paz de 2016.

A explosão de um carro-bomba na Escola de Cadetes de Bogotá, que inicialmente havia deixado 10 mortos, agora registra 21 óbitos. O atentado foi atribuído ao Exército de Libertação Nacional (ELN), último grande grupo guerrilheiro da nação. O autor, identificado como José Aldemar Rojas Rodríguez, era membro do ELN e morreu enquanto dirigia o veículo.

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Homenagens foram prestadas em frente à Escola de Cadetes de Bogotá, onde atentado deixou 21 mortos; país está em luto oficial (Foto: Daniel Munoz/AFP)

Esse atentado foi o maior registrado na Colômbia desde a assinatura do Acordo de Paz, em 2016, pelo ex-presidente Juan Manuel Santos com as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc). Esse processo, rechaçado por Iván Duque durante a campanha eleitoral, virou tema de discussões no país após o ocorrido em Bogotá e mobilizou políticos e ativistas colombianos.

Álvaro Uribe, ex-presidente de extrema direita e mentor de Duque, usou as redes sociais para atacar o acordo de paz. “Que grave que a paz tenha virado um processo de submissão do Estado ao terrorismo”, publicou no Twitter. Uribe foi um dos grandes defensores do vitorioso voto “não” no plebiscito realizado com a primeira proposta do acordo de Santos.

Duque também endureceu o discurso. O mandatário prometeu que “perseguirá com toda sua força” o ELN e afirmou que não há mais espaço para negociação.

#AdelantePorLaPaz

As manifestações de Duque e Uribe geraram indignação de ativistas de direitos humanos, que alegaram que o presidente sempre dificultou a estabilização da paz. Pela hashtag #AdelantePorLaPaz, colombianos cobraram a implementação dos pontos acertados no acordo com as Farc e o avanço no diálogo com o ELN, em busca da desmobilização do grupo.

O jornal “El Espectador” estampou a hashtag na sua capa e comentou a publicação de Uribe. “Se o atentado nos mostra algo é que temos que continuar apostando na paz, com todas as suas complexidades. O Estado não pode nunca atuar motivado pelo terror; sua política deve ser uma mostra de estrategia e sabedoria”, publicou o segundo maior jornal do país.

Gustavo Petro, segundo colocado na última eleição presidencial, também usou o Twitter para defender um aprofundamento do processo. “Os que querem a guerra já a tem. Para mim, a guerra sempre será a expressão de um fracasso nacional. Nós lutaremos por paz e mais paz”, tuitou o senador do Colômbia Humana.

O senador do Polo Democrático Alternativo Iván Cepeda afirmou que a responsabilidade do crime não pode ser atribuída ao processo de paz. “Aqueles que perpetraram esse massacre – seja qual for sua origem ideológica ou suas motivações – buscam causar dano à paz”, publicou em seu Twitter o reconhecido ativista dos direitos humanos.

Para muitos colombianos, há o temor de que a situação gere um retorno ao passado, quando os atentados aconteciam com tanta frequência que eram considerados o “pão de cada dia”.

Violência de Estado

O caso também trouxe à tona a questão da violência das forças de segurança contra lideranças sociais. Ernesto Samper, ex-presidente e ex-secretário-geral da Unasul, exigiu atenção à problemática: “os atos de violência contra líderes sociais são tão graves como os na Escola de Polícia”.

Uma manifestação da União Nacional de Estudantes de Ensino Superior programada para quinta foi adiada para o dia 24 em respeito às vítimas. A mobilização tem como objetivo protestar contra a ação “repressiva” do Esquadrão de Choque e homenagear líderes assassinados. Os estudantes colombianos estão em greve desde outubro de 2018, em defesa de uma “educação de qualidade no país”.

*Sob supervisão de Alexandre Machado