Julio Calmon, Jornal do Brasil
RIO - Costuma-se dizer que a camisa 10 do Flamengo pesa para muitos que vestem o manto rubro-negro pela primeira vez. Aos herdeiros de Zico, Dida e companhia, não faltam comparações na história do clube para criticar os novos donos da camisa. O meia Sambueza, o último detentor do número 10 da Gávea, foi mais um a fracassar.
O clube não pretende continuar com o argentino e deve devolvê-lo ao River Plate. O desinteresse dos dirigentes em continuar com o meia só confirma o quanto é difícil arrumar quem organize as jogadas no Flamengo.
Com apenas sete jogos disputados e nenhum gol com a camisa rubro-negra, o argentino Sambueza será mais um a deixar a Gávea antes de o Campeonato Carioca começar. Além dele, Luizinho, Jailton, Eltinho, Dininho e Leonardo já foram dispensados pelo clube. Se a saída do argentino se confirmar, o Flamengo aos poucos irá diminuindo sua legião estrangeira. Com contrato até junho, seu conterrâneo Maxi pode deixar o clube em breve. Mas o colaborador da diretoria Plínio Serpa Pinto afirma que pelo menos agora o atacante está nos planos para formar o elenco. Fierro, com contrato até 2010, fica no clube.
Maxi e Fierro ficam. Já o Sambueza é muito difícil continuar explica Plínio.
Sem contratações previstas para o setor, o time deverá entrar na disputa de seu quinto tricampeonato sem um jogador típico camisa 10 - o que vai de encontro com sua própria história. Em todos os tricampeonatos conquistados pelo clube, o camisa 10, o organizador, o craque do time, sempre existiu. Primeiro, Zizinho conquistou os títulos de 1942/43/44.
O segundo foi Dida, que marcou os quatro gols da goleada do Flamengo de 4 a 1 sobre o América na final do tricampeonato em 1955. Na década de 70, foi a vez de Zico participar de três conquistas estaduais seguidas.
No último tricampeonato carioca, quem vestia a camisa 10 rubro-negra foi Petkovic, autor do famoso gol de falta que deu o título de 2001 ao time da Gávea, na final contra o Vasco, vencida pelo Flamengo por 3 a 1. Na ocasião, o rubro-negro precisava vencer por dois gols de diferença e o sérvio marcou o terceiro a poucos minutos do fim.
Carência permanente
Desde então, o Flamengo tentou em vão procurar um dono para a camisa eternizada por Zico. Os únicos que ainda tiveram relativo sucesso com a camisa 10 foram Felipe, campeão carioca em 2004, e Renato Augusto, bicampeão em 2007 e 2008 mesmo assim, ambos com desempenho bem distante de um típico camisa 10.
Felipe saiu pela portas dos fundos do clube, depois de se desentender com a diretoria. Renato Augusto foi a grande esperança para os dois últimos anos do Flamengo, mas o apoiador sofreu muito com contusões e foi negociado na última temporada com o Bayer Leverkusen.
No atual elenco rubro-negro, há apenas esperanças, como Éverton, que alternou altos e baixos no ano passado, e o novato Erick Flores, aposta da diretoria para ser efetivado no time principal.
Entretanto, o Flamengo conseguiu ser campeão carioca jogando em um esquema que privilegia os ataque pelas laterais com forte marcação. Os organizadores do meio-campo, curiosamente, são volantes de origem: Ibson e Kleberson.
Sem um nome de impacto no elenco, o técnico Cuca não se assusta em assumir o clube com praticamente o mesmo elenco de 2008 e sem um camisa 10.
A realidade é essa. Temos de trabalhar dentro de um orçamento que foi traçado para que o clube cumpra com as suas obrigações. A filosofia do Flamengo está certa disse o treinador.