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Exclusivo: em livro polêmico, Heloisa Faissol revela que foi vítima de pedofilia

Em 'Lixo do Luxo', cantora ainda detona a alta sociedade e fala de obsessão por Chico Buarque

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Heloisa Faissol teve uma trajetória profissional que passeou das artes plásticas ao funk. Na sociedade carioca, ela é conhecida como a filha do famoso dentista Olympio Faissol que adotou o pseudônimo de Helô Quebra-Mansão. Os tempos de funkeira estão ficando no passado. Heloisa pretende mergulhar no mundo político, como nos revela, mas, antes, investe na verve escritora e vai lançar 'O Lixo do Luxo', dia 7 de agosto, às 18h, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon. Em entrevista exclusiva à coluna, ela solta o verbo sobre a falta de glamour nos bastidores da alta sociedade e conta que foi vítima de pedofilia, na infância. "Com 12 anos, era obrigada pelos treinadores a lavar a parte íntima dos cavalos. Quando estávamos sós, o chefe da professora colocava filmes de sacanagem, daqueles bem brabos e tentava passar a mão em algumas partes do meu corpo como se aquilo fosse uma brincadeira", afirma. E acrescenta: "Meu livro não é acinte nem uma afronta pessoal aos meus pais,  irmãs e/ou demais familiares... meu livro é  um relato de minhas histórias e um alerta para os pais - como os meus -, que pagam uma fortuna em colégios particulares, esportes caros etc. - talvez para suprir o tempo que passam longe trabalhando - não percebem o perigo que nós passamos nesses lindos e chiques espaços da alta sociedade, que - também -, têm profissionais pervertidos e atrozes. Essas atitudes cruéis, deixaram marcas profundas em minha psiquê". Com vocês, Heloisa Faissol:

HT - Qual o conteúdo podre da alta sociedade? Ainda existe alta sociedade no Rio? O que há de tão podre assim e que você revela em seu livro?

HF- A maior parte dos meios de comunicação pinta a alta sociedade como se ela fosse composta por pessoas que vivem constantemente felizes, sem problemas. O dinheiro tem o poder de tornar muita gente inconsequente em relação aos seus atos. Essa pessoa inconsequente trata com desrespeito não só aos outros, se colocando acima dos outros, mas também o próprio corpo e mente. Acaba pagando o preço com o passar do tempo. Se ainda existe alta sociedade no Rio como existia, eu não posso afirmar, pois ando meio afastada dos eventos e da alta roda. No livro conto muitas situações absolutamente bizarras, algumas divertidas e outras tristes, que aconteceram comigo, muito por eu ter acesso às pessoas, luxos, lugares e eventos, devido à situação financeira e prestígio da minha família. 

HT - Você diz que com 12 anos era obrigada pelos treinadores a lavar as partes íntimas dos cavalos. Onde e quando? E você contou aos seus pais?

HF - Sim, isso realmente ocorria. Os culpados eram pessoas muito respeitadas que frequentavam clubes de hipismo no Brasil inteiro, pessoas próximas à minha família. Infelizmente fui fazer um curso de férias no Manège (espécie de hípica particular). Meu pai, acreditando estar me colocando para praticar o esporte com as melhores pessoas possíveis, acabou me enviando para lá. Eu tinha apenas 12 anos e demorei bastante a relatar o fato ao meu pai, temendo que ele me proibisse de continuar praticando o esporte que eu tanto amava.

HT -  Onde o chefe da professora (e qual professora?) via esses filmes com a sua presença? Você chegou a contar para alguém sobre os abusos sexuais?

HF - Se eu contar todos os detalhes agora, o livro não terá mais graça... Mas  a aproximação deles foi lenta e maquiavélica. Como era uma criança retraída fui guardando aquilo tudo como se fosse um segredo só meu até que chegou a um ponto que eu não conseguia mais me concentrar em nada. A escola foi o primeiro alerta para meus pais. Só consegui abrir o jogo com meus pais quando já estava mal, com bulimia e distúrbios de ansiedade.

HT - O que achou de Xuxa, agora, revelando ao país sobre os abusos sexuais sofridos na infância? Vc também veio a público só agora sobre esses abusos? Quais as sequelas que você sofre com relação ao que passou?

HF-  Meu livro começou a ser escrito bem antes de Xuxa fazer tais revelações. Sempre tive em mente o desejo de falar sobre esse assunto, mas quis fazer isso para as pessoas não terem a ilusão de que deixando seus filhos com pessoas de uma classe aparentemente elevada, eles irão estar em segurança. Todo mundo é igual. Nas classes mais altas e nas festas mais abundantes é que presenciei as coisas mais absurdas. Achei a iniciativa de Xuxa bacana. Mesmo ela tendo feito um filme muito polêmico.

HT - Quem é um bom exemplo na alta sociedade para você? E um péssimo exemplo de pessoa?

HF - Bom exemplo seria meu avô, que infelizmente já se foi. Péssimo exemplo seria o Renan Calheiros.

HT - Você optou por usar pseudônimos em seu livro. Por que? Quais as passagens mais fortes que a levaram a suprimir os nomes?

HF - Não queria expor ninguém, sei que isso é um direito só meu. Meu maior objetivo é contar a minha história e não a dos outros. Sobre as passagens, dependerá de cada leitor achar qual a mais forte.

HT - Como está o seu trabalho na música? Dá para viver como cantora no nosso país?

HF- Se eu curtisse trocar o dia pela noite semanalmente certamente já teria juntado um bom dinheiro fazendo funk, mas não só bati de frente com os horários, como também com empresários que queriam “trocar farinha por fubá”. Não consegui ter uma relação boa com os bastidores do business da música.  Viver de música no Brasil é duro, depende muito do preço que o artista está  preparado e disposto a pagar para ter essa vida. 

HT-  Você fala no livro sobre obsessão por Chico Buarque. A que ponto chegou por tal obsessão?

HF- Foi brabo, o perturbei por um bom tempo e ele nem merecia, tadinho .... sempre cordial e educado, nunca me mandou à “merda”. Acho que ele compreendia meus distúrbios. Vai ver foi por isso que me apaixonei. Eu sabia que não havia nada a temer em relação a ele. Fora isso ele era uma delícia, vamos combinar....

HT - Seu pai foi citado por Rosane Collor como o grande dentista da família. O que você achou da entrevista da ex-primeira-dama ao Fantástico? Chegou a conhecê-la. Qual episódio mais a marcou nesse convívio, caso tenha ocorrido?

HF- Ela esteve uma vez em minha casa em Angra. Não tive a oportunidade de conhecê-la porque estava mais preocupada em catar latinhas no fundo do mar para ganhar um trocado de meu pai. Essa era nossa brincadeira predileta em Angra. Fico feliz por meu pai ter seu trabalho reconhecido por todos. De fato ele faz um trabalho diferenciado, sensacional!

HT - Quais os próximos projetos pessoais e profissionais de Heloisa Faissol?

HF- Pretendo continuar escrevendo, mas como sou incansável e aberta a várias expressões artísticas, quem sabe o que mais pode pintar? Também tenho planos políticos para um futuro próximo. Tenho me dedicado bastante a estudar a máquina brasileira para entender o que faz dela inferior às demais, sendo dotada de tanto combustível natural.

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