CANNES – Vampiro romântico na saga Crepúsculo, o ator Robert Pattinson surge como sanguessuga do mundo financeiro em Cosmopolis, exibido nesta sexta-feira na competição do 65º Festival de Cannes. No filme dirigido pelo canadense David Cronenberg, o ator britânico interpreta Eric Packer, um jovem magnata de Nova York que passa grande parte de seu dia confinado em sua enorme e superequipada limusine branca.
Baseado no livro homônimo de Don DiLillo, um dos grandes cronistas da sociedade americana ainda vivos, o novo filme do autor de A Mosca (1987) reproduz o clima claustrofóbico e os diálogos existencialistas do livro que lhe serviu de fonte. Enquanto o protagonista recebe consultores, amantes, o médico e até a mulher dentro do seu carro de luxo, do lado de fora chegam sinais das manifestações que dão conta da crise financeira que abala o país.
Seria fácil comparar o personagem de Robert com um vampiro que suga o dinheiro de Wall Street. Mas nenhum ator é capaz de interpretar a partir de um conceito abstrato. Eric é um personagem real, com um passado. Cosmopolis apenas evoca o espírito do capitalismo”, explicou Cronenberg durante o encontro com a imprensa que se seguiu à projeção. O filme tem estreia no Brasil prevista para 13 de julho.
Ao lado do diretor, Pattinson contou que, antes das filmagens, passou duas semanas trancado em um quarto de hotel sem receber qualquer orientação de Cronenberg sobre o seu personagem. “Quando finalmente tomei coragem para procura-lo pessoalmente, ele apenas me disse: ‘Não se preocupe, vamos ver isso quando começarmos a rodar’”, lembrou o ator, que descobriu outras peculiaridades do método de trabalho do realizador. “David sumia nos intervalos das viagens, ia direto para trailer dele. Mas ele não estava fugindo da socialização com a equipe, apenas aproveitava o tempo para checar o que tínhamos filmado no monitor instalado no seu aposento”.
A competição ganhou um dos seus momentos mais silenciosos com In the fog, do ucraniano Sergei Loznitsa (diretor de Minha felicidade, que competiu na edição de 2010, em cartaz no Brasil). Inspirado no livro de Vasili Bykov, descreve o drama de um funcionário de uma ferrovia da antiga Bielorrussia acusado por um crime que não cometeu, durante a ocupação alemã na região, na Segunda Guerra Mundial.
Narrado em longos planos-sequências e poucos diálogos, o filme fala sobre o dilema moral que cai sobre os ombros de Sushenya (Vladimir Svirski), que se recusa a participar da sabotagem de um trem carregado de alemães – mas também de civis. O sujeito é preso com os companheiros sabotadores, mas os oficiais nazistas decidem não enforca-lo, e o devolvem ao convívio da mulher e do filho pequeno. Visto como um traidor por seus vizinhos, Sushenya é preso por dois membros da resistência e levado para a floresta local, onde pretendem executá-lo.
Na mata, os executores de Sushenya entram em confronto com soldados alemães, em circunstâncias em que as definições de heroísmo e traição se confundem. “Não é um filme sobre a guerra, mas sobre gente. A guerra está presente, sim, mas ela apenas confere atmosfera à trama em que os personagens vivem”, avisou o Loznitsa no encontro com a imprensa. “O que me chamou atenção no livro de Svirski é que a rivalidade principal não acontece entre duas nacionalidades, mas entre pessoas que nasceram e cresceram no mesmo vilarejo; os dois protagonistas são amigos de infância”, explicou o diretor.