'WSJ': Com bancos ainda frágeis, Brexit cria cenário sombrio para setor na Europa

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Matéria publicada nesta terça-feira (28) no jornal norte-americano The Wall Street Journal, conta que há apenas alguns anos, os bancos da Europa conseguiram se livrar da crise provocada pelos problemas de dívida no continente. A saída britânica da União Europeia, temem analistas e investidores, pode jogá-los novamente na turbulência. Um vasto conjunto de instituições financeiras europeias está em risco: bancos gigantes em dificuldade como o alemão Deutsche Bank AG e o suíço Credit Suisse Group AG passando por reestruturações complicadas, aglomerados de bancos regionais pressionados por juros negativos e bancos da abatida periferia europeia às voltas com empréstimos inadimplentes.

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O Journal acrescenta que ainda feridos pela crise da dívida da zona do euro, os bancos europeus precisam da confiança do investidor e de um crescimento econômico estável para prosperar. A Brexit, como foi chamada a decisão do Reino Unido de deixar a UE, é uma ameaça a ambos. Talvez de forma mais aguda, a saída britânica coloca em questão a durabilidade da UE e do euro. De repente, a hipótese de uma desintegração da estrutura política da Europa, considerada remota há apenas alguns dias, ganhou força. “Esse evento pode ser estonteante para os bancos da região se o mercado temer o risco de uma dissolução da zona do euro”, escreveu na sexta-feira Huw van Steenis, principal analista do setor bancário europeu no banco Morgan Stanley, numa nota de pesquisa. E o remédio pode não ajudar.

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Segundo a reportagem, o mercado pode estar esperando que os bancos centrais ofereçam juros menores ou recompra de títulos de dívida, disse van Steenis. Mas cortes de juros, que já estão negativos em muitos mercados europeus, criariam condições ainda piores de negócios para os bancos. Isso ajuda a explicar porque os investidores venderam ações de bancos europeus de forma um tanto indiscriminada na sexta-feira. As ações do espanhol Bankia SA caíram 21% e as do italiano UniCredit SpA, 24%. Já o papel do BNP Paribas, da França, considerado um dos bancos mais fortes e melhor administrados da Europa, recuou 17%. Ontem, as ações do UniCredit e do BNP Paribas voltaram a cair 8,1% e 6,3%, respectivamente, enquanto as do Bankia subiram 6,9%.

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O jornal norte-americano diz que muitos bancos serão questionados sobre o que eles fizeram, desde a crise financeira, para levantar mais capital, reduzir o uso de dinheiro emprestado e livrar-se de ativos de risco. Os investidores estão pessimistas: as avaliações de numerosos bancos, pequenos e grandes, estão muito baixas. Mesmo se os formuladores de políticas da Europa conseguirem acabar com preocupações existenciais, a economia deve sofrer um golpe. A agência de classificação de risco Standard & Poor’s Global Ratings afirma que a Brexit pode anular 0,5 ponto percentual do crescimento econômico de toda região em 2017. Antes do referendo, a Comissão Europeia havia previsto uma expansão de 1,8% no próximo ano. O crescimento é vital para as equações de viabilidade dos bancos. Em países como Itália e Grécia, onde empréstimos inadimplentes são endêmicos, os bancos precisam que seus credores endividados sobrevivam para que possam renegociar e pagar suas dívidas. Isso é mais difícil com a economia fraca. O lucro líquido dos bancos que compõem o índice de ações Stoxx Europe 600 Banks ficou 23% menor no primeiro trimestre deste ano em relação a um ano atrás, segundo a FactSet.

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A Brexit aumentou ainda mais o receio de que as reservas de capital dos bancos europeus são muito pequenas, conclui o WSJ. O Deutsche Bank e o Credit Suisse prometeram elevar seus níveis de capital vendendo ativos, cortando de custos e acumulando os lucros. Mas uma desaceleração nos negócios e a relutância antecipada das empresas para emitir novas ações e títulos de dívida podem afetar as operações de mesa e de banco de investimento, que costumam dar impulso aos lucros. As ações do Deutsche Bank e do Credit Suisse acumulam queda de cerca de 40% e 50% no ano, respectivamente. Embora um aperto como o de 2008 seja improvável, os bancos britânicos enfrentam uma onda de incerteza no longo prazo.

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A Brexit põe em dúvida se o Lloyds Banking Group PLC e o Royal Bank of Scotland Group PLC manterão suas sedes na Escócia. Os líderes escoceses têm dito que estão brigando para que o país se torne independente do Reino Unido para poder permanecer na UE. A ação do banco londrino Barclays PLC recuou 18% na sexta-feira e mais 17,3% ontem. Analistas de bancos do Citigroup Inc. rebaixaram a recomendação das ações do Barclays de “comprar” para “vender”, prevendo forte aumento nos custos de financiamento e lucros menores. Um problema é como o Barclays e outros bancos com muitas unidades em Londres vão lidar com acordos regulatórios que exigem uma base legal na UE. O Banco Santander SA, principal banco espanhol, depende de hipotecas e outros produtos vendidos no Reino Unido para gerar perto de 25% de seu lucro líquido total. Na sexta-feira, as ações do banco recuaram 20% e mais 2,5% na segunda (27).

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