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Aos 18, Gabriel Martinelli sai do Ituano e vira sensação no Arsenal

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Dos 23 jogadores presentes na última lista de convocados do técnico Tite, 10 deixaram o Brasil rumo à Europa sem completar pelo menos, 50 partidas no futebol brasileiro.

Alguns partiram quase no anonimato, sem registrar nenhuma marca importante no país, antes de vestir a camisa de uma grande equipe europeia.

O atacante Gabriel Martinelli, 18, é um dos exemplos mais recentes desse êxodo de jovens promessas. Ainda não foi chamado para a seleção principal, mas acabou de ser convocado pela primeira vez para defender o time sub-23 do Brasil no Torneio de Tenerife, de 11 a 17 de novembro.

Em julho, suas 34 partidas pelo profissional do Ituano convenceram o Arsenal a investir 6 milhões de libras (R$ 30 milhões) nele, que teve passagem pela base do Corinthians até os 13 anos, antes de se mudar para Itu (interior de São Paulo) com a família e começar a treinar no juniores do principal time da cidade.

Nos sete jogos que disputou até agora pelo clube inglês, o garoto tem justificado a aposta. Ele marcou sete gols pela equipe londrina, dois deles nesta quarta-feira (30), diante do Liverpool, pelas oitavas de final da Copa da Liga Inglesa -a partida terminou empatada por 5 a 5 e, nos pênaltis, os rivais avançaram.

O início de temporada europeia deu continuidade a um bom ano de 2019 no Brasil. Em janeiro, ele era uma das promessas da Copa São Paulo, competição na qual fez seis gols em quatro partidas.

Apesar de ter sido promovido definitivamente ao profissional do Ituano após disputar o torneio de juniores, Martinelli já havia atuado no time principal em 2018. Sua estreia foi em 17 de março, contra o São Bento, quando se tornou o mais jovem atleta a atuar pela equipe de Itu, com 16 anos e nove meses. Até deixar o país, ele marcaria 10 vezes em 34 jogos, média de 0,29 gol por jogo.

A média de um gol por partida no Arsenal até agora deixou ótima impressão nos ingleses. Martinelli é reserva nos principais jogos e ganha chances nos torneios menos importantes para o clube (como a Copa da Liga Inglesa e a Liga Europa), mas já se tornou vice-artilheiro do time na temporada, atrás apenas do experiente Aubameyang, 30, autor de oito gols.

Ao exaltar as atuações do brasileiro, a BBC afirmou que o atacante esteve na mira do Manchester United e que o clube pode ter perdido o "novo Cristiano Ronaldo." A rede britânica destacou a capacidade de concentração e precisão das finalizações dele.

Mais cauteloso, o jornal The Guardian também elogiou o brasileiro, mas lembrou que o Arsenal tem um histórico de sul-americanos com bom início no clube que depois não se firmaram.

O técnico da seleção italiana, Roberto Mancini, também se interessou pelo atleta. Como ele tem avós italianos e tenta tirar o passaporte europeu, o comandante manifestou desejo de contar com o atleta na Azurra.

Enquanto não disputar uma competição oficial organizada pela Fifa, Martinelli poderá escolher em qual seleção buscará o seu espaço. Tite já conversou com Martinelli e o chamou para completar treinos da equipe principal na preparação para a Copa América deste ano. A convocação para a seleção sub-23 também o aproxima do Brasil.

De perfil discreto, o atacante demonstra não se impressionar com a badalação. Quem fica empolgado é o pai, o aposentado João Martinelli, 58, que tem o desejo de ver seu filho jogar uma partida do principal torneio de clubes da Europa.

"O meu sonho, sonho de pai, é ver ele jogar uma Champions League, ser campeão. Sempre deixei isso claro para ele", diz o ex-ferramenteiro à reportagem. Sobre jogar pelo Brasil ou pela Itália, João deixa a escolha para o filho. "A gente vai amadurecer essa ideia, mas sempre vai prevalecer a vontade dele."

No time londrino, o atacante disputa, atualmente, a segunda competição do continente, a Liga Europa, na qual já atuou em dois jogos e marcou três gols.

Dois deles foram logo em sua estreia, diante do Standard Liège, da Bélgica, quando ele se tornou o mais jovem jogador a marcar dois gols pelo Arsenal em competições europeias, com 18 anos e 107 dias.

"Não poderia imaginar um início de trajetória melhor com a camisa do Arsenal", disse após a partida.

Quem acompanha o desenvolvimento do atleta desde as categorias de base afirma não ter ficado surpreso com a rápida adaptação.

"O pacote dele sempre foi muito completo. Sempre soube fazer jogadas tanto para ele mesmo definir como para servir os companheiros. Tem um repertório muito grande de finalizações, além de inteligência para mapear o campo e encontrar os melhores espaços. E lida muito bem com a pressão", afirma o técnico do Ituano, Vinícius Bergantin, responsável por promover Martinelli ao profissional.

Bergantin não o compara a Cristiano Ronaldo, mas destaca semelhanças entre as personalidades de ambos.

"Ele é muito determinado, completo em campo, é complicado comparar, mas eu vejo nele uma linha parecida com a do Cristiano Ronaldo, principalmente na parte mental. É um jogador que não quer perder um treino e não se empolga com as coisas que a profissão oferece", diz.

O português também atuou no futebol inglês no início da sua carreira. Assim como o brasileiro, chegou à Inglaterra com 18 anos, em 2003, comprado pelo Manchester United do Sporting (POR). Na primeira temporada, fez 6 gols em 40 partidas.

O craque é a grande inspiração de Martinelli. "Sempre dou tudo nos jogos. Atuo para a equipe e tento ganhar partidas e títulos. Tenho como exemplo o Cristiano Ronaldo", afirmou o atacante, que vê sua dedicação ser reconhecida pela torcida do Arsenal.

Quando ele está em campo, os torcedores entoam seu nome, embalado pelo ritmo de uma música da banda de pós-punk britânica Pigbag. (Luciano Trindade / FolhaPress SNG)