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Redução do PIB chinês assusta mercados e mostra o poder do gigante asiático

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O anúncio de Wen Jiabao, primeiro ministro chinês, de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve crescer 7,5% em 2012 assustou os mercados mundiais, que esperavam uma ampliação de 9,2%. Os principais índices das bolsas nos Estados Unidos, Europa e Brasil tiveram forte queda, deixando as nações em alerta.

As causas para a desaceleração da economia chinesa divergem entre os especialistas. Porém, não se pode mais ignorar a importância político-econômica do gigante asiático em todo o mundo.

Para Pedro Paulo Bastos, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma série de fatores internos e externos determinou o desaquecimento chinês, e não apenas a crise global. Dentre estas razões, está o aumento no preço do petróleo, que tem diminuído o poder de compra dos chineses.

“A China sempre se voltou muito para o mercado interno e, com a alta do petróleo, os chineses têm gastado mais com energia e menos com consumo", afirma. 

As políticas de controle de inflação e especulação imobiliária, e uma contração nos investimentos, aliados à diminuição na demanda externa devido à crise mundial, também contribuíram para a desaceleração do país, aponta o economista.

Em uma outra corrente, a crise econômica mundial é apontada como a principal razão para o desaquecimento chinês. É no que acredita o economista Evaldo Alves, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

"O que está acontecendo hoje na China acontece em todos os mercados emergentes mundiais. A diminuição na demanda externa dos países ricos provoca uma diminuição das exportações e, consequentemente, da produção" afirma.

O especialista destaca ainda que parte dessas perdas foi compensada pelo aumento nas relações comerciais entre os mercados emergentes, porém, a China não está imune à crise, nem aos mercados americano e europeu.

Consequências para o Brasil

Os economistas também têm opiniões diversas sobre como essa desaceleração da China afetará o Brasil. Para Alves, as consequências serão pequenas, principalmente pela característica dos produtos exportados pelo Brasil.

"Nós vendemos produtos de primeira necessidade, normalmente commodities alimentícias, que não diminuíram com essa desaceleração. Os alimentos são os últimos itens a não ser consumidos", analisa.

Já para Pedro Paulo Bastos, o anúncio de Jiabao de que a China deverá diversificar suas exportações para mercados emergentes será muito danoso para o Brasil. Com isso, uma enxurrada de produtos chineses baratos poderá invadir o país, minando a competitividade e desestimulando as indústrias nacionais.

"Os produtos chineses são muito baratos, pois o Yuan (moeda local) é muito desvalorizado. Além disso, com a diminuição da demanda chinesa pelas commodities, o preço deverá cair, e isso afeta o Brasil, grande exportador de matérias-primas", analisa.

Em relação à política internacional, a boa relação entre Brasil e China não deverá ser afetada, acredita o sociólogo Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UFRJ.

"Estes problemas (econômicos) estão nos níveis das relações bilaterais, que são normais em uma lógica capitalista, mas que não afetam as relações entre os dois países, que têm visões parecidas em relação ao mundo", analisa.

Nova estrutura de poder

Para Gonçalves, a união política entre os dois países caminha para uma integração cada vez maior entre as potências emergentes, lideradas pelo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que pretende exercer um protagonismo nas decisões mundiais, junto com os Estados Unidos e Europa.

"É possível ver, quando estes grupos exigem o controle da OMC (Organização Mundial do Comércio), quando tentam criar um banco em conjunto, com os investimento da China no Fundo de Integração da América Latina e etc, que existe um esforço de fortalecer essas regiões para que aumentar a voz dos emergentes", analisa.

A perda da hegemonia econômica e política assustam as grandes potências, porém, o economista acredita que este movimento é inevitável e incontrolável, e que a influência chinesa no mundo só tende a aumentar.

"Com certeza, os EUA prefeririam, por exemplo, que as grandes empresas nacionais não saíssem do país para investir na América do Sul ou na Ásia. Mas os empresários respondem à lógica do lucro, e estão alheios ao desenvolvimento nacional. Quem deve se preocupar com isso são os governantes", afirma.

É questão de tempo para que os emergentes mostrem a sua influência crescente nas decisões políticas, acredita Williams. Com a reação quase desesperada dos mercados em relação ao PIB chinês, é difícil duvidar desta previsão.

Apuração: Carolina Mazzi