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Chipre: taxação de depósitos pode chegar a outros países europeus

Declarações do presidente do Eurogrupo assustou mercados e provocou baixas generalizadas

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A crise no Chipre continua a mexer com os mercados mundiais. Depois de animar os investidores, ao anunciar um acordo entre a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia)e o governo do pequeno país, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, voltou a desapontar os investidores, quando anunciou que o acordo pode se repetir em outras nações da Zona do Euro.

“Se há algum risco em algum banco, nossa primeira questão será o que vão fazer a respeito disso e o que as instituições podem fazer para se recapitalizar. Se o banco não puder fazer isso, falaremos com os acionistas e pediremos que contribuam na recapitalização. Se necessário, pediremos aos depositantes”, disse Dijsselbloem.

A movimentação e a visão pessimista do mercado se devem ao fato de que, diferentemente de outros auxílios na região, o resgate financeiro de 10 bilhões de euros da Troika ao Chipre só foi aprovado depois que os depósitos dos cidadãos foram colocados como forma de garantir retorno ao investimento. 

Com isso, na manhã desta segunda-feira (25), as bolsas mundiais, que acenaram para um possível ganho depois do anúncio do acordo, voltaram a operar em queda. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou o pregão em baixa de 0,76%. Na Europa, o Dax, da Alemanha, desceu 0,50% e o Dow Jones recuou 0,44%. Por aqui, foi a maior queda desde julho.

Um analista do mercado, que não quis se identificar, afirmou que as notícias relacionadas aos problemas do Chipre continuam se alastrando nas negociações, afugentando investidores. "Existe um medo de que este modelo possa ser adotado por outros países. Esta taxação não é bem vista pelos investidores, que ingressam recursos esperando uma recompensação e têm seu investimento taxado", analisou.

Precedentes

O economista Paulo Gala, da Corretora Fator, relembrou os resgates que já foram feitos na Zona do Euro, e ainda que o medo dos depósitos como garantia foi afastado por um acordo "habilidoso" do atual presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

"No auge da crise do ano passado algo semelhante ocorreu na Itália e Espanha, com fugas de capital. Depositantes temiam deixar seus euros em bancos do sul da Europa. O habilidoso plano de Mario Draghi conseguiu reverter esse processo apenas com a promessa de comprar títulos públicos desses países caso se submetessem a um programa de ajustamento da Troika. Resta ver como esses mesmos depositantes e investidores irão se comportar agora, sabendo que seus recursos não estão tão seguros assim nos bancos do sul. O risco aumentou. Vale lembrar que os elos mais fracos nas crises sistêmicas são sempre os bancos", afirmou.

Em entrevista ao Jornal do Brasil na última semana, especialistas já alertavam que a medida abria um perigoso precedente e desestabilizava a confiança dos investidores no continente. Na época, Ricardo Torres, professor de MBA da BBS Business School e diretor da Norfolks Advisory, afirmou que a questão do Chipre é muito mais simbólica do que econômica, uma vez que o país tem uma das menores economias e população do continente. No entanto, o momento econômico da Europa favorece os rumores pessimistas que causam alarme no mercado financeiro. 

Pequenos pagam mais

Pedro Paulo Bastos, professor da Universidade Estadual de Campinas, acredita que os países menos culpados pela crise acabam pagando uma conta mais cara, com o caso do Chipre, por exemplo. "A crise pode ser paga com o orçamento da própria comunidade europeia. Ela é sistêmica, não foi inventada no Chipre ou na Grécia, mas atinge todo o sistema financeiro europeu. Então, quem paga: o orçamento da comunidade, que advém em maior medida da contribuição dos países mais ricos, ou dos países mais fracos?", questiona. 

"Os prejuízos gerados por esse acordo devem superar, no ponto de vista fiscal, os nove bilhões de euros, porque com queda geral das transações e perda de renda que isso pode gerar, no grosso da UE, é mais do que o que esse imposto economizou", afirma.