O Jogo das Estrelas 2024

Foto: João Pires/Liga Nacional de Basquete
Credit...Foto: João Pires/Liga Nacional de Basquete

Este ano de 2024 pode marcar mais uma mudança sísmica no NBB. Isso porque o Jogo das Estrelas de 2024 termina com a sensação de que as ambições da Liga Nacional, seu evento e campeonato, estão maiores do que a tradicional sede do Ibirapuera pode proporcionar.

Quando lembramos do Jogo das Estrelas em São Paulo recordamos do já clássico evento de 2017, que realmente foi um divisor de águas no basquete e no esporte nacional. Porém, 2024 não é 2017. O NBB, o país e o público são bem diferentes em 2024.

Vamos começar pelas diferenças do próprio NBB. Basicamente, a grande rivalidade de 2017 era Bauru X Flamengo, os clubes sociais como Pinheiros eram forças e tínhamos parte da seleção de 2016 jogando por aqui. Esta não é a fotografia do NBB atual. Hoje, a rivalidade está longe de ser polarizada. Sesi Franca e Flamengo, Bauru e Franca, Minas e Flamengo, São Paulo e Corinthians, Flamengo e Vasco… Ufa! Realmente, o “bicho pega” com rivalidade do próprio basquete e de fora dele. O campeonato é multirregional, com times importantes em diversas regiões e grandes marcas do esporte nacional, conforme apontamos, nas rivalidades.

O NBB de 2024 possui marcas que transcendem o basquete, como Botafogo, Vasco, São Paulo e Corinthians. São camisas que trazem os seus públicos com todo seu bônus e ônus. E isso pode ser um problema para o Jogo das Estrelas. Imaginem o inferno logístico de um evento que tem como alvo famílias e apaixonados por basquete - ter que pensar em torcidas de clubes de futebol? Sem chance. Nenhum ginásio do Brasil, não só o Ibirapuera, é capaz de enfrentar esse desafio. Vide a torcida única nos estádios de futebol e até mesmo no NBB, quando se trata de um clássico entre dois times de camisa. Uma pena, porque parte desse público poderia ter ido na sexta-feira (15) para ver os jogadores de Corinthians e São Paulo nas atividades do dia.

Outro ponto importante sobre 2017 eram os jogadores que participavam do NBB. Marquinhos, Olivinha, Shamell, Giovannoni, Fúlvio, Alex ainda jogavam e são jogadores mais conhecidos do grande público. Hoje, os nossos melhores talentos estão, com toda justiça, jogando fora do país. E mesmo Yago, Caboclo e Georginho ainda não “furaram a bolha” do grande público. Yago e Caboclo jogaram respectivamente por Flamengo e São Paulo durante e pós-pandemia em campeonatos de 2021 e 2022 que, infelizmente, ficaram bem escondidos. Com isso, temos hoje nas quadras do NBB uma mistura de veteranos muito queridos por suas torcidas e um belo grupo de talentos bem jovens. Nomes como Adyel, do Pinheiros, e Zu Jr., do Sesi Franca, empolgaram a torcida. No topo dessa pirâmide, temos como nosso melhor e maior jogador, Lucas Dias, do Sesi Franca. Não gosto da palavra “entressafra”, mas o fato é que hoje o basquete nacional está pagando a conta que começou 10, 15 anos atrás, e uma hora isso chegaria no NBB. Por isso, acredito piamente que o Jogo das Estrelas é uma excelente oportunidade para lançar luz nos jogadores que temos por aqui e nos jovens talentos que podem continuar abrilhantando o NBB, ou mesmo alçar voos mais altos na seleção ou fora do país.

Por fim, passamos pela infra do próprio Ibirapuera. Deram muito certo as atividades da área externa. Assim, tivemos uma das melhores “Fan Zones”, se não a melhor de todos os tempos, com atividades ocorrendo o dia inteiro como torneio de 3x3, stands de patrocinadores e uma bela opção de alimentação com diversos Food Trucks. Palmas para a loja do NBB, que fez com louvor a transição do on-line para o físico. Pela primeira vez, o público podia escolher entre diversos produtos específicos do evento, com grande variedade de estilos e tamanhos. Em 2018, a Nike chegou a fazer algo parecido, mas esgotou logo no primeiro dia. Se fora do ginásio funcionou, dentro dele o veterano Ibirapuera mostrou toda a sua idade. Para piorar, a onda de calor que assolou São Paulo mostrou como o ar condicionado faz falta neste quente 2024. A falta de transporte público para chegar no evento também prejudica. É uma grande encruzilhada para a Liga Nacional: São Paulo é o maior mercado, com visibilidade absurda, mas o palco, hoje, não é o mais apropriado para um evento desse porte.

O time de André Goes, da Unifacisa, venceu o Jogo das Estrelas. Lucas Dias foi o MVP Foto: João Pires/Liga Nacional de Basquete

Depois dessa gigante introdução, vamos ao evento em si. Quem acompanha esse espaço aqui sabe que acreditamos que o Jogo das Estrelas é pródigo em criar momentos (Leia sobre o jogo de 2023 aqui), e este ano não foi diferente.

Vamos a alguns desses momentos:

Felipe Motta no campeonato de Habilidades - Motta joga atualmente no Flamengo e é um jogador jovem que quer solidificar a sua carreira em um grande clube. Essa pode ser a percepção de quem acompanha basquete, mas Motta é um grande ativo quando falamos em números e engajamentos em redes sociais. Ao ser anunciado pelo apresentador, uma boa parte da torcida veio junto. Não só pelo Flamengo, mas também pelo seu grande número de seguidores que estavam por lá. Motta, para um evento como o Jogo das Estrelas, é um trunfo, e a Liga Nacional teve uma boa sacada em colocá-lo no evento;

Alex Dória no campeonato de enterradas - Como diria Thiaguinho, tem que ter muita ousadia e alegria para realizar uma enterrada, como fez o jogador do Paulistano. Não estamos falando da enterrada que ele realizou vestido de Homem-Aranha. Nos referimos ao momento que levou o público do Ibirapuera a se levantar, colocar a mão na cabeça e torcer pelo melhor. Dória simplesmente pulou seu irmão gemeo Lucas com o seu filho com meses de idade pendurado no canguru para realizar a enterrada. Errar a primeira vez só aumentou a dramaticidade e o alívio/festa quando o jogador acertou a enterrada. A imagem de Alex Dória levantando o filho de meses de idade no Ibirapuera foi emocionante e entrou para a história como um dos grandes momentos dos Jogo das Estrelas. Foi uma mistura de ousadia, alegria e fofura.

Veja a jogada:

Jovens talentos vs. Time André Goes - Ao contrário da poderosa NBA e seu insosso All Star Game, o basquete se fez presente no Jogo das Estrelas do NBB. Em uma disputa acirrada, o time Andre Goes, comandado por Lucas Dias, conseguiu fechar a partida em 22 a 21 (são apenas 2 tempos de 6 minutos para o Jogo das Estrelas), com Adyel do Pinheiros fazendo de tudo para os jovens levarem a partida. Como no velho oeste, o “xerife” estava na cidade, e Lucas Dias foi fundamental nos instantes finais para fechar a partida. Entretenimento, competitividade e um basquete bem jogado.

Menção honrosa: Os jogadores do NBB. Não teve um fã sem seu pedido de foto, selfie, um abraço ou um “oi” não correspondido pelos jogadores do NBB. Passando de Alex Brabo a Didi, todos estavam muito solícitos com os fãs, que corresponderam com muitos “joinhas” e rostos felizes.

Mas o que não funcionou? Bem…

Informações no telão - O Jogo das Estrelas é um espetáculo no ginásio e na televisão. O problema todo é que as interações com o público passavam pelo telão. Eram ações como “câmera da dança” ou “Cante comigo” que comandavam o público, o mantinha entretido durante intervalo das competições. Até aí, tudo bem. Porém, faltou ao telão trazer informações importantes do jogo e dos jogadores. Exemplo: durante o campeonato de 3 pontos, vencido por Trevor Gaskins da Unifacisa, o locutor/animador apresentou o jogador, mas em nenhum momento informou o time que Gaskins jogava. Se tivesse a informação no telão com um perfil básico com nome, time e percentagem de 3 pontos, já faria a diferença para mostrar os jogadores para o público de casa e do ginásio;

“Pior jogo do mundo” - Patrocinadores são importantes e mantêm as “luzes acessas”. Agora, uma ação de marketing no Ibirapuera, durante o Jogo das Estrelas, chamada “O Pior Jogo do Mundo”, não dá. A atividade substituiu o Jogo das Celebridades, e no ano passado, em Minas, funcionou bem melhor. Este ano, deveria ter sido colocada no local que esse tipo de ação faz mais sentido: na internet.

Público da sexta-feira - Todo ano a discussão volta: vale a pena termos um ou dois dias de evento? Bem, se fomos pegar por este ano, talvez o melhor seja dois dias: sábado e domingo. Sexta-feira, chegou a assustar ver a parte de cima do Ibirapuera vazia. Em conversa com pessoas que foram ao evento nos dois dias, era unânime: é difícil chegar de transporte público no Ibirapuera. Junta a isso, o horário de início às 19 horas, com grande parte dos escritórios em home office, e o final, às 22 horas, pesou para a falta de público. Uma pena, porque as festividades foram bem legais.

No fundo, o que estamos vendo é uma mudança no Jogo das Estrelas. A Liga Nacional prova, desde sua criação, que é pródiga em criar e reiterar seus produtos com variações de sucesso. O NBB é fruto dessa ousadia e, desde 2008, traz a elite do basquete nacional. A Liga ajudou a mudar o patamar dos times nacionais, e hoje são hegemonia no basquete latino americano. Com sua LDB, ajudou a formar a base da seleção brasileira (Yago, Caboclo) e, por fim, criou um torneio, o Super 8, dentro da temporada, que é um dos melhores campeonatos de todos os esportes praticados por aqui.

O Jogo das Estrelas de 2024 foi um sucesso, isso é fato. São Paulo é o maior mercado e esse tipo de evento deve ocorrer por lá. Só não tenho certeza se no Ibirapuera a Liga Nacional conseguirá colocar todo o gigantismo do NBB em um dos seus maiores holofotes.

 


A 'Fan Zone' do Jogo das Estrelas foi um dos pontos altos do evento
O time de André Goes, da Unifacisa, venceu o Jogo das Estrelas. Lucas Dias foi o MVP


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