Matéria publicada nesta quarta-feira (30) pelo The Wall Street Journal aponta que os mercados podem não ser os locais de negociação perfeitamente eficientes da teoria econômica, mas eles costumam ser internamente consistentes. E isso se confirma com Donald Trump. Três semanas depois de Trump ganhar a eleição americana, praticamente todos os investimentos contam a mesma história: crescimento renovado e inflação nos Estados Unidos, ausência de retaliação dos mercados emergentes a qualquer tarifa que ele possa impor e nada de erros na política externa. Como resultado, há confirmações múltiplas da forma como os mercados interpretaram Trump, seja observando o desempenho das ações, dos títulos de dívida, ouro, metais ou o dólar.
O Journal questiona: Como tantas classes de ativos podem estar tão erradas? Na verdade, bem facilmente. O perigo é que os investidores estão respondendo aos seus próprios preconceitos e recebendo reforços uns dos outros. Embora o mercado esteja internamente consistente, isso não será suficiente caso ele tenha julgado mal o cenário mais amplo — como faz frequentemente com a economia, e mais ainda com presidentes. As oscilações desde o dia da eleição são grandes, mas na realidade elas são apenas uma aceleração de uma tendência que já estava ocorrendo. O mercado notou sinais de crescimento na economia americana em meados do ano, e foi lentamente abandonando as apostas negativas desde que os eleitores americanos foram às urnas votar.
Segundo a reportagem os títulos de dívida são o exemplo mais óbvio, com a rentabilidade das notas do Tesouro com vencimento em dez anos atingindo uma nova mínima de 1,32% no início de julho e voltando a subir desde então. No mercado de títulos, a rentabilidade caminha inversamente aos preços. No dia da eleição, ela já estava em 1,86% e, desde então, subiu para 2,33%. Investidores que mantiveram seus títulos perderam 7,4% no preço da nota de dez anos desde o início de julho, a maior perda para um período similar desde 2013, no momento em que o Federal Reserve, banco central americano, anunciou seu programa de afrouxamento quantitativo.
O jornal norte-americano diz que o padrão tem sido semelhante para as ações. Com o crescimento da rentabilidade dos títulos, ações cíclicas sensíveis ao crescimento subiram mais que as ações mais seguras. No dia da eleição, as ações cíclicas estavam bem na frente e desde então chegaram à estratosfera. Ao mesmo tempo, os preços de metais industriais estão subindo, deixando o ouro, considerado um porto seguro, para trás. O mercado frequentemente interpreta mal essas grandes histórias macro. Veja o episódio de 2013 ou o período em 2010, quando os mercados apostaram alto em uma recuperação rápida após a recessão — apenas para entrar em pânico quando a economia se mostrou enfraquecida.
A expectativa é de que Trump herde uma economia em recuperação e dê impulso a um crescimento ainda maior, e aqueles que acertaram o momento de entrar no mercado sairão ganhando, mas pelo motivo errado. Mas a história sugere que os mercados não são tão bons em julgar presidentes. E que os presidentes não são tão importantes para as cotações das ações, finaliza WSJ.