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Queda no preço do petróleo: até onde pode chegar a estratégia da Opep?

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No atual cenário de derrocada dos preços do petróleo, que apenas em 2016 caíram cerca de 15% e já chegam a níveis não vistos desde o início de 2004, os olhos do mundo se voltam para os países produtores e seu excedente de produção. Por seu protagonismo na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), vem-se cobrando da Arábia Saudita mais veemência na busca por um acordo que possa impulsionar a cotação do barril. As autoridades sauditas, no entanto, deixaram claro que pretendem bombear o mercado para conseguirem competir com concorrentes como os Estados Unidos.

Resta saber até quando esse posicionamento vai aguentar. Após a forte queda dos preços da commodity nesta terça-feira (12), o presidente da Opep sinalizou para a possibilidade de uma reunião de emergência no início de março, três meses antes do previsto pelo calendário oficial. O objetivo seria traçar uma nova estratégia de médio prazo para o cartel. "Dissemos que se o preço chegasse a 35 dólares [por barril], começaríamos a pensar em uma reunião extraordinária", disse o nigeriano Emmanuel Ibe Kachikwu.

>>Alta produtividade garante que pré-sal seja viável mesmo com barril em queda

O histórico, porém, não é nada animador. O último encontro de dirigentes da Opep, ainda em dezembro, frustrou o mercado ao terminar sem um consenso entre seus dirigentes. Países cujos custos de produção por barril são mais caros, como Nigéria, Angola e Venezuela, defendem cortes de produção. Outro bloco, liderado pela Arábia Saudita, argumenta que a medida seria benéfica a concorrentes que obtém petróleo via fraturamento hidráulico – fracking.

O argumento dos sauditas, de acordo com Kachikwu, é que os países da Opep perderam posicionamento no mercado e, hoje, respondem por apenas 30% a 35% da produção mundial. Como dois terços do que se produz diariamente no mundo vêm de fora do cartel, reduzir sua produção seria mais prejudicial a eles do que benéfico para os preços do barril.

Na semana passada, entretanto, a Arábia Saudita admitiu que estuda abrir o capital da estatal Saudi Aramco, maior petrolífera do mundo. A iniciativa foi interpretada por analistas como uma tentativa de reequilibrar suas contas públicas, cujo déficit subiu para 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em razão das recorrentes quedas no preço do barril. 

Na avaliação de Alberto Machado Neto, professor de Gestão de Negócios em Petróleo e Gás da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com o passar do tempo o mercado se ajustará aos níveis mais baixos do preço barril. Ele acredita que a verdadeira preocupação, para os países da Opep, deve ser seu fluxo de caixa. "O preço do petróleo tem a ver com a disponibilidade do fluxo de caixa e os países da Opep já estão, de certa forma, ficando com problemas nesse aspecto", comenta.  

Um fator geopolítico também se soma ao cenário de crise do setor: o agravamento da tensão entre Arábia Saudita e Irã, que atingiu seu ápice com o rompimento das relações diplomáticas entre os países no início de 2015. O conflito possui duas interpretações. Dificulta a chegada de um acordo no âmbito da Opep, ao mesmo tempo em que coloca em risco a produção desses países – o que pode impulsionar o preço do barril.

O desempenho dos preços do petróleo nas últimas semanas fortalece a estimativa do Goldman Sachs, ainda em 2015, de que o barril possa chegar a US$ 20 devido ao acelerado nível de produção. O Morgan Stanley se juntou a essas previsões e alertou para a possibilidade de que Brent caia a esses níveis. Seus especialistas, porém, citaram a escalada do dólar como fator de maior preocupação para os preços da commodity. 

"Os preços do petróleo são realmente imprevisíveis. Se chegarem [a US$ 20], eu acredito que vá ser pontualmente, não ficarão nesse nível muito tempo. Isso acarretará um impacto psicológico, quem trabalha com especulação certamente vai sentir o preço, mas as decisões da indústria petrolífera são feitas a longo prazo", opina Machado Neto.