Um dos clichês da cultura brasileira é comentar a falta de memória nacional. O que nem sempre reflete a verdade: um exemplo do contrário está nas salas do Museu Histórico Nacional.
Melhor ainda, o tema da exposição “A história da botica mais tradicional do Brasil” tem perfil extremamente popular. O destaque: os produtos da Granado, incluindo o tradicional polvilho antisséptico, o talquinho usado por muitos como desodorante.
Aniversário bem celebrado
Impressiona ver o cuidado do tratamento dos documentos, embalagens e máquinas, todas as peças arquivadas no acervo na Barra da Tijuca, a cargo das historiadoras Ana Maria Pereira de Almeida e Jacqueline de Araújo. Fundada em seis de janeiro de 1870, como uma botica por Barros Franco, mais tarde comprada pelo português José Coxito, a empresa foi a firma oficial da família real brasileira em 1884 e abriu a primeira loja na Rua Primeiro de Março - endereço aberto até hoje, com a bela ambientação praticamente original. O polvilho, aprovado por Oswaldo Cruz, foi criado em 1903.
Em 1994, Carlos Granado vendeu a marca para o inglês Christopher Freeman, atendendo a um objetivo de internacionalizar a empresa. Christopher e a filha, Sissi Freeman, têm mais de 70 lojas no Brasil e na Europa. Em matéria de eventos, está programado o lançamento do livro sobre a história da Granado escrito por Hermes Galvão no dia cinco de março em Paris e no dia sete, em Lisboa.
Destaques no Museu
Preparem-se para uma visita longa, para curtir os detalhes. Aparentemente, a maior parte consiste de papéis e documentos, pode dar preguiça de ler. Mas no centro de uma das salas aparece um ovo com um líquido dourado: é um porta essência! A primeira colônia, a Helios, nasceu em 1910. Outra vitrine mostra tubos de vidro cheios de bolinhas - são comprimidos, já que a origem da botica era medicinal. Um dos remédios, o Pyralgina, prometia matar a dor sem matar o sofredor. Outro, o Ginosedol, especial para as senhoras, daria mocidade, saúde, alegria e vigor. Eram produtos feitos com ervas cultivadas no sítio de Coxito, em Teresópolis.
Uma das salas da exposição demonstra que a visão pioneira de marketing sempre embalou as mercadorias. O jornal "O Pharol da Medicina" divulgava as novidades, campanhas ocupavam páginas de jornais e revistas, sempre com mensagens otimistas e bem humoradas.
As histórias atuais fazem parte do conjunto exposto em formas interativas. Projeções nas paredes de uma das últimas salas mostra as variações da linha Pink. Perto da saída foi montada a réplica de uma das lojas, com direito a prova de perfumes, em forma de vapores de cilindros de vidro.
Do complexo industrial de Japeri saem os produtos atuais, e muitas das ideias de vitrines. Neste ponto, mais um ponto positivo da Granado: por exemplo, no Natal as lojas ostentavam araras azuis na decoração, que serão doadas para escolas e instituições
Até três de maio, a exposição “A história da botica mais tradicional do Brasil” pode ser visitada no Museu Histórico Nacional, de terça a sexta, das 10h às 17h30. Nos finais de semana e feriados, das 13h às 17h. A entrada custa R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Entrada grátis aos domingos. Mais informações pelo telefone 21 3299 0324.