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Por que a Nike encerrou programa para treinamento de atletas de elite

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto ganha projeção mundial por feitos positivos de seus patrocinados —só no último fim de semana, Eliud Kipchoge quebrou a barreira das 2 horas na maratona e Brigid Kosgei bateu o recorde mundial feminino na modalidade—, a Nike segue envolvida em polêmicas no meio do atletismo.

Na última sexta-feira (11), a marca anunciou o encerramento do Nike Oregon Project, voltado para treinar atletas de alta performance, em sua maioria americanos. A notícia veio após a Usada (Agência Antidoping dos Estados Unidos, na sigla em inglês) suspender o técnico do projeto, Alberto Salazar, em 30 de setembro.

Na sequência, em meio ao Mundial de Atletismo em Doha, a Iaaf (Associação Internacional de Federações de Atletismo) revogou a licença do treinador. O americano, que foi um atleta de elite no início dos anos 1980, é suspeito de ter administrado substâncias proibidas aos seus seus comandados e desrespeitado os protocolos antidoping.

O término do projeto foi anunciado pelo presidente-executivo da Nike, Mark Parker. Segundo o jornal britânico The Guardian, ele afirmou em memorando aos funcionários que o projeto havia se tornado uma distração para os atletas.

“Essa situação, juntamente a contínuas declarações não fundamentadas, é uma distração para muitos dos atletas e está comprometendo suas habilidades em focar suas necessidades em treinamento e competições. Decidi, então, desligar o Oregon Project.”

Apesar das acusações, que vêm desde 2015 quando reportagem ProPublica e BBC apontou o uso de substâncias banidas por Salazar, o executivo da Nike segue na defesa do técnico.

Ainda no memorando, Parker diz que a investigação que levou ao banimento de Salazar não encontrou o uso orquestrado de doping nem evidência de substâncias para melhora de performance administradas nos atletas do projeto. O presidente da marca, no entanto, estaria ciente das iniciativas de Salazar pelo menos desde 2009, segundo o The Wall Street Journal.

De acordo com The Guardian, o técnico falou que vai recorrer da decisão.

Ainda que com um fim pouco glorioso, o projeto para atletas de elite da Nike foi responsável por levar esportistas a coletar vitórias em campeonatos e provas internacionais —o caso coloca dúvida sobre algumas dessas conquistas.

O somali naturalizado britânico Mo Farah levou seis títulos mundiais e quatro medalhas de ouro em Olimpíadas durante sua participação no projeto (ele saiu em 2017, após a divulgação das denúncias de dopping).

E faziam parte do time até o seu fim o americano Donavan Brazier, que venceu os 800 metros no Mundial de Doha, este ano, e Yomif Kejelcha, da Etiópia, que bateu o recorde de uma milha indoor no início de 2019.

Galen Rupp, medalhista nas maratonas de Londres (2012) e Rio (2016), é outro atleta que ficou no projeto até o fim. O americano morava em uma “casa de altitude” em Portland.

A cidade está a apenas 15 metros acima do nível do mar, mas um filtro de ar simulava níveis de oxigênio de altas altitudes para aumentar o nível de hemoglobina no sangue naturalmente, o que signifca maior capacidade respiratória aos corredores.

Tudo isso fazia parte do alto investimento em atletas de elite, principalmente americanos, que surgiu em uma conversa entre Salazar e o atual presidente de inovação da Nike, Tom Clarke, em 2001. Durante a Maratona de Boston, Clarke se incomodou com a euforia de um narrador com a sexta colocação de um americano na prova.

“As coisas ficaram tão ruins que estamos celebrando isso?”, questionou Clarke. Salazar disse, então, que poderia treinar atletas americanos para se tornarem novamente competitivos. Assim começou o Nike Oregon Project, que viu seu fim protagonizado pelo mesmo responsável de seu nascimento.