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JB ONLINE - Os líderes dos quatro países que formam o Bric (sigla criada em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China) estão reunidos, nesta terça-feira para sua primeira cúpula presidencial em Ecaterimburgo, cidade na região dos Montes Urais, na parte asiática da Rússia.
No encontro, previsto para durar apenas quatro horas, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o chinês, Hu Jintao, o russo, Dmitri Medvedev, e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh discutem temas relacionados à crise econômica global, a reforma das instituições financeiras internacionais, o papel do G20, mudanças climáticas e questões de segurança alimentar e energética.
"É totalmente realista e provável que os Brics desempenhem um papel crescente no cenário internacional", disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, à BBC Brasil. A possível institucionalização do bloco também será discutida no encontro.
"Se o G7 quiser continuar tendo encontros fechados porque estão acostumados a se ver, porque são ricos ou porque tem semelhanças culturais, tudo bem por mim, mas isso não pode determinar o curso da economia global", afirmou. "Se existe um grupo que pode fazer diferença para o mundo como um todo é o G20, que engloba o G7, os Brics e outros emergentes", acrescentou.
Tarefa árdua
A tarefa de convencer as economias ricas a aceitar os emergentes no centro das decisões globais promete ser árdua, na opinião da maioria dos analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Liam Hallian, economista-chefe da consultoria Prosperity Capital Management, é um deles. Ele defende que as economias ricas reconheçam o mais rapidamente possível o papel que deve ser desempenhado pelos emergentes.
"O problema é que o G7 já se mostrou espetacularmente incapaz de reconhecer como o mundo mudou. É loucura excluir esses paises. Representa uma enorme ignorância histórica", disse.
"Se não quiserem brincar com eles, os emergentes vão pegar seus brinquedos e procurar outro playground. Quem tem mais a perder são os países ricos", acrescentou referindo-se a indicadores como o volume de reservas nas mãos desses países e ao crescente mercado consumidor emergente, que deve representar a principal fonte de aumento da demanda na economia mundial nos próximos anos.
A reunião do Bric termina nesta terça-feira às 19h45 (horário local, 10h45 hora de Brasília).
Verdadeira estrela
A união dos quatro países com o selo "Bric" levanta críticas e elogios em medida semelhante. Entre as críticas, está o fato de o termo unir países tão distintos no que muitos classificam como um "conceito de marketing" criado por um banco.
Outros apontam que o Bric é um grupo artificial e desigual em que a verdadeira estrela é a China. Atualmente, a economia chinesa é do tamanho das outras três juntas e essa distância tende a aumentar.
"Ainda que a China seja superior em alguns aspectos, não está interessada em criar um G2 com os Estados Unidos, de fazer parte de um grupo elitista", disse Xu Bin, professor de Economia e Finanças da International Business School, em Xangai.
As diferenças, no entanto, não devem impedir que o grupo consolide uma agenda consensual, ainda que modesta, mas suficiente para projetar para o mundo o objetivo comum de "reequilibrar e democratizar a ordem internacional", nas palavras da Presidência brasileira.
A cúpula ocorre na cidade onde o último czar russo foi executado, em 1918, em meio a uma reunião da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, em inglês), um grupo criado em 2001 e que reúne os líderes da China, da Rússia e de quatro países da Ásia central (Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão).