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Governo deve se preocupar com uma desindustrialização, afirma senadora

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Durante pronunciamento no Senado nesta segunda-feira (27), a senadora Ana Amélia (PP/RS) declarou apoio ao "Grito de alerta em defesa da produção e do emprego", manifesto elaborado por 27 entidades, sendo 19 empresariais e oito sindicais. O documento cobra mudanças na política industrial brasileira, visando incentivar a produção nacional.

"Se nada for feito, o Brasil ficará para trás. Este é um assunto prioritário para o setor produtivo nacional", alertou.

Segundo a senadora, diversos setores têm sofrido com a concorrência internacional e vem perdendo espaço, como a indústria calçadista por exemplo, que encerrou os doze meses do ano com 11,2 mil vagas a menos em relação a igual período de 2010. Este desempenho significou uma queda de 2,8%, com o setor empregando 337.503 trabalhadores.

Segundo a Associação Brasileira de Indústria de Calçados (Abicalçados), estes números demonstram como o setor vem sendo afetado com a perda da competitividade dos produtos.

"O custo tem ficado alto, para exportar e produzir. Com a entrada dos produtos asiáticos no país, de baixo custo, e a fuga de diversas empresas para países onde os custos, como o a mão de obra, são mais baixos, há um movimento de diminuição da produção e consequentemente de demissões" afirma a assessora de impresa da associação, Elisabeth Renz. 

Assim, as regiões produtoras de calçados contrataram menos no acumulado do ano. Rio Grande do Sul e Ceará tiveram saldo negativo, com menos 4.184 e 2.373 vagas naquele período, respectivamente. São Paulo também acompanhou a trajetória negativa e encerrou o ano com 1,504 postos a menos. 

Em 2011 a Azaléia e a Dakota, grandes nomes do setor, fecharam as portas de fábricas no Rio Grande do Sul. A americana Crocs também fechou a fábrica brasileira, situada em Sorocaba, no interior de São Paulo.

A Abicalçados acredita que a solução dos problemas só virá com medidas do governo federal para conter as importações asiáticas e controlar o câmbio. O país já aplica uma taxa anti-dumping nos calçados chineses, mas as medidas precisam ser ampliadas. 

"Existe uma investigação, pois há uma desconfiança em relação a produtos que vêm do Vietnã e Indonésia, que na verdade são chineses disfarçados. Estamos cobrando uma ação do  governo para taxar também esses produtos", afirma Renz. 

Desindustrialização

A alta valorização do real, a concorrência com produtos asiáticos, os altos custos de produção e a demanda por commodities são algumas razões que prejudicam a indústria nacional, aponta a senadora Ana Amélia no artigo "Os riscos da desindustrialização". 

"A indústria vem perdendo espaço na economia nacional. O resultado da balança comercial brasileira vem diminuindo desde 2007. A exportação de commodities já representam 71% de nossa pauta de exportações (incluindo produtos básicos e industrializados de pequeno valor agregado)", analisa. 

A balança comercial da indústria brasileira registrou um déficit, em 2010, de 37 bilhões de dólares. Nos últimos cinco anos, a participação dos produtos manufaturados tem diminuído, passando de 55% em 2005 para 39% em 2010.

O professor de Política Industrial da Unicamp, Fernando Sarti, acredita que ainda não se pode falar em uma processo de desindustrialização no país, mas muito mais de uma estagnação, que também é muito prejudicial para a economia.

"É muito difícil falar em desindustrialização, no sentido que não acredito que estamos vivendo um processo irreversível. Se compararmos com outras potências emergentes, realmente estamos ficando para trás", analisa.

Soluções

Uma política industrial mais agressiva poderia ajudar a reverter o processo. Segundo Sarti, muitas vezes os produtos asiáticos chegam ao país mais competitivos devido a políticas subsidiárias nos países de origem. Com isso, é preciso aumentar a taxa de importação e incrementar com mais força taxas anti-dumping e anti-subsídio, por exemplo. 

"Uma outra ação que o governo poderia tomar é se utilizar da demanda pública que virá com o pré-sal e as obras dos eventos esportivos, para incentivar a indústria nacional, dando preferência de compra para produtos do Brasil", aponta.

Para o professor, o momento que o país viveu antes da crise mostra que ainda há solução para os problemas industriais.

"O investimento feito pelo governo de 2006 até 2010 foi muito bem aceito pela indústria, que respondeu bem, crescendo e contratando bastante. É claro que na economia, tudo também depende de condições macroeconômicas, como o cenário internacional e as taxas de juros. Mas existem boas oportunidades de retomada", acredita. 

Apuração: Carolina Mazzi