ESPORTES

INFORME ESPORTIVO: Liberdade no futebol moderno, avante ou farsante?

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Por DIOGO DURÃO
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Publicado em 19/02/2023 às 06:01

Alterado em 26/02/2023 às 12:05

Fernando Diniz Lucas Merçon/Fluminense

Resolvi evocar uma reflexão acerca de um discurso recorrente no futebol.

Meio à ininterrupta evolução tática do esporte número um do mundo, parece haver uma padronização "filosófica" nos trabalhos dos técnicos.

A cada temporada, mais clubes empenham-se por uma suposta identidade institucional. Tal conceito sintoniza-se com a predileção ao novo e específico perfil de líderes - leia-se treinadores - para suas equipes, das categorias de base ao profissional.

Os estilos "boleiro", motivador e até mesmo o estrategista, gradualmente, estão perdendo espaço no mercado da bola. Uma nova geração de técnicos, afamada como "os estudiosos", passou a vigorar como prioridade nos processos de (re) estruturação dos times.

Antes de adentrarmos ao cerne da questão, é válido reconhecer que a exigência profissional para um treinador de futebol aumentou bastante. Além das dominâncias táticas e gerenciais, prover-se de metodologias contribuintes para formação de atletas passou a ser pré-requisito. Não à toa esse compilado tem sido valorizado no alto rendimento. Afinal, tão importante quanto resultados. Descobrir, destacar e exportar talentos ainda prevalece como maior e mais universal fonte de receita.

Sem depreciar a importância dos ditos professores (de fato e/ou de direito) no comando das equipes, venho indagar sobre um demagogo alinhamento entre teória e prática, e o quanto toda fundamentação tem implicado rigidez e disciplina para "jogar o jogo".

Vendem (ou alugam) uma plataforma de liberdade e negam que haja uma política conteudista capaz de inibir qualidades inatas.

Sem generalizacões, me sinto seguro em apontar o atual intervencionismo tático como um das causas limitantes para descoberta/renovação de craques.

A matéria-prima do futebol é o atleta. Que cada vez mais precocemente (sub 9, 8 e 7) é exposto a rigorosos módulos e processos seletivos.

Deste modo, será que a ideia de que atleta pode agir e, invariavelmente, reagir de maneira autônoma, é legítima? Ou seja, se apropriar dos seus recursos físicos e técnicos sem que as ordens coletivas balizem suas decisões...

Para muitos inovadores do futebol, sistemas táticos servem para blindar o jogador e oportunizar potencialização dos seus respectivos dotes. Sim, eu concordo! E vocês?

Migrando para fatores extracampo, será que a cíclica cadeia que perpassa por torcedores, empresários, gestores, técnicos e jogadores estabelece relações com tais privações na jogabilidade?
Pensemos: Em que ordem funciona esta engrenagem quando a tônica é cobrar?

Sabemos que frequentemente a diretoria estabelece que a confiança no trabalho de uma comissão técnica condiciona-se ao resultado nu e cru. Assim sendo, considero automática essa transferência de cobrança na relação comandante e comandados. Para tanto, convido-os a interpretar algumas diretrizes clássicas de vestiário:

 

"Faça seu jogo, mas jogue pelo extremo x, não centralize de jeito nenhum."

"Vá com tudo, mas guarde a posição e não invista ofensivamente."

"Jogue a vontade, mas só no último terço do campo."

"Confio em você, mas não drible na zona x do campo."

"Ouse, mas não abra mão de sustentar a posse de bola."

"Crie, mas sem abdicar do jogo de passe entre linhas."

"Dê o máximo, mas pra cumprir com o que combinamos."

 

Quanto MAIS informação, melhor. MAS compreendem?!

Saem na frente aqueles que se mostram capazes de gerar estímulos e ferramentas para as tomadas de decisão mais assertivas.

Manteem-se à frente os que criam e nutrem mecanismos para que ações individuais estejam ancoradas aos pilares coletivos.

Talvez a coragem, ora do técnico, ora do atleta, ora de ambos, deixe de sucumbir ao sistema.

Os produtos que os estudiosos do futebol ofertam ao jogo não são bons, são ótimos! Contudo, a premissa de jogar livremente precisa seguir sendo um meio e, às vezes, um fim.

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