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Londres e UE afirmam ainda ser possível alcançar acordo para Brexit

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O Reino Unido e a União Europeia (UE) insistiram, nesta segunda-feira (15), que ainda é possível alcançar um acordo sobre o Brexit, apesar do fracasso da véspera nos diálogos destinados a destravar o principal empasse - a questão da fronteira da Irlanda.

"Não podemos permitir que essa discordância (...) nos deixa com o resultado de um acordo que ninguém quer", afirmou a primeira-ministra britânica, Theresa May, em intervenção ante a Câmara dos Comuns para informar sobre o estado das negociações, a dois dias do início de uma cúpula crucial em Bruxelas.

"Continuo acreditando que um acordo negociado é o melhor resultado, tanto para o Reino Unido, quanto para a UE. Continua achando que tal acordo pode ser alcançado, e será com esse espírito que continuarei trabalhando com nossos sócios europeus", acrescentou.

A UE considerava a reunião de cúpula desta semana em Bruxelas a "hora da verdade" para um acordo, mas no domingo uma nova rodada de negociações terminou sem um pacto e não estão previstas novas conversações antes de quarta-feira, quando acontecerá um jantar de chefes de Estado e de Governo.

O presidente francês Emmanuel Macron, cujo país é considerado um dos que mais pressionam May, se mostrou tranquilizador e garantiu acreditar "que podemos avançar" graças à "inteligência coletiva".

Vários dos ministros de Relações Exteriores europeus reunidos em Luxemburgo, entre eles o espanhol Josep Borrell, insistiram que ainda há tempo para alcançar um entendimento.

Mas, para se prevenir, a UE está acelerando os preparativos para uma separação sem pacto, explicou em Bruxelas Margaritis Schinas, porta-voz da Comissão Europeia.

"Infelizmente, temos que nos preparar para diversos cenários (...). Não devemos enfiar a cabeça na areia e dizer 'tudo vai acabar se organizando'", alertou a chanceler alemã, Angela Merkel, durante uma reunião com empresários em Berlim.

A questão da Irlanda continua sendo o principal obstáculo. As duas partes tentam evitar o retorno de uma fronteira clássica entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda para não enfraquecer o acordo de paz de Sexta-Feira Santa de 1998, mas não conseguem chegar a um acordo sobre a melhor maneira de fazer isto.

Sem uma solução melhor, Bruxelas defende a manutenção da Irlanda do norte na união alfandegária e no mercado único europeu. A proposta, conhecida como "backstop", figura no acordo provisório de dezembro, mas Londres a contesta agora.

As críticas afirmam que isto comprometeria a integridade do Reino Unido, ao criar uma fronteira de fato entre a província norte-irlandesa e o restante do país. Os britânicos desejam um "ajuste alfandegário temporário" com a UE até alcançar uma solução permanente.

Os europeus não aceitam dar aos britânicos um "acesso a la carte" ao mercado único e ao espaço alfandegário sem que assumam ao mesmo tempo as obrigações, especialmente porque a rejeição a um dos pilares do mercado comum, a livre circulação de pessoas, foi um dos catalisadores do referendo do Brexit em 2016.

A primeira-ministra britânica está sob forte pressão interna da ala eurocética de seu próprio Partido Conservador, encabeçada pelo ex-chanceler Boris Johnson, que definiu as propostas da UE como "escolher entre romper o Reino Unido ou submetê-lo à vassalagem".

May também precisa lidar com a forma oposição do partido norte-irlandês DUP - com apenas 10 deputados na Câmara dos Comuns, mas que fundamentais para garantir a maioria parlamentar dela -, que não querem que a Irlanda do Norte tenha um tratamento diferente do resto do Reino Unido.

Sammy Wilson, secretário do partido para o Brexit, afirmou nesta segunda-feira que é "provavelmente inevitável" chegar a um cenário sem acordo.

Os europeus não perdem a esperança de alcançar um acordo em novembro, que possibilitaria um prazo para a ratificação posterior e evitaria o cenário de uma retirada não negociada, contra a qual já advertiram instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) por seu impacto na economia.

Tudo indica que os líderes do bloco podem aprovar no jantar de quarta-feira a convocação de uma reunião de cúpula extraordinária para meados do mês que vem.

E alguns vão mais longe, como o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar.

"Acredito que novembro ou dezembro têm melhores possibilidades (...) mas esta é uma situação que evolui", disse à imprensa em Dublin.

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