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A crônica "Cora Coralina, de Goiás" descortinou o talento da escritora

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Aninha da Ponte da Lapa, como era conhecida antes de fazer sucesso por todo o Brasil, já escrevia textos ímpares sobre o povo do interior de Goiás, além de poesias e histórias infantis desde os 14 anos. Só aos 75, no entanto, teve a oportunidade de publicar um livro. Pouco depois, ao conhecer a obra e tornar-se admirador da poesia da doceira humilde, Carlos Drummond de Andrade descortinou o talento de Cora Coralina (pseudônimo de Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas) com a crônica "Cora Coralina, de Goiás". O texto foi publicado no dia 27 de dezembro de 1980 no caderno B, no  Jornal do Brasil, e transformou o cronista em padrinho do sucesso da poetisa goiana.

>> Leia a crônica "Cora Coralina, de Goiás", na íntegra 

Cora Coralina só se tornou um grande nome da nossa Literatura, reconhecida pelo povo brasileiro, depois que Drummond leu, gostou, e divulgou uma de suas obras. 

"Cora Coralina: gosto muito deste nome, que me invoca, me bouleversa, me hipnotisa, como no verso de Bandeira", exaltou o poeta mineiro antes de convidar seus leitores do  Jornal do Brasil  a conhecer a obra dela: "Assim é Cora Coralina (...) : mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na solidão e que pode ser contemplado em sua pureza no livro  Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais . Não estou fazendo comercial de editora em época de festas, a obra foi publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros comovedores, este é um deles."

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Os motivos da poesia de Cora ao longa da vida, como bem mencionou Drummond, eram sem fim: "o menor abandonado, o pequeno delinquente, o presidiário, a mulher-da-vida" (...) Tem poemas sobre "a enxada, o pouso de boiadas, o trem de gado, os becos e sobrados, o prato azul-pombinho, último restante de aparelho majestoso de 92 peças". Para Cora, não havia assunto proibido à poesia ou ao conto. Tudo era tema de uma boa história. Mesmo sem o pleno conhecimento da gramática.

No início da obra, Cora dedicou-se a retratar, fosse através de contos ou de poesias, o cotidiano de seu povo, no interior de Goiás. Durante de sua passagem por São Paulo ampliou os assuntos tratados em suas brochuras, abrindo espaço para temas de cunho social como a pobreza e a prostituição. 

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