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Rússia desenvolverá novos mísseis estratégicos se EUA deixar INF

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A Rússia desenvolverá novos mísseis estratégicos se os Estados Unidos cumprirem o seu anúncio de se retirar do tratado sobre armas nucleares de alcance intermediário (INF) e que este acordo de 1987 proibia, segundo anúncios feitos pelo presidente Vladimir Putin nesta terça-feira (18).

Em um discurso diante de responsáveis de alto escalão das Forças Armadas russas no Ministério da Defesa, Putin detalhou a sua intenção de desenvolver mísseis balísticos de alcance intermediário, hoje adaptados para serem lançados por água ou ar, para serem disparados da terra, algo que o tratado proíbe.

Os mísseis Kalibr, desenvolvidos para as fragatas da Marinha russa, e os mísseis ar-terra Kh-101 serão adaptados para serem lançados da terra, anunciou Putin.

"Provavelmente não será muito difícil pesquisar e desenvolver o sistema e instalá-lo em terra se for necessário", declarou, celebrando novamente as capacidades de um novo mísseis hipersônico, "Kinjal" (Punhal), que em março chamou de "arma invencível".

"Ninguém mais o tem", repetiu Putin.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou a sua intenção de retirar o seu país do tratado de armas nucleares de alcance intermediário (Intermediate Nuclear Forces Treaty).

O tratado foi assinado pelo último dirigente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, e pelo então presidente americano, Ronald Reagan.

O governo Trump se queixa da mobilização por Moscou do sistema de mísseis 9M729, cujo alcance, segundo os Estados Unidos, supera os 500 quilômetros, violando assim o texto do INF.

O tratado INF, que suprime o uso de uma série de mísseis de entre 500 e 5.000 quilômetros de alcance, havia acabado com a crise gerada nos anos 1980 pela mobilização dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares na Europa oriental, e mísseis americanos Pershing na Europa ocidental.

Depois do anúncio de Trump, a Rússia advertiu sobre o perigo do retorno de uma "corrida armamentista".

No início de dezembro, Washington reiterou as suas intenções e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, deu a Moscou 60 dias para cumprir com o tratado.

Em seu discurso, Putin sugeriu também incorporar novos países ao tratado INF, assinado e aplicado unicamente por Estados Unidos e Rússia.

Embora não tenha sido mencionada, este convite era para a China, que desenvolveu mísseis proibidos aos países ue assinaram o tratado INF.

"Há efetivamente dificuldades com este tratado. Outros países que possuem mísseis de alcance intermediário não são membros", declarou Putin. "Mas o que nos impede de lançar as negociações sobre a adesão ao tratado existente ou de começar as discussões sobre um novo?".

"Sejam quais forem as críticas ao tratado, ele cumpre um papel estabilizador nas condições atuais, de certo nível de previsibilidade e autocontrole na esfera militar", insistiu Putin.

O especialista militar russo Vasili Kashin estima que transformar mísseis Kalibr ou Kh-101 em mísseis terrestres será fácil, e assinala que os mísseis balísticos terrestres são mais baratos e, portanto, mais fáceis de desenvolver.

Contudo, Alexander Golts, outro especialista militar russo, considera "totalmente irrealista" a ideia de que a China possa se juntar ao tratado. Os mísseis balísticos terrestres de alcance entre 500 e 5.000 quilômetros representam "90% das capacidades nucleares da China", assegurou.