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'Parlamento grego adotou plano de ajuda… e agora?', questiona Le Monde

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Uma ampla maioria que não esconde um profundo mal-estar. O Parlamento grego adotou, na quinta-feira 16 de julho, uma série de reformas exigidas pelos credores da Grécia com o objetivo de iniciar as negociações para um terceiro plano de ajuda, apesar de algumas debandadas percebidas no terreno do primeiro-ministro Alexis Tsipras.

Essas medidas, relativas aos aumentos de IVA (imposto sobre o consumo), medidas sobre as aposentadorias e adoção de uma regra de ouro orçamentário, foram adotados por 229 vozes a favor, enquanto que 64 deputados votaram contra e 6 se abstiveram.

Se o partido da direita soberanista ANEL, que governa com o partido de esquerda radical Syriza de Tsipras, o apoiou com sua dúzia de deputados, debandadas importantes foram registradas no lado do primeiro-ministro.

Assim, 39 deputados não lhe deram apoio, inclusive seu ex-ministro das finanças Yanis Varoufakis e a presidente do Parlamento Zoé Konstantopoulou, que denunciou um «genocídio social». Varoufakis comparou o texto ao tratado de Versalhes assinado em 1919, que impôs reparações pesadas à Alemanha derrotada e contribuiu ao surgimento do nazismo.

Tsipras e seus parceiros, fechados com convicção num ‘sim’, não enalteceram o projeto. «Na segunda-feira de manhã [quando houve a assinatura] foi o pior momento da minha vida», reconheceu o atual ministro das finanças, Euclide Tsakalotos. Os gregos, cansados pelo fechamento dos bancos e temendo a perspectiva de um colapso da economia, estavam em grande maioria a favor da aprovação dessas medidas.

O próprio primeiro-ministro, duramente criticado durante os debates, não escondeu vindo defender o texto que ele não “acreditava” nas suas medidas, que não iam “beneficiar a economia grega”. Mas ele garantiu que as únicas alternativas eram um calote caótico do país ou uma exclusão temporária da zona do euro, imaginada pela Alemanha. Enquanto a classe política acertava suas contas no Parlamento, uma manifestação anti-austeridade ocorria no centro de Atenas.

Alexis Tsipras pode agora continuar como se nada tivesse acontecido? A resposra é não. Neste estado, a opção privilegiada seria a de uma reformulação de seu governo. Porque, deixando de demitir, os deputados opositores do Syriza lhe permitem conservar sua maioria no Parlamento. Mas será difícil para Tsipras de obter ministros que se declararam contra o plano europeu, de aplicá-lo agora.

Dessa forma, o ministro da reconstrução produtiva Panayiotis Lafazanis, que é também dirigente da ala esquerda do Syriza, já avisou que ele «tinha sua carta de demissão pronta» se Tsipras a pedisse. Desde a manhã de quarta-feira, a ministra delegada das Finanças, Nadia Valavanis, e o secretário-geral do Ministério da Economia, Manos Manousakis, jogaram a toalha.

Primeira etapa de um percurso do combatente

O voto em Atenas está na primeira etapa de um percurso do combatente que deve durar ainda algumas semanas antes que o governo possa beneficiar-se do plano de ajuda. O texto, já adaptado pelo parlamento francês, deve ainda ser ratificado pela Alemanha, a Finlândia, a Estônia, a Letônia, a Eslováquia ou a Áustria, que estão muito relutantes a essa ajuda.

Ora, o que ocorreria se um deles votasse contra o texto? Tudo depende do país. De fato, as regras do mecanismo europeu de estabilidade (MEE), fundo constituído de dinheiro comunitário destinado aos países de União em dificuldade, foram feitas para evitar, em caso de urgência, qualquer direito de veto. Um plano de ajuda pode ser validado se países que representam 85% de seu capital ficam de acordo.

A Grécia espera também na quinta-feira receber um financiamento de urgência dos Europeus com o objetivo de atender suas necessidades imediatas. Uma nova reunião do Eurogrupo deve ocorrer às 10 horas. Bruxelas propõe um empréstimo de urgência de três meses, de 7 bilhões de euros, pegos no MEE. Nesses últimos dias, dois países, o Reino-Unido e a República tcheca, emitiram objeções, dizendo não querer carregar um risco de não-reembolso. Para superar essa dificuldade, a Comissão está estudando o meio de garantir esse empréstimo de 7 bilhões. A Grécia deve receber 12 bilhões de euros daqui até o final de agosto, inclusive para reembolsar o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).