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Nos 117 anos do Flamengo, Zico dá a receita para um futuro à altura do clube

Ídolo também fala de sua paixão pelo rubro-negro e dos momentos mais marcantes

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No dia 15 de novembro foi celebrado o aniversário do Clube de Regatas do Flamengo, mas o que nem todos sabem é que a data real de sua fundação é 17 de novembro. Foi neste dia do ano de 1895 que um grupo formado por remadores se reuniu no número 22 da Praia do Flamengo para oficializar sua criação. Mais tarde, optaram por adotar o dia 15 de novembro para coincidir com a data da Proclamação da República. Neste sábado, quando o clube completa de fato 117 anos, nada mais significativo do que ouvir o maior jogador de sua história. Artur Antunes Coimbra, o Zico, conta ao Jornal do Brasil um pouco de sua trajetória, o que o clube representa para ele e também o que o Rubro-Negro deve fazer para que o ano de 2012, centenário do futebol do clube, seja sucedido por um 2013 menos conturbado fora de campo e com melhores resultados dentro dele:

“O Flamengo precisa contratar jogadores de nível, acostumados a grandes desafios e conquistas, para segurar a peteca para essa jovem e ótima geração que tem. É necessário também um planejamento para três anos e não para apenas uma competição”, afirmou Zico, que trabalhou com a atual diretoria em 2010. Após críticas e acusações de facilitar negociações intermediadas por seu filho, Júnior, Zico pediu demissão do cargo de diretor executivo de futebol do clube. 

A paixão pelo Flamengo, segundo ele, vem desde o momento em que seu pai, José Antunes Coimbra, aportou no Brasil em 1911, vindo de Tondela, em Portugal. Após casar-se com Dona Matilde, em 1943, seu Antunes criou, nesta ordem: Zezé, Zeca, Nando, Edu(considerado o maior ídolo da história do América) e Tunico, antes de Zico. Durante anos, seu Antunes vestiu a camisa do Flamengo quase 24 horas por dia, um amor que ele passou aos filhos: 

"O Flamengo, para mim, significa uma paixão à parte dos familiares. Meu pai fez toda a família aprender a gostar do clube. O Flamengo foi a primeira paixão brasileira na vida dele, e ele soube dividir com todos”, recorda o ídolo rubro-negro.

Zico foi levado para os juvenis do Flamengo em 1967, pelo jornalista Celso Garcia, que inclusive deu o apelido que marcaria a vida do jogador pelo resto da vida: Galinho de Quintino - uma referência ao seu físico franzino para um garoto de 14 anos. 

Após um período que envolvia uma rotina exaustiva de exercícios, estudos e treinos, a estreia nos profissionais chegou no dia 29 de agosto de 1971, justamente em um clássico entre Flamengo e Vasco. Perguntado se imaginava que nascia ali o maior jogador da história do Flamengo, Zico é humilde até demais em sua análise:

“De maneira nenhuma e nem me considero assim. Me considero, sim, um atleta que ajudou ao Flamengo a conseguir as maiores conquistas de sua história”, comentou o Galinho, que conquistou um Mundial Interclubes, um Taça Libertadores da América, quatro campeonatos brasileiros e sete campeonatos cariocas com o Flamengo em 18 anos no clube.

Mesmo com futebol promissor, Zico só se firmou no time titular em 1974, depois de passar por um fortalecimento muscular que o deixou com 1,74 e 71 kg. A partir do início daquele ano, Zico se tornou titular indiscutível da equipe do Flamengo até o fim de sua primeira passagem no clube, em 1983.

Inúmeras alegrias

Zico conquistou cerca de 40 títulos com a camisa do Flamengo, mas um tem um significado especial para ele, principalmente pela carga de polêmica que envolve a conquista rubro-negra até os dias de hoje. Ele usa até uma canção tradicional nas arquibancadas para contar sobre a emoção da conquista:

“O momento no qual mais quis cantar a alegria de ser rubro-negro foi a conquista do Brasileiro de 1987. Principalmente por toda a polêmica que ocorreu naquela conquista, e que é discutida até hoje”, conta o Galinho. Durante o campeonato, um cruzamento entre os módulos Verde e Amarelo da Copa União, organizada pelo Clube dos 13, foi definido para se decidir o campeão brasileiro daquele ano. No entanto, os clubes do Módulo Verde se recusaram a fazer o cruzamento, e Sport e Guarani decidiram o quadrangular com dois participantes, tendo o Sport como vencedor e considerado o campeão oficial de 1987. 

Zico é o maior artilheiro da história do Flamengo, com 508 gols marcados em 727 jogos pelo clube. Com tantos números no currículo, ele elege o segundo gol contra o Cobreloa, na final da Libertadores da América de 1981 vencida pelo Flamengo por 2 a 0, como o mais importante de sua trajetória vitoriosa no clube. “Até aquele momento, era a nossa maior conquista”, lembra o Galinho, que fez um gol com a sua marca: uma cobrança de falta perfeita, que deixou o goleiro chileno Wirth sem ação e levou a massa rubro-negra ao delírio.

Pela sua humildade, porém, o Galinho prefere dar a outros companheiros o título de gol mais importante da história do clube. Apesar de já ter declarado em sua biografia de 2003 que o gol de Rondinelli, na final do Carioca de 1978 contra o Vasco, como o gol que deu início à maior era de conquistas do clube, ele preferiu ressaltar outra conquista do clube, dessa vez no mágico ano de 1981:

“Tem muitos outros gols nessa lista. Acho que cada conquista tem um sabor diferente. Esse é difícil escolher. Eu ficaria com o terceiro do Nunes contra o Liverpool porque ali consolidava a maior conquista do futebol do Flamengo”, disse Zico, referindo-se aos 3 a 0 sobre o time inglês na final do Mundial Interclubes de 1981. Apesar de suspeito por ter participado da equipe, ele também considera este Flamengo como o melhor de todos os tempos.

Dida como inspiração

Zico tinha apenas 3 anos, um mês e um dia de idade quando o Flamengo venceu o América por 4 a 1 na final do Campeonato Carioca de 1956, fazendo do rubro-negro tricampeão estadual pela segunda vez. Um nome se consagrou naquela final: Dida, meia-atacante que viera do CSA, de Alagoas, em 1954, e que foi o maior artilheiro do Flamengo, com 244 gols, até 1979. O único a quebrar o seu recorde foi Zico, que sempre teve Dida como seu maior ídolo no futebol:

“Quando comecei no profissional, e porque não dizer no clube, meu desejo era somente um dia vestir a camisa 10 que foi do meu ídolo Dida. Para mim, ele significava a busca da inspiração”, conta Zico, que lamenta tê-lo visto jogar tão pouco com a camisa do Flamengo, uma vez que Dida deixou o clube em 1963. “Considero o Dida um dos maiores da historia do clube”

Há duas coincidências interessantes entre Dida e Zico: além da camisa 10 que ambos vestiram, a estreia de Dida pelo Flamengo também foi contra o Vasco. O resultado também foi o mesmo da estreia de Zico: 2 a 1, Flamengo, com atuação destacada dos estreantes e, mal sabiam os rubro-negros, futuros ídolos.

Sem arrependimentos

Após o terceiro título brasileiro, em 1983, Zico foi vendido para a Udinese, onde se destacou por dois anos antes de voltar ao Flamengo. Em um jogo contra o Bangu, o zagueiro Márcio Nunes entrou de sola nos dois joelhos do craque, causando torções nas articulações, nos dois tornozelos e outras escoriações pelo corpo.

Após um período de intensa fisioterapia, Zico disputou a Copa do Mundo de 1986 como reserva e perdeu um pênalti no tempo normal da partida contra a França, que poderia ter dado a vitória ao Brasil, lance que marcaria sua carreira.

Até encerrar a carreira, em 1989, Zico esteve às voltas com mesas de cirurgia, salas de musculação e sessões de fisioterapia para tratar os joelhos. Ele, porém, garante que não se arrepende de nenhuma decisão tomada em sua carreira:

“Nada aconteceu por acaso ou por sorte e sim por dedicação. Acho que fiz o que estava dentro do meu limite. Se não fiz mais foi porque não foi possível”, finalizou o Galinho, responsável por tantas alegrias nestes 117 anos que o Flamengo comemora neste 17 de novembro.