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O mea-culpa que falta

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Bem ou mal, Neymar já se pronunciou algumas vezes, após a Copa do Mundo. Seja através das redes sociais, que adora; comerciais de gosto duvidoso, como o da Gillette; ou rápidas entrevistas, em eventos próprios, a verdade é que falou. Pouco, mas falou. O mesmo não se pode dizer do outro grande protagonista brasileiro no Mundial: o técnico Tite, que renovou o seu contrato com a CBF por mais quatro anos, mas ainda está devendo uma grande entrevista coletiva, para fazer o seu mea-culpa e ser questionado, por exemplo, sobre o absurdo paternalismo que teve com os jogadores, especialmente, Neymar. Continuará o treinador a ser refém dos caprichos do craque e de seu pai?

Quase um mês após a doída derrota para a Bélgica seria de bom tom ouvir Tite falar, também, sobre o nó tático que levou do espanhol Roberto Martinez. Na coletiva após a partida, ele limitou-se a dizer que “foi um grande jogo” e que qualquer um poderia ter vencido. Não foi bem assim. Houve, no primeiro tempo, um autêntico baile belga e as alterações táticas promovidas pelo técnico adversário deixaram atônitos Tite e toda a sua comissão. É o caso de se perguntar o que faziam na Rússia os seus inúmeros observadores, que foram incapazes de prever a formação com Lukaku, nas costas de Marcelo, Fellaini, recuado (muitas vezes em cima de Neymar), e De Bruyne solto, encostando no ataque.

E o que dizer de Fernandinho, no primeiro pau, nos escanteios? Tite e seus vários auxiliares acreditavam mesmo que, daquele tamanhinho, ele poderia fazer a função de Casemiro, nas bolas alçadas sobre a área? O gol contra mostrou que não. Mas nenhum dos quarenta membros da comissão técnica previu isso - aliás, era esse mesmo o número? Quarenta? Dá para explicar?

O torcedor brasileiro tem o direito de saber ainda quais são os planos do treinador para a Copa América do ano que vem, no Brasil, e para o próximo quatriênio. Haverá uma grande renovação ou ela será paulatina? Veteranos que decepcionaram em dois Mundiais seguidos, como Paulinho e Fernandinho, ainda serão chamados ou já começarão a integrar a seleção jovens promissores como Vinicius Jr., Lucas Paquetá, Rodrygo, Pedro etc.?

E o que dizer do esquema tático brasileiro? Continuará a ser único e previsível, como se mostrou na Rússia, onde a seleção foi incapaz de uma vitória de fato convincente, apesar dos adversários limitados que enfrentou? O time e a tática de Tite mostraram-se extremamente eficientes contra adversários sul-americanos. Mas o mesmo não se pode dizer diante das retrancadas e compactas equipes europeias.

Esse é, aliás, um problema à parte. Com a criação da Liga das Nações, que passará a utilizar as chamadas datas Fifa para os jogos do novo torneio entre as seleções da Europa, quando o Brasil poderá enfrenta-las? A partir de agora, como treinar contra escolas diferentes e de fato importantes? Não será contra os EUA e El Salvador (adversários nos dois próximos amistosos) que o futebol brasileiro exercitará algo que preste.

Como se vê, há várias questões importantes a serem respondidas, Tite. Se possível, sem aquele ar de encantador de serpentes e sem se esconder atrás de respostas de auxiliares que não têm nada a dizer de importante.

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 Boa estreia

Estreando no Real Madrid, Vinícius Jr. não decepcionou. Em pelo menos três lances mostrou o seu talento, sendo que num deles o gol só não saiu porque a cabeçada de Bale foi para fora. É claro que ainda poderá render muito mais, como o próprio time espanhol, que está em fase de reconstrução. Mas o começo foi bom e o técnico Lopetegui e a imprensa espanhola foram pródigos em elogios. Já estou achando que o moleque tem possibilidades reais de virar titular no lugar que era de Cristiano Ronaldo.

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Pobre bola

No Defensores del Chaco deserto, jogando pela Sul-Americana, o Botafogo conseguiu perder do décimo colocado (antepenúltimo) do campeonato paraguaio. Foi uma pelada medonha que teve como único momento digno de registro o primeiro gol do Nacional, numa linda bicicleta de Danilo Santacruz. No resto, coitada da bola. O resultado custou o emprego do técnico Paquetá. Seja quem for seu sucessor sofrerá com esse time.

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Empate precioso

O Flamengo não merecia perder do Grêmio. Estava bem na partida, no momento em que tomou o gol de Luan, numa grande jogada de linha de fundo de Léo Moura. Depois disso, sofreu uma barbaridade, porque continua a ter enorme dificuldade para transformar em gols o seu domínio do campo. Tocava muito pra trás e pro lado, nas proximidades da área (geralmente, errando o último passe), e exagerava nos centros altos em todas as faltas a seu favor, na intermediária.

Os problemas eram ainda maiores porque a posição de centroavante continua a ser uma caveira de burro. Uribe teve uma atuação digna de Dourado e de Guerrero, nos últimos tempos. Uma nulidade. Foi preciso entrar o garoto Lincoln para fazer o gol no último minuto de descontos. Numa das raríssimas vezes em que o Flamengo chegou à linha de fundo e cruzou rasteiro, não alto. Deu certo e veio o empate precioso no lance derradeiro. Um resultado justo, num grande jogo. Vitinho estreou bem e deve aumentar consideravelmente a objetividade do ataque rubro-negro.