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Trump minimiza risco de guerra comercial, mas diz que é fácil ganhar

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O presidente americano, Donald Trump, reforçou nesta sexta-feira (2) suas ameaças de impor "taxas recíprocas" aos parceiros comerciais e afirmou que as "guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar". 

"Muito barulho por nada", opinou o secretário de Comércio, Wildbur Ross, em um programa de televisão, enquanto as bolsas caíam e ameaças de represálias comerciais, bem como advertências de órgãos como OMC e FMI, se espalhavam. 

"Quando um país (EUA) está perdendo bilhões de dólares no comércio com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras comerciais são boas, e fáceis de ganhar", escreveu Trump no Twitter.

Assim, Trump redobrou sua aposta no protecionismo, o que provocou uma onda global de rechaço, após o presidente americano anunciar a decisão de impor a partir da próxima semana tarifas de importação de 25% para o aço e de 10% para o alumínio. O objetivo seria punir práticas comerciais que ele acredita serem desleais, aumentarem o déficit e roubarem empregos americanos.

>> Azevêdo: OMC está preocupada com tarifação de Trump

Irritação generalizada

O anúncio irritou parceiros comerciais como Canadá, Alemanha, Brasil, México e União Europeia, bem como sua concorrente China. 

Como o presidente, o secretário de Comércio ignorou das reações. Em um programa de TV, ele usou latas de cerveja, refrigerante e sopa para demonstrar que a população americana não seria afetada. 

"Essa é uma lata de sopa da Campbell. Há cerca de 2,6 centavos de valor de aço. Se isso subir 25%, fica ao redor de seis décimos de um centavo sobre o preço da lata", explicou. "É insignificante", apontou. 

Um alto funcionário da Casa Branca disse que nenhum país ficará de fora da alta das tarifas.

"O presidente deixou claro que essa será uma tarifa geral, sem nenhuma exclusão", disse a fonte, que pediu para não ser identificada. Contudo, a Casa Branca vai considerar a possibilidade de isenções em situações muito particulares.

'Risco real'

Contudo, a Europa soou os tambores de guerra. Produtos americanos emblemáticos já estão na mira de Bruxelas, como os da Harley-Davidson, Bourbon e Levi's.

"O risco de escalada é real, como mostraram as primeiras respostas dos outros" países, indicou nesta sexta-feira o diretor-geral do Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo. 

Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que as decisões de Washington poderão prejudicar "não apenas fora do país, mas também a própria economia americana". 

A China pediu hoje para Washington restringir medidas protecionistas e "respeite as regras" do comércio internacional, mas não citou represálias.

A China é o maior produtor de aço do mundo, embora represente apenas 1% do mercado norte-americano. 

No Canadá, o influente sindicato Unifor pressionou o governo a se retirar do Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), se Trump cumprir sua promessa. 

Impacto interno

Os Estados Unidos são o maior importador mundial de aço. Entre setembro de 2016 e setembro de 2017, comprou 26,9 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Comércio americano. 

Neste contexto, os efeitos para os consumidores não tardariam a chegar. 

A gigante automotiva Toyota, por exemplo, admitiu que não descarta um aumento nos preços de seus veículos e caminhões vendidos nos Estados Unidos. 

Já a empresa sueca de eletrodomésticos Electrolux anunciou a suspensão de seu plano de investimentos nos Estados Unidos. 

Na América Latina, o México representa 9% das importações americanas de aço, enquanto o Brasil representa 13%.

Indústrias e sindicatos brasileiros condenaram, nesta sexta-feira, o anúncio dos Estados Unidos, que provocou fortes quedas nas ações siderúrgicas da Bovespa. 

O governo brasileiro expressou, na véspera, sua "enorme preocupação" com a medida. 

"A decisão americana de impor sobretaxas ao aço e alumínio é injustificada, ilegal e prejudica o Brasil", afirmou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) em um comunicado.