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Brasil não tem mais espaço para estocar café, revela Bloomberg

AFP/Nelson Almeida -
Produção de café em São Paulo. Os estoques mundiais deverão apresentar alta de concentração do produto em 18% no período de 2020/2021
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Produção de café em São Paulo. Os estoques mundiais deverão apresentar alta de concentração do produto em 18% no período de 2020/2021 (Foto: AFP/Nelson Almeida)

Estoques de café no Brasil atingem seu máximo após quarentena ter reduzido consumo e clima propiciar boa safra do produto, escreve a Bloomberg.

Em 1929, com a crise da Bolsa de Valores de Nova York, o Brasil apresentou, principalmente na década de 30, grande estoque de café, resultado da redução do consumo no exterior devido à crise.

Para contornar o problema, o governo Vargas decidiu comprar a comódite e a queimar, para manter a dinâmica das exportações brasileiras.

Quase um século depois, o produto vive situação semelhante. Como exemplo, o estoque da empresa Dínamo em Franca (SP) atingiu seu limite, fazendo com que 90 caminhões lotados com a comódite estejam sem poder operar, esperando o descarregamento.

"Há apenas dois dias, eram 40 ou 50 caminhões [...] Estamos muito próximos de nossa capacidade máxima", declarou à Bloomberg Luiz Alberto Azevedo Levy Júnior, um dos diretores da Dínamo.

A situação tem feito com que os caminhoneiros esperem cerca de três dias para terem a carga removida, mesmo com a instalação trabalhando com duas horas extra todos os dias e abrindo nos finais de semana.

Quadro parecido tem se apresentado em outros estoques pelos estados de São Paulo e Minas Gerais.

"Nunca vi esta situação antes [...] Os agricultores haviam vendido seus grãos e agora eles querem saber onde entregar. Para os exportadores é uma situação mais difícil. Eles compraram o café e agora vão ter que encontrar espaço para armazená-lo", acrescentou Levy.

Razões do acúmulo

A grande quantidade de café nos estoques tem diferentes causas.

Segundo a mídia, os fazendeiros, encorajados pela alta dos preços em real venderam a maior parte da safra deste ano, ao mesmo tempo em que, devido à pandemia, restaurantes, cafeterias e estabelecimentos fecharam em todo o mundo, reduzindo o consumo.

Se por um lado a demanda caiu, os estoques no exterior também estão cheios, até mesmo nos EUA, segundo contou à Bloomberg Nick Gentile, sócio da empresa de consultoria NickJen Capital Management.

Os estoques mundiais deverão apresentar alta de concentração do produto em 18% no período de 2020/2021. Esta tendência de crescimento se dá há seis anos.

Por outro lado, Regis Ricco Alves, diretor da RR Consultoria Rural disse que "não há mais jeito de estocar mais café. Está levando de seis a sete dias para descarregar."

Os produtores de café já conseguiram vender 60% da safra, estimada em 68,1 milhões de sacas.

Contudo, o café brasileiro já vinha apresentando redução de sua exportação ainda em julho devido a problemas logísticos, incluindo a dificuldade de obtenção de containers, segundo Carlos Alberto Fernandes Santana, um dos diretores da Empresa Interagrícola, SA.

Como exemplo, refira-se a Cooperativa Minasul, a qual deverá exportar 20% menos café do que o planejado em setembro, segundo seu presidente, José Marcos Magalhães.

"Os atrasos já ultrapassam 15 dias e eles estão pedindo mais uma semana para tirar o café de nossos estoques [...] Os novos contratos de venda estão parados, a não ser que o vendedor tenha capacidade de estoque para mais de dez ou 12 dias", acrescentou Magalhães. (Com agência Sputnik Brasil)