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Barreiras da Argentina são reflexo de política fracassada do Mercosul

Fracasso nas negociações políticas prejudicaram transações comerciais, diz especialista

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As barreiras comerciais impostas pela Argentina aos produtos brasileiros são uma das conseqüências do fracasso nas negociações políticas dos países do Mercosul.  É o que afirma o professor Fernando Sarti, diretor da Escola de Economia da Universidade Estadual de Campinas (ECO/Unicamp). As discussões institucionais que pretendiam definir, por exemplo, taxas e isenções da alíquota comercial entre os membros não foram adiante, afirma o economista.

“Um fundo para reestruturação de setores foi negociado, mas nunca concluído. Atualmente, se existisse, poderia evitar problemas como este, de barreiras para proteger setores mais frágeis. O que a Argentina está fazendo é se proteger, pois eles têm muitos problemas para se financiar depois da moratória de 2007 e recebem uma enxurrada muito grande de produtos brasileiros”, explica.

As dificuldades industriais do país vizinho são as mesmas enfrentadas pelo Brasil, mas em escala muito mais acentuada, devido ao forte processo de desindustrialização pelo qual passou nas décadas de 80 e 90, com a abertura da economia aos importados e a valorização cambial. Atualmente, as exportações brasileiras são o principal problema da balança comercial do país, altamente deficitária.

“O grande problema lá é exatamente igual ao que o Brasil enfrenta, por exemplo, com a China. Nós tentamos proteger nossa indústria dos produtos baratos que vem do asiático. Eles, além destes, tem também os brasileiros, que são muito fortes em alguns setores, o que diminui a competitividade da indústria argentina dentro do país”, afirma.

Estes desequilíbrios regionais são, segundo o especialista, o grande erro do Mercosul, pois a falta de negociação política impediu que o comércio crescesse de forma equilibrada, e que o acordo regional beneficiasse os países. “A economia do Brasil é três vezes maior que todo o grupo. Como líder, o país deveria ser deficitário com estes países, e superavitário com o restante do mundo. Assim funciona o equilíbrio dentro dos blocos econômicos”, analisa.  Mas, segundo explica, não é o que acontece nem no Mercosul, onde Brasil é superavitário, nem na Europa, onde este papel deveria ser feito pela Alemanha, por exemplo.

Atualmente a visão em relação ao grupo do Mercosul é muito negativa e as soluções para os problemas de integração difíceis, acredita Sarti.  A crise econômica mundial desacelerou o crescimento da China, que, para compensar, inundou os subdesenvolvidos com os seus produtos de baixo custo. Além disso, a desaceleração dos europeus e dos Estados Unidos diminuiu a oferta de demanda das exportações, contextualiza. Tudo isso contribuiu para minar a indústria dos países em desenvolvimento, como Brasil e Argentina.

“Em momentos conturbados como este, o que acontece em blocos de pouca interação política como o Mercosul, é dar um passo atrás, aumentando o protecionismo, criando barreiras e impondo regras. É aí que fica clara a fragilidade desta integração, ainda muito limitada”, concluiu.