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Rioforte tinha buraco de 2 bi de euros duas semanas antes de pedir recuperação

Empresa do GES deu calote de 897 mi de euros na PT, em processo de fusão com a Oi

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A Rioforte, holding do Grupo Espírito Santo (GES) com atuação na área de Turismo, inclusive no Brasil, havia identificado uma necessidade de levantar capital de 2 bilhões de euros duas semanas antes de entrar com pedido de recuperação judicial em Luxemburgo, informa o português Jornal de Negócios

A empresa deu um calote de 897 milhões de euros na Portugal Telecom, que havia emprestado o valor quando as dificuldades financeiras do grupo já eram públicas, e que está em pleno processo de fusão com a brasileira Oi, gerando prejuízos a acionistas e atrapalhando a criação da CorpCo.

A imprensa portuguesa também divulga nesta terça-feira (2) declarações do presidente do país, Aníbal Cavaco Silva, sobre a crise no Grupo Espírito Santo em entrevista concedida em Seul no dia 21 de julho, tornadas públicas hoje pelo governo. "Se alguns cidadãos, alguns investidores, vierem a suportar perdas significativas, podem adiar decisões de investimento ou mesmo alguns deles podem vir a encontrar-se em dificuldades muito fortes; por isso, não podemos ignorar que algum efeito pode vir para a economia real, por exemplo, em relação àqueles que fizeram aplicações em partes internacionais do Grupo que estão separadas do próprio Banco em Portugal. Mas eu penso que, pela informação que temos, não terá assim um significado de monta", referiu o chefe de Estado aos jornalistas em Seul.

O presidente de Portugal havia ressaltado ainda, na ocasião, que estava confiante de que "o Banco de Portugal, como autoridade de supervisão, tem vindo a atuar muito bem para preservar a estabilidade e a solidez do nosso sistema bancário".

Ontem, Miguel Reis, um dos responsáveis pela defesa do consórcio de pequenos acionistas lesados pelo BES, disse em entrevista que "quando a crise já estava ao rubro, já depois do aumento de capital, houve clientes que foram convencidos, de forma fraudulenta e enganosa, a transformar depósitos em ações, com base nas sucessivas declarações do Presidente da República e do governador do Banco de Portugal".

Os braços do Grupo Espírito Santo no Brasil

Como o Jornal do Brasil já publicou no início de julho, o Grupo Espírito Santo desenvolve atividades financeiras no Brasil, direta ou indiretamente, desde 1976, dois anos após a Revolução dos Cravos que derrubou o regime salazarista em Portugal. Na época, os acionistas viraram alvo de intensa perseguição política, o banco foi nacionalizado e os principais sócios deixaram Portugal. Iniciaram, então, atividades financeiras no Brasil, na Suíça, na França e nos Estados Unidos, com destaque para a multiplicação dos negócios em terras brasileiras. Informações dão conta de que eles se associaram a grupos brasileiros, participando de operações ilícitas e causando grandes prejuízos. A família retomou o Banco Espírito Santo posteriormente.

>> Crise com Portugal Telecom fere imagem da Oi e prejudica fusão

O processo de internacionalização da Portugal Telecom, iniciado em 1997, esbarra com o mercado brasileiro de telecomunicações em 1998, com a aquisição de importantes entidades, como a Telesp Celular, Telesp Fixa e a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Uma das etapas de privatização no Brasil aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo como marco a aprovação da Lei de Concessões, em fevereiro de 1995. O objetivo era criar regras gerais para o governo conceder a terceiros o direito de explorar a produção de serviços públicos, a exemplo do setor de geração de energia elétrica e de telecomunicações. A privatização dessas áreas exigiu um esquema complexo de regulação, para alcançar a maior competição do setor, na promessa de eliminação do monopólio público. A maioria dos compromissos de investimento feitos pela Portugal Telecom na época ainda estão no papel.

O ex-ministro das Finanças de Portugal, Miguel Cadilhe, em entrevista ao Económico sobre o colapso do Grupo Espírito Santo (GES) em meados de agosto, havia alertado que a queda do GES representa uma crise institucional que desacredita as elites. Ele ainda se disse "chocadíssimo" com a situação do grupo.

"Pior que surpreendido, fiquei chocadíssimo. Não é que não houvesse alguns indícios de que algo podia acontecer. Ao longo dos anos, o BES (Banco Espírito Santo) aparecia associado a alguns processos mais complicados do ponto de vista comportamental e de conformidade com a lei. Acreditei que poderiam ser apenas indícios, não o que infelizmente veio a ocorrer. Mas a Justiça o dirá", disse Cadilhe ao Económico.

Fernando Pinto, presidente da companhia aérea Tap, também em conversa com o jornal Económico, também comentou sobre o caso: "O BES, o Grupo como um todo e até a figura do Ricardo Salgado são ícones de Portugal e a destruição de um ícone desses preocupa-me muito".