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'Le Monde': Na China, investidores antecipam fim do apoio estatal

Segundo analistas, intervenção do governo só consegue adiar o inevitável

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A Bolsa de Shangai registrou, nesta segunda-feira 27 de julho, sua queda mais forte dos últimos oito anos, despencando 8,5 % em uma só sessão, num momento em que o apoio que o governo trouxe nessas últimas semanas, para colocar fim a uma desvalorização angustiante, mostra seus limites.

Mais da metade dos valores atingiram o teto de variação de 10% em uma sessão tolerada pelo regulador. A segunda bolsa do país, a Shenzen, por sua vez, sofreu uma baixa de 7% no pregão de segunda.

Os investidores chineses voltam ao básico, em vez de fontes de pessimismo, depois de uma recuperação fomentada pela ordem que foi dada, no início de julho, pelo Estado aos bancos e às corretoras de apoiar o mercado, enquanto esse não chegar a 4500 pontos em Shanghai. O índice caiu na tarde de segunda-feira a 3 725 pontos.

Durante o dia, as estatísticas oficiais haviam registrado uma baixa de 0,3 % dos lucros dos industriais chineses no mês de junho, quando estavam numa alta os dois meses anteriores.

Já na sexta-feira, o índice de produção das usinas e minas do país, compilado pelo grupo de imprensa econômica Caixin, indicava a mais forte contração da atividade na indústria chinesa há quinze meses.

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Pesquisas com vários investidores

Nesse contexto pouco estimulante para a segunda economia do mundo, muitos investidores preferem tomar seus rendimentos e dessa forma tirar proveito da recuperação das cotações, intervindo depois da queda mais acentuada do dia 8 de julho, em vez de se arriscar com novas palpitações.

Se o mercado se recuperou em 6% em três semanas (17% antes da sessão de segunda-feira), é essencialmente graças ao apoio trazido por Pequim, que exigiu dos grandes bancos do país que eles emprestam a um fundo batizado de China Securities Finance Corporation, encarregado de apoiar, quando necessário, o curso dos grandes grupos do país. Na segunda-feira, o regulador chinês dos mercados, citado pela mídia estatal chinesa, anunciou que as autoridades têm a intenção de persistir em sua política de recompra de ações no mercado.

Paralelamente, a polícia abriu investigações sobre vários investidores que apostaram na baixa, uma maneira de avisar os outros. Os acionistas majoritários e diretores de empresas receberam a ordem de não venderem seus títulos por enquanto. As novas injeções na bolsa também estão suspensas

Depois de uma intervenção também pesada do Estado, muitos agentes financeiros temem uma recaída quando esse apoio artificial se dissipar e preferem então recuperar o que há para ganhar agora, já que não acreditam num equilíbrio sustentável.

«O governo não pode sustentar as cotações eternamente, uma hora o mercado vai decidir qual preço ele considera mais aceitável», constata Chen Jiahe, chefe de estratégia na Cinda Securities.

"A intervenção do governo só consegue adiar o inevitável"

O Wall Street Journal cita Fu Xuejun, um responsável pela estratégia na Huarong Securities, que se pergunta se esta nova onda de instabilidade não é fato de Pequim, as autoridades “desejam [verificar] se o mercado reencontrou sua resistência”, porque a ideia do governo era unicamente de forçá-lo a se estabilizar e não de ser retomado a picos que são sinônimos de bolha.

De fato, muitos antecipam um retorno à realidade um dia ou outro, com o governo central sendo incapaz, apesar de sua autoridade sobre a economia e os bancos, de reverter a situação, tendo em vista que o mercado havia ganho 152% em um ano até o dia 12 de junho, enquanto que a economia real, por sua vez, só fazia desacelerar.

Os investidores levam isso em conta, depois de terem se reanimado no início deste mês com o apoio estatal. Mesmo a muito oficial agência de imprensa ‘China nouvelle’ enfatizou, na segunda-feira, que se alguns economistas elogiaram a ação do governo, evitando uma contaminação sobre o resto da economia, “alguns sugerem que medidas fundadas mais no mercado sejam adotadas, já que consideram que a intervenção do governo só consegue adiar o inevitável”.