Três dias após a reeleição de Dilma Rousseff, o Banco Central decidiu pela elevação da taxa Selic. A medida surpreendeu economistas, principalmente porque, com o ajuste de 11% para 11,25%, este passa a ser o maior patamar desde 2011. A medida foi anunciada nesta quarta-feira (29), pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Após a divulgação da decisão, a Bolsa de Valores apresentou alta e a taxa de câmbio caiu, chegando a ficar abaixo de R$ 2,40.
A decisão do Copom não foi unânime. O reajuste foi decidido por cinco votos a três. A elevação da taxa foi aprovada pelos votos do presidente da instituição, Alexandre Tombini, e dos diretores Aldo Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton e Sidnei Corrêa Marques. Já Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim, integrantes do Comitê, se opuseram à medida.
Para Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, o reajuste da taxa pode ter reflexos tanto negativos como positivos na economia. “O primeiro impacto é gerar uma expectativa de que o governo, ou pelo menos o Banco Central, está mais alinhado com uma política de controle da inflação. Os resultados a médio prazo podem ser bons com essa determinação de manter a inflação baixa. Porém, como na economia tudo tem dois lados, em termos do mercado produtivo, é negativo. Isso porque taxas de juros mais altas desestimulam o consumo e o investimento. Ou seja, é uma marcha a ré na economia”, acredita.
Mauro salienta que o reajuste ainda não confirma se a decisão representa a autonomia da entidade ou se foi a maioria que entendeu que a inflação está fora da meta e optou por uma decisão técnica. O economista criticou o impacto da elevação da taxa na política de expansão de crédito. “O governo, de um lado, facilita crédito, e isso, na verdade, mostra o incentivo ao o consumo. Por outro lado, o Banco Central aumenta a taxa de juros. Ou seja, o governo joga para um lado e o Banco Central para o outro”, avalia.
Já para o professor de economia do IBMEC-MG, Reginaldo Nogueira o reajuste seria uma sinalização para o mercado de que a política econômica para o segundo mandato da Dilma não vai ter nada a ver com o que foi no primeiro, por ter sido uma "aumento inesperado". Ele defende que o reajuste, contudo, ainda não seria suficiente "para conseguir domar a inflação rapidamente”
A medida, então, acredita o professor, teria funcionado como um sinal de que novos aumentos podem acontecer, mas é preciso esperar uma nova reunião do Copom para avaliar os próximos passos. “Se os aumentos forem se acumulando, aí sim vai fazer diferença na inflação até 2015”, analisa.
O professor explica ainda que “o mercado está refazendo suas estratégias e tentando desenhar o que vai acontecer nos próximos meses”. Para ele, há possibilidade que o governo realize todos os reajustes nos próximos meses, ainda entre 2014 e o início de 2015.
Heron do Carmo, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a decisão do Banco Central agradou o mercado. “A bolsa está subindo hoje e o dólar está caindo. Objetivamente, o mercado entendeu essa elevação da taxa como um sinal positivo. O problema é que a política monetária tem uma ação mais pronta do que a fiscal. Uma decisão fiscal demora a surtir efeito na economia. A política monetária, não. Aumentou os juros ontem e hoje todo mundo já se posicionou. Então, como o tempo urge, o sinal foi dado primeiro com a política monetária”, explica.
O professor da USP explica que a política monetária tem sido apertada nos últimos anos, mas a política fiscal, não, e que o problema estaria muito mais nesta última. "Só a política monetária não vai ter efeito, a não ser que haja um mega aumento de juros para conter a inflação."
Sobre as consequências do aumento da taxa de juros, Heron lembra que, “acarretará no encarecimento do crédito com desdobramentos sobre vendas”. “A elevação é pontual e visou muito mais mostrar que o Banco Central continuará atento ao controle da inflação. Ainda não dá para ver o impacto a longo prazo. A questão é que o resultado final depende não só de uma ação, mas do conjunto de ações".
"O mercado financeiro expressou no passado a preocupação com a autonomia do Banco Central, principalmente quando o juro caiu. Essa preocupação continua, mas essa ação do Banco Central contribuiu para acalmar as coisas. Essa medida está levando em consideração a previsão da inflação mais adiante. Provavelmente porque tem essa pressão do câmbio, tem também a questão da possibilidade de reajuste dos preços e, então, considerando que isso deve pressionar a inflação, o Banco Central tomou essa medida”, acrescenta Heron.
* Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil