A Portugal Telecom (PT) fechou a última sessão desta semana em alta de 7,28%, para 1,474 euros, um dia após Henrique Granadeiro anunciar que ia sair da liderança da companhia. Mas, apesar da valorização na sessão desta sexta-feira, a empresa de telecomunicações viu o valor da sua cotação cair 48,96% na bolsa de Lisboa em pouco mais de um mês, segundo o Jornal de Negócios.
Foi a partir de 26 de junho que começou a tendência negativa da PT. Nesse dia, o jornal Expresso revelou que a Portugal Telecom tinha investido quase 900 milhões de euros em dívida da Rioforte, empresa do Grupo Espírito Santo (GES).
Quatro dias depois houve a confirmação oficial por parte da administração da PT. O documento publicado no site da CMVM, o regulador de mercado, tem a assinatura de Henrique Granadeiro, CEO e chairman, e de Luís Pacheco de Melo, administrador e diretor financeiro.
Desde o início do ano a PT perdeu 53,35% do seu valor, caindo dos 2,89 euros para os 1,474 euros. Mais de 90% desta perda registra-se desde 26 de junho, quando o mercado tomou conhecimento do investimento da PT numa empresa do Grupo Espírito Santo.
O fechamento positivo desta sexta-feira contraria as últimas duas sessões, quando a cotação da empresa fechou no vermelho: quedas de 5,62% e de 4,91% na quinta e sexta-feira, respectivamente.
Segundo o Jornal de Negócios, este poderá ser um sinal que o mercado está reagindo bem à saída de Henrique Granadeiro. O presidente executivo da PT anunciou ontem a sua saída da liderança da empresa de telecomunicações. Apesar da demissão, o gestor mantém-se no cargo até ao dia 30 de setembro, ou até ser designado um substituto.
Durante a sessão de hoje, a Portugal Telecom chegou a valorizar um máximo de 8,01% e chegou a perder 3,49%, o registo mais baixo nesta sexta-feira. A empresa registou uma grande liquidez nesta sessão, com 17,096 milhões de ações negociadas. Este valor é superior à média diária dos últimos seis meses: 9,44 milhões.
A Portugal Telecom agendou uma assembleia-geral de acionistas para o dia 8 de setembro. Mas, aparentemente, a sucessão de Henrique Granadeiro não será discutida durante o encontro. A empresa anunciou na quinta-feira que só existe um assunto em pauta: deliberar sobre o acordo de fusão entre a PT e a Oi.
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Um histórico do Espírito Santo
De acordo com o NYT, a fortuna da família cresceu substancialmente no início do século 20 sob o comando dos filhos do fundador, Ricardo e Manuel, que estavam dotados de uma rede de contatos, estabelecendo laços com os descendentes da indústria norte-americana, incluindo os Firestones e os Rockefellers. Em meados da década de 1930, o Banco Espírito Santo foi o maior credor privado em Portugal.
O status da família tomou uma dimensão ainda maior durante a Segunda Guerra Mundial, que trouxe desastre para a maioria da Europa, mas transformou Portugal em um centro diplomático e aristocrático. Como uma nação neutra, Portugal era um paraíso para os membros da realeza e políticos, famílias poderosas, como os Rothschilds que fugiam do nazismo, diz o texto do NYT.
Juan Carlos, o futuro rei da Espanha, passou vários anos, com sua família, exilado no Estoril, uma cidade próxima de Cascais. Após a derrubada da ditadura de Portugal em 1974, anos nos quais o Grupo Espírito Santos tinha prosperado, o Salgado, que nasceu em 1944, era muito jovem para se juntar a alguns dos membros mais antigos da família na prisão, após o confisco de ativos do banco. Após a libertação, os executivos da família eventualmente se juntaram por Portugal e outros lugares do mundo.
Ainda de acordo com o jornal, no exterior, eles começaram a reconstruir seus negócios, graças a linhas de crédito dos bancos, mas também graças a ajuda de outras famílias poderosas, como os Agnelli, donos da Fiat, e os Rockefellers. Salgado eventualmente assumiu o comando dos negócios no exterior, depois de ter passado a maior parte dos anos de exílio no Brasil e na Suíça. Em 1989, Portugal começou a privatizar bens que haviam sido apreendidos na revolução, dando a Salgado e sua família a oportunidade de comprar de volta o seu banco com o apoio da França, o Crédit Agricole.
Ele assumiu o controle de um banco menos poderoso do que era antes da revolução de 1974. Ele gradualmente expandiu seu alcance, trazendo-o de volta para o topo, em parte graças a incursões no exterior.
O NYT destaca que historiadores de negócios apontam para a capacidade da família Espírito Santo em superar mais de um século de brigas de família e manter o império intacto. Porém, isso pode estar mudando. No ano passado, a liderança de Salgado no banco foi desafiado por um de seus primos e colegas banqueiros, José Maria Espírito Santo Silva Ricciardi.
Ricciardi forçou um voto de desconfiança contra Salgado em novembro passado. Mas, com o seu próprio pai e patriarca da família, Antonio Ricciardi, apoiava Salgado, o primo Ricciardi não conseguiu muita coisa. Mas dessa vez, o desastre poderia derrubar de vez Salgado, finaliza o texto do NYT.
Os braços do Grupo Espírito Santo no Brasil
Como o Jornal do Brasil já publicou no início de julho, o Grupo Espírito Santo desenvolve atividades financeiras no Brasil, direta ou indiretamente, desde 1976, dois anos após a Revolução dos Cravos que derrubou o regime salazarista em Portugal. Na época, os acionistas viraram alvo de intensa perseguição política, o banco foi nacionalizado e os principais sócios deixaram Portugal. Iniciaram, então, atividades financeiras no Brasil, na Suíça, na França e nos Estados Unidos, com destaque para a multiplicação dos negócios em terras brasileiras. Informações dão conta de que eles se associaram a grupos brasileiros, participando de operações ilícitas e causando grandes prejuízos. A família retomou o Banco Espírito Santo posteriormente.
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O processo de internacionalização da Portugal Telecom, iniciado em 1997, esbarra com o mercado brasileiro de telecomunicações em 1998, com a aquisição de importantes entidades, como a Telesp Celular, Telesp Fixa e a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Uma das etapas de privatização no Brasil aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo como marco a aprovação da Lei de Concessões, em fevereiro de 1995.
O objetivo era criar regras gerais para o governo conceder a terceiros o direito de explorar a produção de serviços públicos, a exemplo do setor de geração de energia elétrica e de telecomunicações. A privatização dessas áreas exigiu um esquema complexo de regulação, para alcançar a maior competição do setor, na promessa de eliminação do monopólio público. A maioria dos compromissos de investimento feitos pela Portugal Telecom na época ainda estão no papel.