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Poucas propostas e muitos ataques marcam reta final da eleição no Rio

Em busca dos eleitores indecisos, Crivella e Freixo exploram pontos fracos

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O segundo turno da eleição à Prefeitura do Rio de Janeiro está na reta final. No dia 30 de outubro o eleitor carioca vai poder escolher entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (Psol) para o próximo governante da cidade. Com uma campanha marcada por ataques de ambos os lados, e pelo alto índice de indecisos, brancos e nulos nas pesquisas, o que esperar para os últimos dias da eleição?

O professor de Ciências Sociais da UFRJ, Paulo Baía, que comentou o primeiro debate entre os dois na Band News FM, avalia que os dois estão utilizando como estratégia uma publicidade de combate. “Não é assim que acho que uma campanha deveria ser, mas os publicitários gostam.” Para ele, o que estamos vendo é uma campanha de “propostas mínimas”, com a propaganda e os debates dominados por ataques e contra-ataques.

Esta visão é compartilhada pelo professor de Ciência Política da Unirio, Felipe Borba, que também observa que o tom predominante da campanha é o de ataques. “Freixo fez uma campanha mais negativa no começo e agora o Crivella está devolvendo os ataques, relacionando o Freixo aos black blocks. Freixo tenta rotular o Crivella como intolerante religioso”, afirma. Borba não acredita em mudanças drásticas dos eleitores de ambos os candidatos. “A verdade é que os dois têm eleitores já consolidados. É difícil que esses eleitores mudem por causa dos ataques.”

Mas e quanto aos eleitores indecisos? Para o professor, esses eleitores podem ser impactados se perceberem que a eleição do candidato é um risco. “No campo da especulação, o eleitor que aderiu a uma campanha sem muita convicção pode ser afetado.” Já Baía crê que a campanha reforça o estigma ante ao eleitor de que os partidos políticos não prestam. “O eleitor reage muito mal a essas campanhas, ele quer propostas”, afirma.

Para ele, mesmo quando há propostas, elas são motivo de ataque. “O segundo turno foi marcado por violência e agressividade. As propostas em si já são motivo de ataque, como o IPTU e a segurança pública.” De acordo com Borba, a crise no estado já afeta a prefeitura, o que engessa a campanha de ambos os candidatos no que tange às propostas de ambos.

Nesse contexto, Crivella acaba sendo beneficiado. “Ele é mais direto. Fala mais dos problemas do eleitor do que o Freixo, que trata mais de questões de participação pública na democracia e transparência. O Freixo não consegue conexão com o eleitor de baixa renda, que não sabe como essas propostas vão afetá-lo. Esse eleitorado é muito preocupado com o dia a dia.” Para Borba, a candidatura que mostrar ter a maior capacidade de resolver esses problemas cotidianos deve se sobressair.

Baía crê que, diante dos pontos fracos que vêm sendo expostos de ambos os candidatos, quem sai perdendo não é nem um, nem outro, e sim o eleitor. “Crivella explora a trajetória de defensor dos Direitos Humanos do Freixo, enquanto Freixo desconstrói a imagem de honestidade de Crivella e sua pretensa intolerância religiosa, isso não serve ao eleitor.”

Para Borba, os ataques só saem do campo pessoal e partem para o campo programático quando Crivella, por exemplo, ameaça que Freixo deve aumentar o IPTU. Fato negado pelo candidato. Para o professor, há pouco tempo hábil para os candidatos apagarem essas vulnerabilidades. “Para lidar com as acusações, Crivella diz que vai ajudar o carnaval carioca, que não vai colocar o [ex-governador Anthony] Garotinho no governo dele, que vai manter a Parada Gay. Já Freixo afirma em seu discurso que vai ser moderado. Uma grande crítica do eleitor é o radicalismo dele e do Psol”, afirma.

Para ambos, o clima da campanha e as preferências do eleitorado ainda podem ser afetadas até o dia da eleição, principalmente o voto do eleitor ainda indeciso. “O resultado da última pesquisa do Ibope mostrava um viés de alta do Freixo. Se esse viés for mantido, teremos um empate técnico”, afirma Baía.

Já Borba acredita que o papel da imprensa pode ter um peso significativo nos últimos dias de campanha. “A grande mídia se posicionou contra o Crivella, o que não significa apoio ao Freixo, com a manchete do jornal O Globo e a capa da Veja. Essa dinâmica pode afetar a opinião pública, impactando no resultado no fim da campanha”, opinou Borba.

* do projeto de estágio do JB