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Catalão em greve de fome pede moderação em protestos separatistas

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Depois de 300 dias preso e 17 em greve de fome, o ex-porta-voz do governo catalão Jordi Turull pediu aos separatistas que evitem protestos violentos de grupos de encapuzados com vistas à controversa reunião de sexta-feira do Executivo espanhol em Barcelona.

"Não me agrada que pessoas com o rosto tapado peçam a minha liberdade. Temos que fazer como sempre, protestar, mas de forma tranquila", disse em uma entrevista à AFP na prisão de Lledoners, 60 quilômetros ao norte de Barcelona, onde aguarda julgamento com seis dos nove independentistas presos, acusados de rebelião pela fracassada secessão de outubro de 2017.

Com algum atraso, aquele que foi conselheiro do governo de Carles Puigdemont chega caminhando devagar até a sala onde a entrevista está agendada e, como um cumprimento, coloca a mão no vidro que o separa das visitas.

A roupa esportiva folgada que usa, muito diferente do terno e gravata de suas coletivas de imprensa como porta-voz, não esconde os sete quilos perdidos pela greve de fome. Seu rosto, habitualmente redondo, parece esquálido e apagado.

Da prisão, mostra-se preocupado com alguns recentes protestos de separatistas radicais, que protagonizaram confrontos com a polícia e cenas violentas, incomuns no passado.

"Algumas das imagens que vi não me agradaram. Em Girona, por exemplo, grupos de pessoas encapuzadas pulavam e jogavam cercas. Essa não é a nossa maneira de fazer as coisas", diz, recordando os incidentes de 6 de dezembro que terminaram com 15 policiais feridos.

Estes confrontos podem se repetir na sexta-feira, com numerosos protestos para impedir a reunião do governo espanhol de Pedro Sánchez, deslocado de forma extraordinária para Barcelona, capital desta região dividida em duas sobre a independência.

A cúpula coincide com o aniversário das últimas eleições catalãs, convocadas por Madri depois de suspender de fato a autonomia regional para impedir a secessão.

Com candidatos presos e no exterior, os independentistas renovaram a maioria absoluta no Parlamento regional, agora perdida pela suspensão de alguns deputados presos, como o próprio Turull, e pelas divisões entre as diferentes formações.

"Mais de 10% do Parlamento escolhido naquele dia está preso ou no exílio. Vir neste dia é para provocar", denuncia. Mas "a ação contundente de protesto não significa que não será feita de forma civilizada e pacífica".

E diante da reticência do presidente catalão, Quim Torra, de se encontrar com Sánchez durante esta visita, Turull é partidário de "que se encontrem, mas para falar seriamente", enquanto pede a Madri "que faça uma proposta para a Catalunha".

Junto com Jordi Sánchez, ex-presidente da associação separatista ANC, Turull iniciou em 1º de dezembro uma greve de fome, apoiada dias depois pelos ex-conselheiros Josep Rull e Joaquim Forn para protestar contra a lentidão do Tribunal Constitucional em julgar seus recursos.

Os separatistas querem ir a instâncias europeias para denunciar a suposta parcialidade da Justiça espanhola, mas não podem fazê-lo até que este tribunal decida as apelações sobre a sua prisão ou suspensão como deputados, entre outros.

"Víamos que se perpetuava uma ação coordenada para não permitir que fôssemos à Justiça europeia (...) Chega um momento em que você tem que agitar as coisas porque estamos tornando normal uma violação de direitos", assegura.

Turull nega que a greve busque desviar a atenção dos problemas do governo catalão, que enfrenta muitos protestos sociais, ou que seja uma estratégia de pressão de sua formação, Juntos pela Catalunha, a seus parceiros e concorrentes separatistas do ERC, cujos líderes presos não a apoiam.

"A greve de fome é uma questão suficientemente importante para não ser feita por motivos conjunturais ou mesmo (...) eleitorais", afirma.

O protesto começa a cobrar seu preço: na sexta-feira deu entrada na enfermaria da prisão e está com hipoglicemia, embora o mais difícil seja "o lado psicológico". "Sonho com uma lata de atum", afirma.

Turull não estabeleceu um prazo para o seu protesto, mas se comprometeu com sua família a não colocar sua vida em risco.

Ele também quer "estar forte" para o julgamento, que deve começar no início de 2019, no Supremo Tribunal Federal contra os 18 separatistas acusados de rebelião, desvio de dinheiro e desobediência por organizarem um referendo em 1º de outubro de 2017, fortemente reprimido pela Polícia espanhola, e proclamar uma república no dia 27 daquele mês.

"Encaro isso como uma oportunidade para falar publicamente e colocá-los em evidência. Quero ir e mostrar que isso é uma montagem", assegura.

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