Confira também o nosso blog.
O segundo dia do Fashion Rio começou com a apresentação do coleitvo OEstúdio, uma marca que gosta de flertar com o conceitual. Confesso que, às vezes, saio dos desfiles dessa grife com um certo sorriso amarelo no canto da boca. Acho as ideias bacaninhas, mas, como diria Austin Powers, o impagável agente secreto do cinema, falta mojo. Nem sempre fazer arte conceitual é sinônimo de acertar a mão no estilo ou na modelagem. Dessa vez, eles resolveram ser menos artistas e mais estilistas. Deu certo. O que se viu foi roupa de verdade, quase todas em preto, ainda que em shapes já consagrados. Moda 'facinha' para quem é descoladinho.
A seguir, a Sacada resolveu brincar com as cores como se fosse uma estudante de belas artes em uma aula de criação da forma. Calouro de arte, quando recebe uma palheta de guache na mão, é que nem pinto no lixo. Faz a festa. Mas, nesse caso, o que poderia ser um mero devaneio - de novato em faculdade de design - serviu para mostrar que a marca já passou da formatura há tempos. E mais: deve estar lecionando em mestrado em elegância. Com uma coleção repleta de cores vivas, pontuadas pelos pretos e vinhos da temporada, a Sacada apresentou silhuetas definidas por 'maxicintos', volumes armados e saias rodadas em um resultado que, afinal, pode impressionar as clientes tanto quanto fez com a plateia do show.
Se as cores vivas foram o norte do desfile anterior, a bússola das Filhas de Gaia apontou para uma cartela minimalista, com jogos de dualidade e assimetria funcionando a contento. Entre o luxo e o esportivo, a grife apresentou boas sacações naquilo que sabe fazer bem: uma roupa de festa bacana. Como o lance esportivo sempre pontua o trabalho da dupla de sócias-estilistas da marca, ribanas em couro e 'otras cositas más' se encarregavam de imprimir esta leitura. Os capuzes dos casacos esportivos que se desdobravam em golas caídas, por exemplo, eram uma dessas boas surpresas.
Fechando a noite, a Espaço Fashion prometia a leitura de sorte, cartas de tarôs, oráculos nômades e outros artifícios dignos de filme de Conan. Entretanto, a interpretação desses signos do ocultismo ficou oculta em alguma piração de estilista. Mas, se a grife não deixou tão clara assim esta influência, por outro lado caprichou na coleção, tanto nas texturas quanto nas formas. As montagens, com silhuetas alongadas que brincavam com estrutura e fluidez, vieram fortes e as estampas, sobretudo xadrezes, eram mesmo lindas. Valeu a pena, mesmo que a menção do esotérico Aleister Crowley no release parecesse forçação de barra.