O PT inscreveu nesta quarta-feira (15), em Brasília, a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), líder histórico do partido, preso desde abril, jogando o seu futuro em um desafio que também põe à prova a solidez institucional do País.
"Registro em mãos! Agora está oficializada a candidatura de @LulaOficial nas Eleições 2018. #LulaÉCandidato", anunciou a conta PT Brasil no Twitter, com a foto da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, exibindo o documento após protocolar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
"Este é o registro da ousadia do povo brasileiro!", proclamou Walter Freitas, líder da Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma das organizações de esquerda que convocou as passeatas "Lula livre", que chegaram na terça-feira a Brasília para pedir liberdade ao ex-presidente (2003-2010).
A ex-presidente Dilma Rousseff, herdeira política de Lula, destituída em 2016 pelo Congresso, dirigiu-se à multidão, denunciando os "golpistas" que, ao deporem-na, puseram um fim a 13 anos de governos de esquerda na maior economia latino-americana.
"Eles achavam que não íamos resistir, mas ficamos de pé. Enfrentamos esses golpistas. Lula candidato representa a democracia do nosso país", declarou.
O ex-prefeito de São Paulo e companheiro de chapa de Lula, Fernando Haddad, visto por muitos como seu potencial substituto, leu uma carta na qual o ex-presidente reafirmou sua inocência e prometeu tirar o Brasil da crise econômica.
"Lula foi vítima de uma ilegalidade. Se não puder ser candidato, será um atentado contra a democracia brasileira. Eleição sem Lula é fraude", disse João Martins, funcionário público de 53 anos que veio de Campinas.
Vindos de várias partes do Brasil, milhares de simpatizantes do ícone da esquerda marcharam até a sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para acompanhar os membros do PT que entregaram - no último dia do prazo - sua improvável postulação às eleições de 7 de outubro, com um eventual segundo turno no dia 28.
- Comitê de campanha na PF em Curitiba -
Atualmente, Lula compre pena na Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.A Força Tarefa da Lava Jato pediu nesta quarta-feira o fim das visitas da senadora Gleisi Hoffmann ao ilustre prisioneiro, a fim de impedir que o local se torne um "comitê de campanha".
"As visitas não têm por objetivo a defesa do condenado, mas sim permitir a Luiz Inácio Lula da Silva a condução e intervenção no processo eleitoral para o qual está materialmente inelegível, transformando o local onde cumpre pena - a sede da Polícia Federal - em seu comitê de campanha".
Aos 72 anos, Lula é o favorito nas pesquisas, com cerca de um terço das intenções de voto, quase o dobro de qualquer um dos outros 12 candidatos.
Mas a candidatura do ex-presidente muito provavelmente será invalidada, segundo juristas, pois a Lei da Ficha Limpa, promulgada sob seu governo, torna inelegível condenados em segunda instância, seu caso.
O TSE, que tem até 17 de setembro para o futuro de Lula, vai durar alguns dias, senão semanas, para decidir.
A nova presidente do TSE, Rosa Weber, recordou que qualquer candidatura pode ser invalidada "de ofício", mesmo que não seja questionada pelo Ministério Público, algum partido ou candidato.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu na noite desta quarta-feira a impugnação do registro da candidatura de Lula ao TSE com base na lei da Ficha Limpa.
Se a candidatura de Lula for de fato impugnada, o PT terá, então, pouco tempo para fazer campanha para Fernando Haddad, com a incógnita de se conseguirá transferir para ele os votos do carismático ex-presidente.
Uma aposta, segundo analistas, que é muito arriscada.
Para o cientista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, o que está em jogo com essa estratégia "é o futuro do PT como o principal representante da centro-esquerda no Brasil".
"Dificilmente o Haddad ganhará esta eleição", mas "o PT apresentará sua nova cara para os próximos pleitos".
Ou ficará sem nenhuma...
O PT soma reveses desde a destituição da presidente Dilma Rousseff pelo Congresso em 2016, seguida de uma contundente derrota nas eleições municipais daquele ano e da prisão de muitos de seus líderes históricos.
O ex-presidente foi condenado como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, oferecido pela construtora OAS em troca de sua mediação em contratos com a Petrobras.
Ele enfrenta outros cinco processos, mas se declara inocente em todos e denuncia uma perseguição político-judicial para impedi-lo de voltar ao poder.
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