ECONOMIA

Riscos à independência do Fed geram alerta

Com seguidos ataques do presidente Donald Trump, tema marca discurso de dirigentes do BC dos EUA

Por ECONOMIA JB com Agência Estado
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Publicado em 27/09/2025 às 07:44

Alterado em 27/09/2025 às 07:44

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, durante coletiva de imprensa AFP/Eric Baradat

Por Aline Bronzati - Crescem, dentro e fora do Federal Reserve (Fed), os apelos sobre os riscos que ameaçam a independência da autoridade. Diante dos ataques constantes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o tema tem marcado os discursos dos dirigentes do BC americano tanto quanto as avaliações sobre o futuro da política monetária no país.

O presidente do Fed, Jerome Powell, subiu o tom nesta semana e classificou o julgamento de que o BC americano toma decisões políticas como golpe baixo. Segundo ele, o Fed nunca, jamais considerou consequências políticas ao tomar decisões de política monetária. “Muitas pessoas não acreditam em nós e dizem que estamos tomando decisões políticas, mas é só um golpe baixo”, disse Powell, ao ser questionado, em evento da Câmara de Comércio da região metropolitana de Providence na terça-feira passada.

Até a vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, que figura na lista de candidatos da Casa Branca para substituição de Powell no comando do BC americano a partir do ano que vem, disse que concorda “totalmente” sobre a importância da autoridade monetária tomar decisões independentes “em todos os aspectos”.

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, foi além e disse que o duplo mandato de emprego e inflação é “sagrado” e a “única coisa” que os dirigentes devem ter em mente ao tomar decisões de política monetária.

Além de pressionar Powell e colocar dentro do Fed seu principal assessor econômico, Stephen Miran, Trump iniciou uma ofensiva para tentar demitir a diretora Lisa Cook, acusada de fraude hipotecária. Em troca, teria mais uma cadeira para indicar um novo dirigente à autoridade, mais alinhado ao seu desejo de um corte agressivo de juros no país.

Questionado sobre a tentativa de Trump de demitir Cook, Goolsbee ressaltou que a independência do banco central é “criticamente importante” para as decisões monetárias. “Sabemos o que acontece quando governos interferem em decisões: a inflação sobe e a economia piora”, afirmou.

Em paralelo, ex-dirigentes do Fed e do Departamento do Tesouro se uniram para alertar quanto aos riscos de uma eventual destituição de Cook. Para eles, a demissão da diretora poderia “ameaçar a independência do Fed e erodir a confiança pública” na instituição. O alerta está em carta à Suprema Corte, assinada pelos ex-presidentes do Fed Ben Bernanke e Alan Greenspan e os ex-secretários do Tesouro Henry Paulson, Robert Rubin, Lawrence Summers, Timothy Geithner e Janet Yellen, entre outros.

No documento, que é assinado também por ex-presidentes do Conselho de Assessores Econômicos (CEA) da Casa Branca e outros economistas, eles defendem que “manter a independência do Fed é essencial para a saúde de longo prazo da economia”. A remoção de Cook “exporia o banco central a influências políticas, comprometendo a credibilidade e a eficácia da política monetária dos EUA”, avaliam.

Na semana passada, um Tribunal de Apelações rejeitou o pedido de Trump para destituir Cook. A Casa Branca, então, recorreu à Suprema Corte, solicitando uma ordem de emergência para afastá-la. Demitir Cook antes do julgamento definitivo “seria a primeira remoção de um diretor na história do país” e minaria a percepção de que a autoridade pode tomar decisões de longo prazo livres de ciclos eleitorais, disseram pesos-pesados da academia americana ao órgão.

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