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Por vitrine e geopolítica, emir do Qatar gasta bilhões no esporte

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Uma das fotos usadas como propaganda da Copa do Mundo de 2022 nas ruas de Doha tem o presidente russo Vladimir Putin segurando o troféu do torneio ao lado do mandatário da Fifa, Gianni Infantino.

Há também uma sorridente figura de terno azul-escuro e espesso bigode. O rosto dele está em todos os lugares no Qatar.

O culto à personalidade do emir xeque Tamim bin Hamad Al Thani, 39, faz parte do dia a dia na capital tanto quanto as crianças vestidas com uniformes do Exército dos pés a cabeça, acompanhadas dos pais.

Educado em escolas britânicas e a mente por trás do projeto de tornar o Qatar conhecido como um centro esportivo, o xeque fez convites a amigos de outros países para que presenciassem um momento que, para ele, tornou-se uma vitória também no campo diplomático: a final do Mundial de Clubes entre Liverpool e Flamengo.

Um dos convidados era o ex-presidente argentino, Mauricio Macri. O emir tem terras na Patagônia, gosta da Argentina e considera a possibilidade de fazer investimentos no país.

Ele autorizou em 2018 o patrocínio da Qatar Airways, empresa ligada à família real, ao Boca Juniors, time que teve Macri como presidente.

Além de ver a realização de eventos esportivos como uma maneira de vender o Qatar como um polo turístico, o xeque divulga seu gosto por esportes, especialmente futebol. No Aspire Academy, a poucos metros do Khalifa Stadium, onde aconteceu a final do Mundial de Clubes, ele jogou futebol no ano passado com Infantino. Também já foi filmado praticando tênis, badminton e boliche.

O Qatar foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2022 em 2010, quando o emir ainda era Hamed bin Khalifa Al Thani, pai de Tamin e homenageado pelo nome Khalifa no estádio que depois do torneio será mantido como principal arena esportiva do país. A principal força por trás da candidatura, que de início nem sequer era levada a sério pela entidade, foi o filho.

O xeque Tamim passou a ser emir em 2013, quando Hamed abdicou do cargo. Desde o anúncio de que seria sede da Copa, o Qatar convive com denúncias de compra de votos e desrespeito aos direitos humanos de imigrantes que trabalham nas construções dos estádios no país. O governo nega todas as acusações.

“O Mundial de Clubes é um teste importante, em alguns aspectos, para o que vamos ter na Copa do Mundo, e estou satisfeito com o que tenho visto”, disse Infantino antes do torneio.

Foi uma declaração para agradar ao emir, porque a Fifa não ficou satisfeita com a presença de público da competição. A única partida com lotação máxima antes da final foi entre Liverpool e Monterrey. Mas não era hora de desagradar quem se tornou um dos grandes parceiros de entidades do futebol, não apenas da entidade que comanda o futebol.

A Qatar Airways é patrocinadora da Conmebol e pagou todas as despesas da final da Libertadores de 2018, em Madri, entre Boca Juniors e River Plate.

O emir deseja ser visto como uma personalidade esportiva. Já foi o chefe da comissão que organizou os Jogos da Ásia em Doha, em 2006. Ele é integrante do Comitê Olímpico Internacional e chefiou o pleito da capital de sediar os Jogos Olímpicos de 2020, que serão em Tóquio.

A preocupação em agradar existe porque Infantino sabe que o xeque Tamin ocupa postos que são chave para o sucesso da próxima Copa do Mundo, a primeira que acontecerá em dezembro e não em julho.

Ele é, por exemplo, chefe da diretoria do Qatar Investment Authority, fundo soberano encarregado de todos os investimentos nacionais ou estrangeiros feitos pelo país. Entre esses, a compra do Paris Saint-Germain em 2011 e, seis anos depois, a de Neymar, por 222 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão em valores atuais). Em outubro de 2019 ele esteve com o presidente Jair Bolsonaro para trocar informações sobre a organização da Copa.

"O Brasil é uma nação esportiva. Temos muito a aprender com o Brasil e queremos levar essas conversas adiante", afirma Hasan Al Thawadi, secretário-geral do Comitê para Execução e Legado do Mundial de 2022, responsável por toda a preparação para o evento e um dos assessores mais próximos ao emir.(Alex Sabino/FolhaPress)