
A parte administrativa se divide entre um presidente de 77 anos e um vice de 54, que pode ser considerado um garoto no contexto em que está inserido. Do enxuto quadro de cinco funcionários, o mais novo tem 65 anos. As estruturas de iluminação do estádio Leônidas da Silva estão paralisadas há três décadas, desde a penhora dos refletores.
As marcas de um ciclo passado denotam que o centenário Bonsucesso Futebol Clube, hoje na segunda divisão estadual, parou no tempo. E nem mesmo o jogador mais ilustre da história rubro-anil, que dá nome ao estádio, foi capaz de mudar essa realidade. “O Leônidas nunca fez nada pelo Bonsucesso”, garante o vice-presidente administrativo Nilton Bittar, em referência ao período posterior à passagem do craque pelo clube.

Enquanto o movimentado comércio da Avenida Teixeira de Castro, típico do subúrbio carioca, segue a todo vapor, a sede do rubro-anil passa quase despercebida, mesmo com o bom estado em que se encontra. Os cerca de 250 sócios do clube podem usufruir apenas do terceirizado parque aquático, já que o resto da estrutura está interditado, por conta de exigências burocráticas do Estatuto do Torcedor. Desde 2015, o mando dos jogos da equipe acontece no Moça Bonita, em Bangu.
“Os presidentes anteriores achavam que o clube podia permanecer do jeito que estava. Que não podia alçar voos mais altos. Não quiseram sair do marasmo. Como resultado, o Bonsucesso está estacionado há 15 anos”, admite Bittar, 54, ligado à agremiação desde os sete anos de idade.

Como os R$ 7,5 mil mensais arrecadados com os sócios mal servem para pagar a conta de luz da sede, na faixa dos R$ 6,2 mil, o futebol do Bonsucesso fica a cargo do empresário Marcelo Salgado, do ramo dos medicamentos hospitalares. “O Bonsucesso hoje não consegue andar com os próprios pés. Clube pequeno não sobrevive sozinho. Mesmo conseguindo o acesso”, lamenta Nilton Bittar.
Presidente pessimista
Salgado, responsável pelo futebol, garante já ter investido aproximadamente R$ 3 milhões desde que assumiu a gestão da equipe, na Copa Rio de 2014. “Ninguém é maluco de botar dinheiro em algo sem pensar em ter retorno. A expectativa é fazer algum jogador explodir”, explica o empresário.
Entre os obstáculos encontrados para voltar à Série A, de onde o clube caiu em 2016, está a esdrúxula seletiva de acesso, que impede os clubes da B de subirem diretamente para a A.
“Quem manda no campeonato é a TV. E falam que a seletiva é exigência da Globo. Ela não quer saber do Bonsucesso, do Olaria. Se pudesse optar, eu não queria jogar seletiva. Mas fico a mercê. Como vou bater de frente? Só se todo mundo se unir”, propõe Salgado.
O discurso articulado do vice administrativo e do gestor do futebol em nada tem a ver com a visão cruel e pragmática do presidente, Ary Amancio Pereira. Divergente da figura de um cartola, o mandatário frequenta a sede do clube de bermuda e chinelo, e fica na porta conferindo quem entra e sai.
“Estamos trabalhando, mas é muito difícil resgatar os tempos de outrora. O que passou, passou. Não volta mais. Não adianta ficar na esperança, tem que esquecer”, dispara.
Ginásio está fechado
À primeira vista, a sede da Teixeira de Castro parece funcionar perfeitamente, conforme aparentam o estado de limpeza e as paredes pintadas. A situação real, no entanto, é bem mais crítica. Afinal, o estádio Leônidas da Silva se encontra interditado pelo Estatuto do Torcedor. E até outras áreas do clube são afetadas pela condição precária das finanças do Bonsucesso.
O ginásio poliesportivo está fechado desde 2012, devido a uma penhora da 9ª Vara de Execução Fiscal do Rio de Janeiro, que terminou em leilão do espaço por R$ 1,9 milhão, O valor está sub judice. Desde então, o clube luta por uma ação anulatória, com base num decreto de várias décadas atrás.
O Bonsucesso foi considerado clube de utilidade pública pelo Decreto Municipal nº 3595, de 29/04/1950. Apesar disso, o fechamento do ginásio impede que a agremiação mantenha suas atividades em esportes olímpicos, como vôlei e basquete, além do futsal, que eram praticados pela população de Bonsucesso e região.
“Estamos tentando reverter essa decisão. O Bonsucesso é um clube de utilidade pública, e perante a Justiça não poderia acontecer isso. Ela se equivocou. Mas os juízes não são obrigados a saber tudo. Houve omissão da diretoria passada em não fazer a defesa adequada” argumenta o vice-presidente administrativo Nilton Bittar.