Foram duas semanas e um dia de notas oficiais e monólogos em frente a jornalistas. Ontem, enfim, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, começou a responder perguntas sobre o incêndio no alojamento das categorias de base do Ninho do Urubu, que matou dez jovens atletas entre 14 e 16 anos. Em entrevista coletiva de cerca de uma hora e meia na Gávea, o mandatário rubro-negro defendeu os valores indenizatórios oferecidos aos familiares das vítimas, que teriam sido "o dobro" da resolução em casos semelhantes no Brasil.
O dirigente não citou números, mas deu a entender que a jurisprudência nesses casos registra valores abaixo do pedido em negociação com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, com o Ministério Público Estadual e com o Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ). "O Flamengo está sempre empenhado a chegar a um acordo o mais rápido possível com essas famílias. O que estamos pagando é sem precedentes na história do país", declarou Landim.
Ao longo da semana, algumas famílias de vítimas demonstraram descontentamento com a postura dos dirigentes do Flamengo e com os valores inicialmente oferecidos pelo clube. Após uma reunião de conciliação entre famílias, autoridades e representantes do Flamengo, na última terça-feira, a procuradora Danielle Cramer, do MPT-RJ, informou que o clube ofereceu de R$ 300 mil a R$ 400 mil por família, enquanto as autoridades sugeriram R$ 2 milhões para cada.
Apesar da queixa de alguns dos pais das vítimas depois do encontro, o presidente garantiu que houve nova reunião com uma família, a pedido dela, na sexta-feira. E acrescentou que outras já fizeram a mesma solicitação.
Landim e um advogado contratado pelo Flamengo alegaram preocupações com a privacidade e a segurança das famílias para manter valores sob sigilo. Segundo o dirigente, os valores citados nas negociações seriam "um piso". O presidente disse ainda que não é possível pagar "dez ou cem vezes" o valor da jurisprudência. Os casos usados como referência "são situações mais próximas, casos de crianças sob a guarda de empresa ou de alguém" e não o incêndio na boate Kiss, hipótese que havia sido ventilada.
"O Flamengo teve alvará para utilização do Ninho com módulos iguais aos que estavam ali, com licença emitida em janeiro de 2012. Poderia não ter um alvará naquele momento, mas já teve autorização para módulos semelhantes. Tenho zero de dúvida que foi uma fatalidade", justificou.