Durante a confusão no clássico entre Vasco e Flamengo em São Januário, na noite deste sábado (11), chamou a atenção uma imagem que mostra um torcedor sendo agredido por homens utilizando crachás de identificação, em um trecho da transmissão do jogo pela SporTV.
O momento da agressão pode ser encontrado no vídeo abaixo aos 7 minutos e 11 segundos. À esquerda da tela, há um homem agredindo possivelmente um torcedor com uma barra de ferro. Quando o homem se vira, é possível identificar a credencial portada pelo agressor.
O Jornal do Brasil entrou em contato com a assessoria do Vasco da Gama, cuja resposta foi a apresentação da nota oficial do clube sobre o episódio e o vídeo do presidente do clube, Eurico Miranda, comentando sobre o tumulto, que culminou com a morte de uma pessoa. Nem na nota nem no vídeo há menção sobre a agressão feita por homens com crachá.
A Polícia Civil, que investiga o homicídio de um torcedor do Vasco baleado no peito após o jogo, também foi contactada pelo JB sobre o assunto. Segundo a Polícia Civil, as investigações estão apenas no início. “Vamos ouvir as vítimas que ficaram feridas e devido a esse estágio da apuração dos fatos, no momento não há o que falar. Quando houver novidades, vamos divulgar.”
O Supremo Tribunal da Justiça Desportiva (STJD), que interditou o estádio após o tumulto, também foi procurado pelo JB. A assessoria do órgão encaminhou a questão ao procurador-geral, que não respondeu até a publicação desta matéria.
O JB também procurou o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), cujo retorno foi apenas a reprodução da nota oficial do órgão, que também pediu a interdição do estádio.
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Veja a nota oficial do Vasco:
O Club de Regatas Vasco da Gama reitera a sua posição de condenar os episódios ocorridos em São Januário após a partida de ontem. No entanto, ao longo deste domingo diversas autoridades se pronunciaram sobre o caso, algumas com ilações e hipóteses.
Neste momento, todas as autoridades devem se concentrar nos fatos e provas assim como cabe à mídia analisar os fatos com honestidade jornalística.
A pergunta básica a ser feita é a seguinte: a quem interessava a confusão?
- Ao Vasco que traçou como meta esportiva ganhar a maioria de seus jogos em São Januário ?
- Aos funcionários contratados que recebem pelo serviço prestado na partida e que sem os jogos lá deixarão de ter o pagamento?
- À diretoria do Vasco que investiu na recuperação de São Januário nos últimos dois anos e que sempre defendeu as partidas em nosso estádio, onde até final de Libertadores aconteceu?
O Vasco nunca se eximiu de responsabilidades e reafirma que cumpre todas as determinações necessárias para realizar uma partida de futebol, mas avalia que os acontecimentos de ontem superam uma possível insatisfação com o resultado e também briga entre torcidas. A determinação daqueles que realizaram os ataques comprometeria qualquer estádio.
Eurico Miranda
Presidente
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Veja a nota do MP-RJ:
MPRJ requer interdição do estádio de São Januário
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Consumidor, requereu, nesta segunda-feira (10/07), a interdição do estádio de São Januário até que fique comprovada, pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, a elaboração dos planos de ação que garantem a segurança do torcedor, previstos no Estatuto do Torcedor.
O pedido, ajuizado pelo promotor de Justiça Rodrigo Terra, destaca o grave risco de manter a realização de eventos sem a adoção dos planos de ação previstos e afirma que o réu Club de Regatas Vasco da Gama “não tem condições de garantir a segurança do torcedor nas instalações da praça desportiva que administra”.
O documento foi anexado à Ação Civil Pública (ACP) ajuizada pelo MPRJ, em fevereiro deste ano, para que os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro (Vasco, Botafogo, Flamengo e Fluminense), a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cumprissem o dever de garantir a segurança dos jogos dos campeonatos profissionais. Segundo o Estatuto do Torcedor, a elaboração de um plano de ação para todo o campeonato e de outro, para cada jogo, deve prever as situações de risco envolvendo os grandes eventos e traçar estratégias para esvaziar a possibilidade de confrontos.
No pedido, o MP fluminense destaca que é “imprescindível e inadiável” a comprovação da elaboração do plano prévio de planejamento detalhado de cada partida futebolística para que, antes, durante e depois da sua realização, esteja previsto o seu planejamento estratégico detalhado, visando a esvaziar o risco de qualquer espécie de confronto.
Os planos de ação são resultado de reunião dos prestadores do serviço com o Poder Público (PMERJ, GM e CETRIO) e representam condição indispensável para viabilizar a realização dos jogos sem o alto risco de repetição de atos violentos que a sociedade tem assistido. “Nenhum estádio deverá sediar jogos sem o prévio cumprimento do protocolo de segurança”, afirmou o promotor de Justiça Rodrigo Terra.
O MPRJ destaca que a operação de logística de segurança devida pelos organizadores deve ser prevista tanto antes do início do campeonato como antes de cada partida disputada, conforme previsto nos planos geral e específico de ação.