ECONOMIA

Dois ex-diretores da Americanas fecham acordo de delação premiada

Conteúdo é sigiloso, mas os ex-executivos miram um único alvo: o ex-CEO da companhia, Miguel Gutierrez

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 16/08/2023 às 12:23

Alterado em 17/08/2023 às 07:53

As oportunidades não exigem experiência e os candidatos têm chances de efetivação Divulgação

Flavia Carneiro e Marcelo Nunes, dois ex-diretores da Americanas, farão uma delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF). A informação é dos colunistas Lauro Jardim e Malu Gaspar do jornal "O Globo".

As colaborações da ex-superintendente de controladoria da companhia e do ex-diretor financeiro do grupo foram homologadas nesta terça-feira (15) e são as primeiras a serem fechadas em relação à fraude de R$ 20 bilhões em balanços financeiros da empresa varejista.

O conteúdo da delação é sigiloso, mas, segundo Malu Gaspar, os ex-executivos miram um único alvo: o ex-CEO da companhia, Miguel Gutierrez. Os dois prestaram alguns depoimentos ao Ministério Público, com a presença da Polícia Federal e sob o acompanhamento da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM.

Além dos testemunhos, fazem parte do pacote da delação mensagens e documentos internos da empresa que indicam a participação de Gutierrez nas fraudes contábeis que omitiram do balanço mais de R$ 20 bilhões em dívidas.

As mensagens, trocadas entre executivos do grupo, indicam que Gutierrez pressionava os subordinados a inflar as receitas e os lucros da companhia.

CPI da Americanas

Na sessão desta terça-feira (15) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas, na Câmara dos Deputados, o procurador da República José Maria Panoeiro confirmou haver negociações de delações em curso:

"Temos em curso negociações de delações premiadas. No entender do MPF, para delitos que ocorrem no ambiente de empresas, muito dificilmente nós teremos acesso a estruturas decisórias. Precisamos saber concretamente quem atuava, quem interferia, tanto de blindagem com auditorias, quanto na divulgação falsa de balanços. A negociação que foi feita foi longa ", frisou ele.

Em junho, em depoimento à CPI, o atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, apresentou relatório apontando fraudes cometidas pela antiga gestão. Para esconder o rombo de R$ 20 bilhões causado pelas fraudes, foi usada uma engenharia complexa, baseada em verbas publicitárias fictícias combinadas à ocultação de dívidas para mascarar as manobras que inflaram o resultado da companhia em mais de R$ 25 bilhões.

Segundo esses documentos, participavam desse esquema o ex-CEO Miguel Gutierrez e os ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, além de outros três executivos: Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes.

Delações

A expectativa, segundo Lauro Jardim, é de "delações explosivas", trazendo revelações que comprometem diretamente ex-colegas de diretoria como responsáveis pela fraude. Isso poderia isentar de culpa o trio de acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Malu Gaspar, por sua vez, informa que Flávia e Nunes prestaram depoimentos ao MPF, em sessão que contou com a presença da Polícia Federal e o acompanhamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, a xerife do mercado acionário brasileiro). Constam do acordo, frisa a jornalista, mensagens e documentos internos da Americanas que revelam a participação de Gutierrez nas fraudes contábeis.

A defesa de Timotheo de Barros, ex-diretor de lojas físicas, logística e tecnologia da Americanas, diante da notícia do acordo de delação envolvendo Flávia e Nunes, manifestou surpresa "ao saber que ambos os diretores praticaram e confessaram fraudes, a possível mando de acionistas."

Em nota, assinada pelo escritório Moraes Pitombo Advogados, a defesa diz ainda que "se verdadeiras as confissões, acredita-se que os demais diretores não continuarão a sofrer a quantidade de imputações injustas em razão dos esclarecimentos de ilícitos do passado recente da companhia, inclusive."

Procurada, a Americanas não comentou.

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