Os dados divulgados nesta quarta-feira (6) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não surpreendem os economistas. Segundo a Anfavea, houve queda de 13,9% na venda de veículos em comparação com julho de 2013. Já de acordo com o IBGE, a produção industrial caiu em 11 dos 14 locais pesquisados. Para os economistas, os dados refletem a atual situação econômica do Brasil e o futuro não é otimista.
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Para o professor e economista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Francisco Vidal, “a queda na venda de automóveis reflete o desaquecimento da economia, a insegurança dos compradores com o aumento da inflação e dos juros e a instabilidade política e econômica”. Ele explica que “as pessoas têm receio de se comprometer na compra de um bem tão caro como o carro brasileiro. A quantidade de imposta deixa os carros daqui muito mais caros”. Outro fator apontado por Francisco é a crise econômica da Argentina, que é um dos maiores compradores de carros e peças automobilísticas do Brasil.
O economista aponta também que “o consumidor está preferindo carros de segunda mão para economizar. Ele não está querendo pagar o preço imposto pelas montadoras, está mais consciente”. Além do bem em si, o IPVA de carros usados é mais barato, o que também estimula sua compra. “As taxas elevadas reduzem o poder de compra das pessoas. Quem é rico já comprou seu carro. Quem vai comprar é a classe média, que está cada vez mais endividada e os bancos estão diminuindo sua política de concessão de crédito”.
Sobre a queda na produção industrial, Francisco enfatiza que “este é um problema de longo prazo”. O economista explica que “a indústria brasileira não é competitiva e a mão de obra é cara e pouco qualificada”. Para o professor, “o Brasil precisa investir em educação e qualificação da mão de obra. É preciso também fazer uma reforma industrial porque a indústria brasileira hoje vive a base do governo”. Francisco aponta ainda o que considera uma falha, que é a ausência de uma política a longo prazo para desenvolvimento industrial. “É preciso seguir o desenvolvimento dos outros países que tiveram sucesso. O Brasil passa por problemas políticos e quem assumir o país em 2015 vai ter que fazer alguma coisa”, sugere. O economista acredita que, tanto consumidores quanto investidores estão “reticentes” e, por isso, agindo com “cuidado”.
Para o professor e economista da UFMG, Aureliano Bressan, os dados apontados pela Anfavea e pelo IBGE "refletem a desaceleração geral da economia brasileira no segundo trimestre, com um "reforço" da retração no consumo de bens duráveis provocado, em parte, pela retração da demanda por financiamento de veículos". Ele acredita que "diversos setores de bens duráveis ainda vão apresentar retração no curto prazo". E justifica dizendo que "prova disso é o crescimento do uso do banco de horas, programas de lay off e de programas de demissão voluntária em diversas empresas de eletrodomésticos da linha branca e em algumas montadoras"
Aureliano considera que esses fatores levam a crer que "as perspectivas não são positivas para 2014" E finaliza: "Enquanto o câmbio, a inflação e os juros continuarem desalinhados, será difícil vislumbrar uma reversão desta tendência de retração a curto prazo".