O ataque ao ônibus do Boca Juniors no trajeto até o Monumental, em Buenos Aires, na final inédita da Libertadores contra o River Plate é uma tragédia pessoal para o presidente da Argentina, Mauricio Macri, mas não apenas pelo seu histórico no clube da Bombonera. Dirigente do time por 12 anos, Macri tinha planos ambiciosos para a partida histórica: ela serviria como vitrine para a cúpula do G20, essencial para o redesenho da reputação do país no cenário internacional, e também para o projeto de sediar a Copa do Mundo de 2030 junto de Uruguai e Paraguai. Suas intenções, no entanto, foram estilhaçadas junto das janelas do ônibus do Boca.
A capital argentina recebe na próxima sexta-feira dezenas de chefes de Estado. A final da Libertadores deveria selar a capacidade do país de sediar eventos de forma ordenada e, pela proximidade com a cúpula das 20 maiores economias do mundo, imprimir no clima de Buenos Aires uma autoestima sólida traduzida na receptividade aos visitantes, já que o país carrega uma grande responsabilidade: é a primeira vez que o evento é sediado em uma nação sul-americana.
O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, do mesmo partido de Macri, chamou para si a responsabilidade pelos erros de planejamento da polícia da capital e determinou a instauração de uma investigação para determinar os responsáveis pelas falhas. O secretário de Justiça e Segurança portenho, Martín Ocampo, estaria na mira da Casa Rosada.
Segundo o jornal argentino “Clarín”, o presidente argentino está “enojado” pelo episódio após semanas de expectativas em torno da competição e teria ficado furioso com a associação entre a vulnerabilidade dos jogadores do Boca na rota até o estádio e a segurança dos chefes de Estado que chegarão ao país ao longo da semana. As forças de segurança atuarão sob a autoridade federal.
Depois de anos de economia estagnada e uma política externa voltada para as relações Sul-Sul, fora do eixo dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) nos anos do kirchnerismo, Macri planejava transformar a cúpula do G20 em uma plataforma para revitalizar a imagem da Argentina mundo afora. Como anfitrião, o dirigente argentino presidirá a reunião que contará com lideranças como Donald Trump, dos Estados Unidos, Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, além do francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel.
Mesmo com o fantasma da recessão voltando a assombrar a Casa Rosada após o fracasso do projeto macrista em reestruturar a economia, levando o país a pedir novos empréstimos para o FMI para evitar um calote, Macri contava com o sucesso da organização do G20 como um ativo político para recuperar o otimismo da população com o futuro do próprio em país, tendo em vista as eleições presidenciais no próximo ano. A cúpula já é alvo de protestos no país, o que pode agravar o clima de tensão.
Com a repercussão mundial do episódio através de jornais como “The New York Times” e o “El País”, o ataque contra os jogadores do Boca pode também prejudicar a candidatura tríplice da Argentina, Uruguai e Paraguai para a Copa de 2030, que marcará o centenário da competição, com a chance de enfrentar concorrentes de peso da UEFA.